DOUTORAMENTO | PHD THESIS
Permanent URI for this community
Browse
Browsing DOUTORAMENTO | PHD THESIS by Sustainable Development Goals (SDG) "10:Reduzir as Desigualdades"
Now showing 1 - 10 of 52
Results Per Page
Sort Options
- Ação social no ensino superior português : práticas, estratégias e impactos socioeconómicosPublication . Pereira, Raquel Ferreira; Sardinha, Boguslawa Maria Barszczak; Albuquerque, RosanaA educação e o ensino superior, em particular, constituem elementos chave para o desenvolvimento pessoal e social. Daí a importância de um sistema de apoios sociais que permita a todos os cidadãos, independentemente da sua origem socioeconómica, ter a oportunidade de usufruir dos seus múltiplos benefícios. A ação social constitui, assim, um veículo prioritário de promoção da igualdade de oportunidades e da equidade no ensino superior, especialmente num momento em que as instituições de ensino superior enfrentam novos e complexos desafios, que requerem novas e inovadoras respostas. O presente trabalho de investigação teve como principal objetivo identificar, caracterizar e analisar a importância da ação social no ensino superior português e os seus impactos socioeconómicos. Pretendeu-se, assim, caracterizar e compreender o sistema de apoios sociais para estudantes oriundos de agregados familiares economicamente desfavorecidos e os mecanismos ao dispor das instituições de ensino superior, no sentido de se procurarem novas respostas e sugestões demelhoria das políticas sociais e educativas, que garantam a melhor ação social possível aos estudantes com reais necessidades de apoio. Sendo a ação social uma realidade complexa, com múltiplos intervenientes e interesses, desde os estudantes bolseiros e respetivas famílias, passando pelos serviços de ação social, instituições de ensino superior, até aos decisores de políticas sociais e educativas, partiuse para esta investigação com uma perspetiva holística, próxima do paradigma interpretativo. Omodelo de investigação privilegiou ométodo indutivo, numa tentativa de abrir portas a novas perspetivas sobre a temática, ainda que combinado com o método dedutivo, o que implicou a adoção de uma pesquisa científica mista, com utilização simultânea de metodologias quantitativas e qualitativas. Os resultados do estudo corroboram a importância decisiva dos apoios sociais, por permitirem o acesso e participação no ensino superior a estudantes de origens socioeconómicas e educativas desfavoráveis, a maioria dos quais, sem estes apoios, ficariam excluídos. Os estudantes demonstraram estar cientes da importância destes apoios e dos seus impactos socioeconómicos, ao permitirem a sua frequência e conclusão. Evidenciaram a perceção clara dos seus potenciais benefícios, individuais e sociais, não apenas financeiros, mas igualmente na formação de uma cidadania mais consciente e participativa. Aspetos fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa, equitativa, coesa e sustentável. A análise efetuada permitiu identificar alguns aspetos em que o atual sistema de apoios poderia ser aperfeiçoado, daí que o estudo termine com um conjunto de recomendações e sugestões de melhoria dos apoios disponibilizados aos estudantes carenciados.
