Sustentabilidade Social e Desenvolvimento | Social Sustainability and Development
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- Ação social no ensino superior português : práticas, estratégias e impactos socioeconómicosPublication . Pereira, Raquel Ferreira; Sardinha, Boguslawa Maria Barszczak; Albuquerque, RosanaA educação e o ensino superior, em particular, constituem elementos chave para o desenvolvimento pessoal e social. Daí a importância de um sistema de apoios sociais que permita a todos os cidadãos, independentemente da sua origem socioeconómica, ter a oportunidade de usufruir dos seus múltiplos benefícios. A ação social constitui, assim, um veículo prioritário de promoção da igualdade de oportunidades e da equidade no ensino superior, especialmente num momento em que as instituições de ensino superior enfrentam novos e complexos desafios, que requerem novas e inovadoras respostas. O presente trabalho de investigação teve como principal objetivo identificar, caracterizar e analisar a importância da ação social no ensino superior português e os seus impactos socioeconómicos. Pretendeu-se, assim, caracterizar e compreender o sistema de apoios sociais para estudantes oriundos de agregados familiares economicamente desfavorecidos e os mecanismos ao dispor das instituições de ensino superior, no sentido de se procurarem novas respostas e sugestões demelhoria das políticas sociais e educativas, que garantam a melhor ação social possível aos estudantes com reais necessidades de apoio. Sendo a ação social uma realidade complexa, com múltiplos intervenientes e interesses, desde os estudantes bolseiros e respetivas famílias, passando pelos serviços de ação social, instituições de ensino superior, até aos decisores de políticas sociais e educativas, partiuse para esta investigação com uma perspetiva holística, próxima do paradigma interpretativo. Omodelo de investigação privilegiou ométodo indutivo, numa tentativa de abrir portas a novas perspetivas sobre a temática, ainda que combinado com o método dedutivo, o que implicou a adoção de uma pesquisa científica mista, com utilização simultânea de metodologias quantitativas e qualitativas. Os resultados do estudo corroboram a importância decisiva dos apoios sociais, por permitirem o acesso e participação no ensino superior a estudantes de origens socioeconómicas e educativas desfavoráveis, a maioria dos quais, sem estes apoios, ficariam excluídos. Os estudantes demonstraram estar cientes da importância destes apoios e dos seus impactos socioeconómicos, ao permitirem a sua frequência e conclusão. Evidenciaram a perceção clara dos seus potenciais benefícios, individuais e sociais, não apenas financeiros, mas igualmente na formação de uma cidadania mais consciente e participativa. Aspetos fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa, equitativa, coesa e sustentável. A análise efetuada permitiu identificar alguns aspetos em que o atual sistema de apoios poderia ser aperfeiçoado, daí que o estudo termine com um conjunto de recomendações e sugestões de melhoria dos apoios disponibilizados aos estudantes carenciados.
- Assessment of sustainability implementation in public policies and strategies in portuguese public universitiesPublication . Farinha, Carla; Caeiro, Sandra; Azeiteiro, UlissesResumo alargado: No cumprimento da sua missão a UNESCO teve, desde a sua criação em 1945, como uma das suas preocupações colocar a qualidade da educação na base do desenvolvimento, abordando-a através de uma visão holística como meio para a promoção da paz, da erradicação da pobreza e como impulsionadora do desenvolvimento e do diálogo intercultural. A educação é um pré-requisito para promover alterações comportamentais e fornecer as competências para o Desenvolvimento Sustentável (DS) na medida em que permite a igualdade de oportunidades entre classes, géneros, e crenças ainda que o conceito de Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS), que nasceu após a Conferência de Joanesburgo em 2002, deva ser enquadrado a nível local e temporal. A recomendação da adoção da Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (UN DEDS) 2005-2014, tem por objetivo integrar, num quadro temporal definido os princípios, os valores e as práticas do DS a todos os aspetos da educação e da aprendizagem. Uma boa parte destas responsabilidades recai sobre as Instituições de Ensino Superior (IES), que têm assim uma acrescida responsabilidade moral na consciencialização, no alargamento do conhecimento, e no desenvolvimento das competências e dos valores de um futuro sustentável e justo. O papel que as IES podem desempenhar na educação integrada para a EDS é um dos grandes desafios na transição para um futuro mais sustentável. Para tal, espera-se das IES que, na sequência do caminho que têm vindo a trilhar, continuem a assumir o seu papel central na mudança de paradigma de forma a permitir às gerações atuais e futuras viverem de modo mais saudável e em harmonia e respeito com a Terra, que tem recursos finitos e limites biofísicos que têm sido