- Acessibilidade dos conteúdos educacionais online na perspectiva da experiência do aluno cegoPublication . Lisboa, Isolda Veronese Moniz Vianna; Rocha, Tânia; Barroso, JoãoA educação a distância proporciona acesso a conteúdos educativos de forma assíncrona, síncrona e livre de barreiras geográficas, permitindo que um grande número de pessoas, que de outra forma não poderiam estudar, deem continuidade à sua vida acadêmica. O acesso, no entanto, deve ser oferecido a todas as pessoas de forma igualitária – independentemente das suas capacidades e habilidades - e não limitado ao nível instrumental, proporcionando um modelo de qualidade dinâmico que atenda as necessidades do aluno usuário. As plataformas de e-Learning têm o potencial para melhorar a qualidade do aprendizado e aumentar o acesso à educação desde que estejam atentas às necessidades dos diversos tipos de usuários. Perceber a possibilidade de contribuir investigando a experiência do usuário cego na sua interação com conteúdos educacionais online foi um dos motivos que motivou esta pesquisa. Este estudo pretendeu pesquisar o perfil de acessibilidade dos conteúdos dos sites educacionais à distância – eLearning - das instituições de ensino a distânciabrasileiras na perspectiva da experiência do aluno cego ao interagir com os conteúdos educacionais online. A experiência do usuário aluno cego ao interagir com os conteúdos educacionais nas plataformas de e-Learning é positiva? Há limitações que se apresentam para que ele atinja seus objetivos e tenha suas necessidades preenchidas? Usamos para a obtenção dos dados questionários qualitativos e quantitativos online. Efetuamos uma avaliação UX global de forma a apresentar uma perspectiva, a mais completa que nos seja possível dentro desse universo, sobre a real experiência do aluno cego ao interagir com os conteúdos educacionais - e-Learning - nas instituições avaliadas. Identificamos dificuldades vivenciadas pelo aluno cego na sua interação e propusemos linhas de orientação caminhos para proporcionar uma experiência positiva e de qualidade. Ainda, identificamos a necessidade de uma maior conscientização daqueles envolvidos na educação a distância sobre tais dificuldades e desenvolvemos uma ferramenta, no formato de quiz, para este fim, a ser amplamente divulgada para este público.
- An tia : partilha ritual e organização social entre os Bunak de Lamak Hitu, Bobonaro, Timor-LestePublication . Sousa, Lúcio; Friedberg, Claudine; Rocha-Trindade, Maria BeatrizEsta tese etnográfica, realizada junto de uma comunidade montanhesa do grupo etnolinguístico Bunak, no subdistrito de Bobonaro, Timor-Leste, insere-se no campo de estudos sobre as sociedades do Sudeste Asiático. O seu objectivo, e singularidade consistem em analisar como é que, num contexto pós-conflito, uma comunidade se reconstitui, refazendo a sua organização social e as suas práticas rituais, no contexto das mudanças sociopolíticas ocorridas no passado recente. Na senda da tradição antropológica característica dos estudos da área, será dada particular relevância à forma como o ritual e a tradição oral dualista se relacionam enquanto ideologias estruturantes da comunidade – cientes, no entanto, da pluralidade de visões existentes no seu seio – e da sua inserção cosmológica. Mas, compete, igualmente, relacionar estes dois campos com a agência e a capacidade de adaptação que os indivíduos colocaram nas opções tomadas na reconstrução da sua comunidade, no momento actual, e as tensões que a perseverança dessa identidade coloca, face à modernidade, nomeadamente o Estado e a Igreja. A organização social e a prática ritual não podem deixar de ser contextualizadas nas relações de poder e autoridade que se jogam na comunidade dar-se-á particular relevo a esta dimensão já que a performance ritual é, na acepção local, eminentemente política, pois está associada à necessidade de impor ordem e definir estatutos. O trabalho foi desenvolvido numa perspectiva essencialmente emic, procurando confrontar as ideias e interpretações locais da comunidade com o mundo envolvente, nomeadamente a nova nação. Para o efeito, foi efectuado um trabalho de campo, que assume uma perspectiva diacrónica, tendo por base uma metodologia exploratória, qualitativa, com recurso a diversas técnicas de pesquisa como a etno-história, entrevistas semi-estruturadas e observação participante.
- Associativismo, capital social e mobilidade : contributos para o estudo da participação associativa de descendentes de imigrantes africanos lusófonos em PortugalPublication . Albuquerque, Rosana; Rocha-Trindade, Maria Beatriz; Carmo, HermanoOs resultados que se apresentam decorrem de um projecto de investigação sobre a participação associativa de descendentes de imigrantes de origem africana lusófona em Portugal. A problemática sobre a qual se delineou a pesquisa centra-se na compreensão do processo de participação cívica activa na sociedade portuguesa, mediante a análise dos factores que condicionaram o seu envolvimento em associações e das interacções entre a acção individual e o contexto sociopolítico. A questão central orientou-se em dois eixos, relacionados entre si: um primeiro, que procura identificar catalisadores da participação cívica; um segundo, tenta compreender o papel que a participação associativa desempenha na vida dos sujeitos participantes na pesquisa, especificamente no que respeita a trajectórias de mobilidade social. O associativismo é estudado enquanto instrumento de aquisição de capital social, pois permite o acesso a redes sociais que lhe são intrínsecas, e pelos efeitos que exerce em trajectórias de mobilidade individuais. A estratégia metodológica adoptada nesta investigação caracterizou-se pela abordagem qualitativa e a primazia do paradigma interpretativo. A matéria-prima empírica foi recolhida com base em histórias de vida, a partir de múltiplas entrevistas focalizadas nas trajectórias de dirigentes associativos, descendentes de imigrantes africanos lusófonos. A análise das trajectórias conduziu à elaboração de um sistema de catalisação da participação, que sublinha a influência recíproca entre factores estruturais e individuais. Confirma-se o papel do associativismo como fonte de capital social e de capital cultural e que a articulação de ambos favorece trajectórias de mobilidade social ascendente. Evidencia-se que o associativismo promove a socialização para a cidadania.
- Os avós na família e sociedade contemporânea : uma abordagem intergeracional e interculturalPublication . Rodrigues, João Paulo Vieira; Ramos, NatáliaO estudo sobre a importância dos avós na família e sociedade contemporâneas visa compreender qual o papel que os avós têm para a dinâmica familiar, quer como recurso quer como transmissão de saberes numa perspectiva intergeracional. Foram analisadas neste estudo 50 famílias, 25 famílias num contexto rural e 25 famílias num contexto urbano. Foram entrevistadas diferentes gerações ou seja, pais, mães, avós e avôs do mesmo núcleo familiar perfazendo um total de 200 entrevistas. Concluiu-se que os avós são um recurso familiar, social e económico imprescindível e são muito importantes na transmissão de valores sociais e culturais e no cuidar dos seus netos. Também a transmissão de saberes por parte dos avós, sobretudo das avós sobre os cuidados infantis, são uma mais-valia para as mães que estão a iniciar o seu projeto maternal. Na atualidade, os recursos de saúde disponíveis são melhores no entanto os recursos de saúde locais nem sempre dão resposta às necessidades dos pais e das mães. A utilização de cuidados tradicionais diminuiu, apesar de alguns ainda continuarem a ser utilizados pelas avós. Verifica-se uma diminuição intergeracional na importância e transmissão das práticas e valores religiosos dos pais, educação e na proteção infantil, apesar dos mesmos não se oporem a que os seus filhos frequentem as igrejas ou pratiquem a religião. A investigação sublinha a manutenção da importância do núcleo familiar para a qualidade de vida, bem-estar e crescimento harmonioso dos seus elementos, assim como da solidariedade familiar existente entre avós, pais e netos.