demonstrados de forma evidente e incontornável. Dados assentarem nos três pilares do “triângulo do conhecimento”: Ensino, Investigação e Inovação, as IES são, neste quadro, absolutamente fundamentais. Muitas Declarações e Compromissos foram assinados. A assinatura e comprometimento dos líderes das IES, tornando-as verdadeiros catalisadores do DS, são consideradas um sinal promotor da sustentabilidade, como se constata através de diversas Declarações pré-DEDS 2005-2014: Talloires (1990), Halifax (1992), Quioto (1993), Swansea (1993), Copernicus (CO-operation Programme in Europe for Research on Nature and Industry through Coordinated University Studies) (1994), Global Higher Education for Sustainability Partnership (GHESP) (2000), Luneburgo (2001) e Barcelona (2004). A Declaração de Talloires, de 1990, foi o primeiro ato oficial de compromisso do ensino superior com o DS para que este se assuma como agente de mudança na incorporação e disseminação da sustentabilidade. Em 1994, a Declaração Copernicus, assinada por 196 universidades, foi entendida como o compromisso da gestão de topo das IES com o DS com vista a preservar o ambiente e à promoção do DS. É importante conhecer-se o perfil e nível de compromisso das universidades em todo o mundo, em particular na Europa, continente onde se encontram as mais antigas instituições, e tendo em conta o seu papel como líder nas estratégias e políticas de implementação da sustentabilidade no ensino superior. Não existe atualmente em Portugal um estudo sistemático que permita conhecer o perfil das IES, em particular das universidades públicas, e identificar pistas e boas práticas para a sua melhor implementação. Este facto leva a questionar de que forma e em que termos foi integrada a sustentabilidade nas estratégias institucionais no ensino superior universitário em Portugal, nomeadamente nos planos, programas e políticas do Governo e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) e nas estratégias e práticas das Instituições de Ensino Superior Universitário Público (IESUP) como balanço da DESD 2005-2014. O objetivo geral deste trabalho foi avaliar de que forma a sustentabilidade foi integrada nas Instituições de Ensino Superior Universitário (IESU) público em Portugal, através das suas estratégias institucionais, no âmbito dos objetivos da UN DEDS 2005-2014. Os objetivos específicos, que estão organizados por ordem cronológica e de forma a responder ao objetivo geral, foram: (i) Avaliar a integração da sustentabilidade nos planos, programas e políticas do Governo português e do MCTES; (ii) Avaliar a integração da sustentabilidade nas estratégias e políticas das catorze IESUP na perspetiva de alguns dos atores chave com impacto no processo de decisão; (iii) Analisar as ações e as (boas) práticas nas IESUP onde tenha sido identificada a aplicação de estratégias, políticas para a sustentabilidade com vista a avaliar e definir um perfil do país; e (iv) Propor um modelo de inclusão de melhorias de sustentabilidade (think tank de iniciativas) nas estratégias e políticas das IESUP, com vista a aumentar, transferir o conhecimento e partilhar as (melhores) práticas integradas entre as Instituições de ensino superior portuguesas. Esta investigação segue um desenho de investigação baseado no estudo sobre as catorze universidades públicas em Portugal, de acordo com uma abordagem maioritariamente dedutiva (onde se recorreu em parte à Grounded-Theory), com métodos mistos, embora maioritariamente qualitativos, utilizando análise de documentação (dados secundários) e entrevistas semiestruturadas (dados primários). Como primeiro passo, foi realizada uma revisão da literatura e reflexão crítica sobre diversos documentos de origem governamental e do Ministério (MCTES) recolhidos e organizados cronologicamente. Para a análise de conteúdo foi utilizada o software NVivo, cujo objetivo foi avaliar se nos programas e políticas do Governo em geral e, especificamente, do MCTES, a sustentabilidade foi integrada nas universidades públicas, e em caso afirmativo, de que forma, em particular durante a DEDS 2005-2014. Seguidamente, realizou-se um estudo exploratório de acordo com uma abordagem qualitativa através de entrevistas semiestruturadas com atores chave com impacto no processo de decisão de implementação da sustentabilidade nas universidades públicas portuguesas. Esta fase visou obter mais informação sobre planos, políticas e programas não acessíveis ou não tornados públicos, que de outra forma estariam fora do nosso alcance, bem como obter indicações relativamente às barreiras sobre a implementação da EDS nas universidades públicas. Na terceira fase procedeu-se à análise, ao nível de cada uma das instituições, do conteúdo de planos estratégicos, planos e relatórios de atividades e relatórios de sustentabilidade (PEs, PAs, RAs e RSs, respetivamente) das catorze IES, o que foi essencial na avaliação de uma primeira definição do perfil do País no que respeita à implementação da sustentabilidade no sector da educação superior. Por último, foram realizadas