- Cidadania intercultural : uma utopia do presente? Lisboa em transição : do "Centro" de um Império Colonial Ultramarino para a semi-periferia no âmbito da União Europeia : a cidadania europeia e a emergência político-cultural das minorias étnicasPublication . Magalhães, Maria Inês de; Joly, Danièle; Rocha-Trindade, Maria BeatrizA contínua revolução tecnológica das comunicações e dos transportes tem contribuído para acelerar, progressivamente, o movimento migratório internacional das populações do planeta. No espaço europeu, a partir de meados da década de noventa, podem verificar-se algumas tendências de mudança demográfica e política tais como: o significativo aumento do número de pedidos de asilo político; o predomínio da reunificação familiar, a par da progressiva importância da migração temporária; a adopção de políticas que apoiaram a entrada de trabalhadores muito especializados e qualificados, em contraste com a persistência de uma imigração clandestina . O traço comum às variáveis comportamentais da mobilidade humana encontra-se na crescente diversificação de populações em relação aos respectivos países de proveniência . De entre os marcantes acontecimentos ocorridos no supracitado continente, nos últimos vinte e cinco anos, destacou-se, a dez de Novembro de 1989, também para os espectadores da informação televisiva portuguesa, o advento de uma nova (des)ordem mundial, simbolicamente representada pela queda do Muro de Berlim, a qual arrastaria consigo o fim da Guerra Fria, o colapso comunista europeu e a implosão do Bloco de Leste. A esta surpreendente reviravolta política seguir-se-ia a institucionalização da União Europeia acordada pelos governantes de doze Estados-Nação(ões), a partir da pré-existente Comunidade Económica Europeia/C.E.E, da qual Portugal era um dos Estados-membro, desde o dia um de Janeiro de 1986. Aquele superpoder parece desafiar, no presente, os limites do próprio Estado-Nação moderno ao criar, através do Tratado de Maastricht (1992), o inovador estatuto de cidadania europeia , alterando, ipso facto, o tradicional conceito político-cultural de cidadão nacional. Neste contexto, a recente evolução do conceito europeu de cidadania repercutiu-se também no Portugal pós-colonial dos últimos dez anos, devido a uma dupla transformação tendencial, ocorrida a partir da década de setenta e verificável a dois níveis : a nível macro-político (de baixo para cima, através da Sociedade Civil), com a Revolução Democrática de 25 de Abril de 1974 iniciou-se o fecho do ciclo da descolonização portuguesa e foi negociada (de cima para baixo, através dos representantes do Estado-Nação) a integração do país na, então, C.E.E.; a nível micro-político, o movimento associativo imigrante, em Lisboa, partindo da Sociedade Civil (de baixo para cima) esteve na origem da politização da etnicidade, ou emergência política de minorias étnicas, oficialmente reconhecidas pelo Estado (de cima para baixo) e designadas como tal, a partir dos anos noventa. Ainda no início deste último decénio, as políticas e estratégias, acordadas a nível intergovernamental naquele Tratado da União (1992) e reforçadas pelo Tratado de Amsterdão (1997), respeitantes às minorias étnicas, iriam condicionar, na perspectiva de um sistema político de oportunidades, as estratégias de apropriação de poder adoptadas pelas mencionadas minorias, desencadeando (numa vaga de fundo da sociedade civil e pela via das respectivas associações) da parte dos imigrantes/estrangeiros a progressiva reivindicação de uma expressiva participação política pública. Aquilo que neste trabalho se procura equacionar, numa abordagem teórica inter e transdisciplinar , é, antes de mais, a significativa mudança de paradigma político-cultural ocorrida no nosso país, no último quartel do século vinte, a qual pode ser constatada, partindo, por exemplo, da comparação de dois mapas portugueses oficializados naquele período: o mapa Portugal não é um País Pequeno, imposto e propagandeado, desde a década de cinquenta, pelo então Presidente do Conselho de Ministros, Professor Doutor António de Oliveira Salazar; o mapa negociado e divulgado pelos Estados-membros da União Europeia, aceite, no presente, pelo actual Primeiro Ministro, Engenheiro António de Oliveira Guterres. Debatendo os conceitos e modelos teóricos que serão utilizados no enquadramento desta problemática, pretende-se sobretudo verificar os respectivos limites e contradições, os quais desde logo condicionam o eficaz exercício dos direitos e deveres de uma cidadania participativa. Ao modelo conceptual tradicional de cidadão nacional, em vigor no passado próximo, contrapõe-se no presente o conceito de cidadão europeu (também designado por cidadão transnacional). Se a nível do imaginário humano, utópico portanto, este paradigma é passível de ser delineado, a nível legal e prático, a sua concretização torna-se pelo menos problemática. Em tais circunstâncias, algumas das perguntas que podem ser formuladas são, por exemplo, as seguintes: - As Nações serão fenómenos (político-) culturais primordiais como defendia, entre outros, Geertz (1973) ou, pelo contrário, caracterizar-se-ão pela especificidade histórica, fluidez e pluralidade (Hall, 1992; Kymlicka, 1995; Mark, 1998; Mattoso, 1998; Cross, 1999)? - Que relações estabelece o actual Estado de Direito Democrático (regime político assente, em simultâneo, na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na vontade expressa pela maioria) com as respectivas minorias étnico-culturais? - Encontrar-se-ão, no presente, em Lisboa, as ditas minorias étnicas particularmente marginalizadas, logo carentes de medidas políticas específicas, ou de afirmação positiva? Como todo e qualquer conceito, o conceito de cidadania é polissémico, variando também no espaço-tempo, logo de sociedade para sociedade. Desta forma, a análise das metamorfoses político-culturais que ocorreram, no caso português, a partir da década de cinquenta, parece ser particularmente significativa a fim de se tentar compreender a hodierna (re)interpretação conceptual . Em suma, esta tese de doutoramento (1997; 1999-2001) procurará analisar a situação político-cultural das minorias étnico-culturais residentes na capital portuguesa e europeia, Lisboa, nesta viragem de século e de milénio.
- Colá S. Jon, oh que sabe! : as imagens as palavras ditas e a escrita de uma experiência ritual e socialPublication . Ribeiro, José; Rocha-Trindade, Maria Beatriz; Piault, Marc-HenriQuando iniciei, no Bairro do Alto da Cova da Moura, o trabalho que deu origem a esta tese, apercebi-me que era ali que os tambores se poderiam reinventar, que os ritmos anteriormente vividos ou escutados se recriavam na batida do pilão, na forma de fazer rapé, no funaná, na música rap ou no Colá S. Jon. Foi neste contexto ambíguo de construções culturais simultaneamente reflexivas e experienciais que procurei uma estadia longa no terreno, a passagem para o interior do bairro, espaço-tempo da pesquisa, a construção de um objeto de estudo e de um percurso metodológico. A experiência de campo mostrava-se-me como um processo dialéctico e dinâmico, como construção dialógica e pragmática, através da qual trabalhava o terreno como um meio simultaneamente de comunicação e conhecimento e procurava encontrar nos métodos modos de reconstrução das condições de produção dos saberes. Residia aí o problema do espaço afetivo e intelectual, vital e ao mesmo tempo cognitivo, que é a observação de terreno enquanto diálogo e processo de palavra. Havia que ter em conta a experiência pragmática e comunicativa de terreno, através das resistências e da receção afável, dos mal entendidos e compromissos, dos rituais interativos, da tomada de consciência da observação do observador, que estão na base da construção e da legitimação do terreno como espaço-tempo da pesquisa. A inserção no terreno permitiu-me a viagem por muitos temas possíveis, por muitas áreas de investigação. O percurso realizado conduziu-me a este trabalho que constitui uma abordagem dos processos de produção e reprodução de um ritual cabo-verdiano, Colá S. Jon, na Cova da Moura, um dos bairros da periferia urbana de Lisboa. A tese é uma construção etnográfica, por comparação e contraste, de múltiplos fazeres, (re)fazeres a muitas vozes. Vozes dos que o fazem, repetem, dizem. Vozes do quotidiano ou escrita de poetas que o consideram, “prenda má grande dum pôve e que tá fazê parte de sê vida”(Frusoni). Saber dos antropólogos que o dizem “imagem e metáfora da forma como os cabo-verdianos se representam”, modo como se contam a si, para si, para os outros. É também representação de uma comunidade que se explica a si mesma, e ao explicar-se se constrói para si e para os outros a partir de dois eixos, de duas histórias que simultaneamente se cruzam e diferenciam: uma explicitada pelas palavras e simbolizada pela dança do colá, veiculando o contexto social e cultural das interações e dos processos sociais; outra sugerida pela dança do navio, representando a historicidade de um povo - o cruzamento dos destinos de homens e mulheres que atravessando os mares atraídos pela aventura, arrastados ou empurrados pela tragédia se juntaram e plantaram na terra escassa e pobre das Ilhas, no centro do Atlântico, daí partindo ainda hoje, numa repetição incessante do ciclo da aventura, da tragédia ou da procura, na “terra longe”, da esperança de uma vida melhor. A reconstituição do Colá S. Jon, fora do país de origem, confrontada com outras realidades sociais adquire, neste contexto, novas dimensões e sublinha outras já existentes. Adquire a forma elegíaca da recordação, espécie de realidade ontológica da origem fixada num tempo e num espaço; a de lugar de tensão dialéctica com a sociedade recetora no processo migratório e de consciência reflexiva da diversidade e alteridade resultante do encontro ou do choque com outra cultura; a de simulacro tornando-se objeto repetível, espetáculo em que ressaltam sobretudo a forma estética ou força dramática, um real sem origem na