entrevistas semiestruturadas (ainda que na primeira parte do guião a entrevista indiciasse uma entrevista estruturada) aos atores com papel relevante na integração da sustentabilidade em cada uma das universidades. O objetivo foi o de listar as diferentes ações implementadas, bem como de que forma se ultrapassaram as barreiras, quer durante a UN DEDS 2005-2014 quer na atualidade (2018), e ainda conhecer os desafios que se anteveem para as universidades. Foram, igualmente, discutidas iniciativas e boas práticas por parte de quase todas as IES. Verificou-se assim que, ao longo da DEDS 2005-2014, houve alguma insuficiência quer de orientações estratégicas quer de políticas nacionais respeitantes à implementação da EDS no ensino superior emanadas quer do Governo quer do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Estes resultados decorrem quer da análise de documentos quer das entrevistas a atores chave. Ainda que o Programa Massachusetts Institute of Technology (MIT) Portugal tenha sido um bom exemplo de compromisso político e estratégico de aplicação de sustentabilidade no ensino superior, com a criação de Mestrados (MSc) e Doutoramentos (PhD), este focou-se maioritariamente na área da energia. O mesmo se pode dizer do programa de Eficiência Energética na Administração Pública (Eco.AP), um outro bom exemplo do envolvimento Ministerial, cujo papel é o de avaliar e implementar medidas para melhorar e reduzir o consumo energético nas universidades. Os resultados obtidos sugerem que a UN DESD 2005-2014 não foi considerada em si mesma uma motivação para a incorporação da sustentabilidade nas universidades, tal como a assinatura de declarações formais não foram nem condição necessária nem suficiente para tal. Foram as Universidades, por sua iniciativa, que protagonizaram o seu próprio movimento de implementação, tendo sido possível recolher no seu conjunto bons exemplos e iniciativas. Da análise de documentação das universidades públicas portuguesas no período da DEDS 2005-2014, constata-se que estas integraram a sustentabilidade nas suas políticas e estratégias principalmente através das dimensões “operações no campus”, “alcance e colaboração” e “DS através de experiências no campus”, através de múltiplas e diferentes ações, algumas delas não circunscritas a uma única universidade. Quando, para efeitos desta investigação, se procedeu à realização de entrevistas aos atores com papel relevante na temática da sustentabilidade nas universidades públicas e se questionou quer o período da década quer o ano de 2018, as dimensões que surgem como relevantes na integração da sustentabilidade, e sem alteração entre momentos, são: (i) “operações no campus”, (ii) “educação”, (iii)“alcance e colaboração”, (iv) “investigação” e, só depois, (v) “DS através de experiências no campus”. As ações das universidades relacionadas com a EDS mostram que as ações relacionadas com EDS foram realizadas de forma “isolada” e não de forma integrada de acordo com a “whole institution approach” da Organização das Nações Unidas. Realce-se a exceção de parcerias no DS, nos projetos de investigação, publicações, colaboração em projetos de desenvolvimento sustentado (DS) e financiamento para a investigação. Foi, ainda, possível conhecer as (melhores) práticas nas universidades públicas onde, apesar de existirem áreas chave onde as IES, não obstante barreiras como a falta de recursos financeiros e humanos e da falta de enquadramento de políticas governamentais, enfrentaram os desafios no âmbito da sustentabilidade. Através deste estudo foi possível chegar a uma definição de perfil do País para a implementação da sustentabilidade no sector da educação superior, em particular nas universidades públicas, sendo proposta uma plataforma de diálogo e partilha - Sustainability4U - com vista a potenciar a aprendizagem do tema no seio da comunidade das IES. Esta plataforma Sustainability4U é uma proposta de iniciativas para ampliar e transferir o conhecimento, bem como para partilhar as (melhores) práticas integradas entre as IES portuguesas, sejam elas universidades ou politécnicos. Os desafios à implementação do DS estão relacionados com iniciativas: (i) ao nível governamental e institucional, como sejam um maior financiamento e uma maior regulamentação governamental, mas também com (ii) iniciativas ao nível das próprias IES. São necessárias estratégias para a implementação do DS nos planos institucionais, na criação de um gabinete dedicado à EDS nas universidades ou nas faculdades onde tal estrutura não exista e na criação de competências transversais em DS acessíveis a todos os estudantes, através de disciplinas e/ou cursos para promover a transdisciplinaridade. O propósito é que o DS seja parte integrante da cultura da universidade e crie um fator multiplicador na instituição e na sociedade não só a longo prazo, como também no futuro próximo. Em 2018 foi criada a “Rede Campus Sustentável” entre os membros da comunidade das IES (universidades e politécnicos) com vista à partilha de conhecimento e experiências, mas