realidade ou produto de outra realidade, a da praxis ou conveniência política distante da participação dos seus atores. A tese coloca-nos perante o questionamento, o olhar reflexivo, da pesquisa antropológica: simultaneamente experiência social e ritual única, relação dialógica com os atores sociais, processo de mediação, de comunicação, e a consequente dimensão epistemológica, ética e política da antropologia. Coloca-nos também perante a viagem ritual - passagem ao terreno, à imagem e à escrita – e a consequente procura de reconhecimento e aceitação do percurso realizado. O processo de produção do filme Colá S. Jon, Oh que Sabe! completa-se com o da escrita, síntese de uma experiência e aparelho crítico do filme. Ambos tem uma matriz epistemológica comum. Resultam da negociação da diferença entre o “Eu” e o “Outro” e da complexa relação entre a experiência vivida no terreno, os saberes locais, os pressupostos teóricos do projeto antropológico. Ao mesmo tempo que recusam a generalização, refletem uma construção dialógica, uma necessária relação de tensão e de porosidade entre experiências e saberes, uma ligação ambígua entre a participação numa experiência vivida e a necessária distanciação objetivante que está subjacente em qualquer atividade de tradução ou negociação intercultural, diatópica.
- Comunidade política, imigração e coesão social: o caso portuguêsPublication . Costa, Paulo Manuel; Rosas, João Cardoso; Horta, Ana Paula BejaO presente trabalho é um contributo para entender em que medida a existência de múltiplas pertenças étnico-culturais na comunidade política é conciliável com a manutenção de uma comunidade socialmente coesa e politicamente unitária. Tendo em conta a realidade imigratória em Portugal, procurou-se saber quais os laços que ligam os imigrantes à comunidade política e em que medida eles podem ser mobilizados para a integração dos imigrantes num projecto comum de vivência em território nacional. Metodologicamente, este trabalho tem por base a análise qualitativa e quantitativa das políticas e medidas adoptados em Portugal em matéria de imigração, bem como, os resultados do trabalho empírico por nós realizado junto de dois grupos de imigrantes (brasileiros e cabo-verdianos) residentes na área metropolitana de Lisboa, assim como os resultados de um questionário enviado às associações de imigrantes. Os resultados da pesquisa apontam para a existência de uma certa ambivalência política no processo de integração dos imigrantes, a qual se reflecte de algum modo na forma como os nacionais e os imigrantes valorizam o contributo dos imigrantes para a sociedade portuguesa, sobressaindo uma ideia difusa generalizada de que os custos da imigração não compensam os seus benefícios, o que provavelmente afectará o relacionamento recíproco. Apesar de situações objectivas de desigualdade social e económica e da percepção de discriminação existente entre os imigrantes, é possível identificar uma progressiva universalização da cidadania e a aceitação formal das tradições religiosas e culturais dos imigrantes, mesmo não sendo o parlamento português representativo dessa diversidade. Deste modo, afigura-se ser possível assegurar direitos específicos de protecção das minorias étnicas e culturais sem que seja necessária a etnicização ou a culturalização da representação política e os princípios gerais que estruturam a comunidade política nacional poderão ser suficientes para assegurar essa protecção. No entanto, existem indícios que sugerem que o acesso dos imigrantes à esfera pública poderá não ser fácil, o que se poderá traduzir na visibilidade e na discussão pública das suas reivindicações, com consequências a nível do tipo de políticas de integração adoptadas em Portugal.
- Conta-me um conto : um processo intercultural de conscientização e de aprendizagem ao longo da vidaPublication . Cardoso, Ricardo Jorge Rodrigues; Moreira, DarlindaOs projetos de educação centrados na promoção da autonomia e emancipação dos mais vulneráveis aparecem cada vez mais associados a um processo de contínua intervenção, onde a educação assume, por excelência, uma posição de mudança e de intervenção social. Através da planificação de ações concretas com grupos e comunidades que estão numa situação de fragilidade social, este trabalho de investigação aborda as potencialidades que as ações educativas, circunscritas num projeto de intervenção social, podem ter para a transformação da realidade dos adultos envolvidos. Com duas experiências educativas construiu-se, numa linha metodológica de investigação-ação participativa, um projeto de educação e intervenção social que permitiu simultaneamente conhecer, planificar, transformar, observar e refletir sobre o aumento da consciência crítica e autonomia de seis mulheres socialmente vulneráveis. O educador, aqui também investigador, promoveu espaços democráticos onde as participantes tiveram oportunidade de reinventar e partilhar narrativas e histórias de vida. Testemunhou-se o aumento da consciência que as participantes tinham de si próprias, numa partilha intercultural das suas experiências com outros elementos, bem como se promoveu um processo de aquisição de conhecimento numa perspetiva de aprendizagem ao longo da vida. Obteve-se ainda participação ativa de todas as mulheres, que foi aumentando ao longo de toda a investigação, resolução de problemas situacionais, aumento da consciência crítica face à diversidade social existente, maior aceitação face às diferenças dos outros e promoção de laços de solidariedade.
- Contributos da aprendizagem ao longo da vida através do modelo pedagógico b-learning no processo de envelhecimento ativoPublication . Jorge, Sandro Miguel; Vieira, Cristina Pereira; Martins, Maria ManuelaNo atual quadro de alterações demográficas várias entidades preconizam o envelhecimento ativo, enquanto estratégia mitigadora de impactos multidimensionais e como garantia de resposta, sobretudo, a três grandes desafios: à magnitude do envelhecimento demográfico, à complexidade da sua heterogeneidade, e à urgência da mobilização de respostas integradas e qualificadas. No quadro do desenvolvimento massivo e acelerado da mobilidade digital, verifica-se significativas alterações no modo como pensamos, agimos e vivemos, ocupando um espaço cada vez mais quotidiano entre as pessoas idosas, coexistindo evidentes impactos socioculturais, educativos e económicos. O objetivo desta investigação é compreender de que modo a aprendizagem ao longo da vida através do modelo pedagógico b-learning, pode contribuir para a promoção do envelhecimento ativo. Foram avaliados impactos em alunos das Universidades Seniores da Região Autónoma dos Açores, que participaram no curso ALV B’SÉNIOR. Metodologicamente, optamos pelo estudo de caso, combinando várias fontes de dados, com recurso à entrevista semiestruturada, observação participante, inquérito por questionário e inquérito de satisfação. Os resultados demonstram que o curso, ALV B’SÉNIOR, contribuiu para o desenvolvimento intrapessoal, potenciou competências pessoais e digitais, promoveu multiliteracias e favoreceu múltiplas estratégias de autopromoção de envelhecimento ativo, conferindo uma potencial via inovadora de sustentabilidade social. O cenário de aprendizagem em ambiente presencial foi o que reuniu maiores níveis de satisfação, quando comparado com o ambiente a distância (e-learning). Destacam-se potencialidades da integração de alunos séniores em processos de aprendizagem em ambientes híbridos, constituindo um importante preditor de envelhecimento ativo. Emerge assim, a necessidade da mobilização de entidades públicas e privadas na implementação de medidas integradas e sustentáveis, que promovam a coconstrução de uma sociedade mais plural, solidária e inclusiva.