igualmente para levar a gestão de topo a assinar uma carta de compromisso baseada na Declaração de Copernicus e na Estratégia Nacional para a Educação Ambiental (ENEA). Esta Iniciativa mostra não só um compromisso da comunidade académica portuguesa como um bom exemplo de uma abordagem “bottom-up”. O compromisso para a implementação de políticas públicas nas universidades é crítico para que o processo seja efetivo no que respeita à EDS inclusivo. Consequentemente, há uma necessidade premente de alterar o paradigma nas universidades portuguesas e ainda debelar alguns obstáculos. * * * Este estudo apresenta algumas limitações, nomeadamente o escasso número e qualidade de documentos originários de fontes Governamentais e Ministeriais ou mesmo da Sociedade Civil (capítulo 1) aplicáveis à temática (DESD 2005-2014). Poder-se-á considerar que este facto denota uma falta de compromisso por parte das instituições governamentais face à EDS. No entanto, nada se pode referir com acuidade sobre a representatividade da amostra dado que, apesar dos elevados esforços desenvolvidos, e ainda que não tenham recolhido mais documentos, eles poderiam existir e não estar disponíveis e/ou alcance dos investigadores. No que concerne às perceções dos atores chave (capítulo 2) face à implementação da EDS o estudo poderia ter sido enriquecido com a opinião do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Secretários de Estado e de pelo menos mais um responsável do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), nomeadamente o líder de 2010 a 2014. No entanto, tal não foi possível em tempo útil, apesar dos melhores esforços. A amostra por ser de conveniência não permite que os resultados sejam generalizados para o sistema de ensino superior português, não só devido ao escasso número de entrevistados (sete de uma amostra de quinze), mas também devido à sua natureza (provenientes do governo, academia e sociedade civil). No entanto, o objetivo das entrevistas com atores chave serviu para confirmar a análise prévia de documentos oficiais e cada entrevista foi muito completa, permitindo aproximação à saturação de informação, o que significa que informação adicional recolhida forneceria eventualmente poucos dados novos. Para o período em causa (2005-2014), as principais universidades publicaram toda a documentação necessária para tratamento e análise (capítulo 3). Ainda assim, teria sido importante aceder a um maior número de documentos publicados ou disponíveis, relativamente a algumas universidades. Para tal, foram envidados esforços para obter informação adicional quer através dos websites, quer por contacto direto com os técnicos e/ou centros de documentação. O método por convite direto da entrevista forneceu boas respostas (capítulo 4), mas (em alguns casos) pode não ter sido entrevistada a pessoa ideal no sentido de ser aquela com o maior conhecimento dos esforços de implementação da sustentabilidade e/ou de atividades na sua instituição. O guião de entrevista foi desenvolvido para ser compreendido por todos os respondentes e cobrir um largo espectro de temas. No entanto, pode ser difícil para um entrevistado ter um conhecimento adequado e suficiente de todos os tópicos e temas em causa. Pretende-se em desenvolvimentos futuros pôr em prática a plataforma Sustainability4U, não só entre as IES portuguesas, mas igualmente a nível europeu e internacional, baseado no estudo de caso de país do sul da Europa, Portugal. Regiões ou perfis semelhantes podem aprender com esta experiência, ganhando experiência com a forma como os obstáculos foram ultrapassados. O conhecimento do perfil detalhado das Universidades pode ser ainda alargado a todas as IES em Portugal.
- Avaliar a sustentabilidade social contributos: para a estruturação e aplicação empírica de um modelo de avaliaçãoPublication . Martins, João José de Almeida; Albuquerque, Rosana; Martinho, Ana PaulaA presente tese de doutoramento tem como tema e objeto central o conceito de sustentabilidade social e a procura da sua operacionalização num modelo de avaliação da sustentabilidade social, orientador e pró-ativo, que avalie, mas também promova, a sustentabilidade das ações planeadas (políticas, planos, programas ou projetos). A partir de uma perspetiva crítica e emancipatória, analisa-se o processo de construção da conceção dominante de desenvolvimento sustentável, as suas principais características e as contradições estruturais que comporta. A análise é então centrada na noção de sustentabilidade social, em busca de uma clarificação do seu significado. Da análise crítica de várias propostas de definição e de operacionalização da noção, bem como de outras perspetivas, conceções e propostas, como os direitos humanos, o capability approach de Amartya Sen e Marta Nussbaum, a perspetiva do buen vivir, e a atualização do conceito aristotélico de florescimento desenvolvida pela corrente do realismo crítico, resultou uma proposta, aberta, de conceção de sustentabilidade social como processo relacional de florescimento humano, e como processo de cuidar, compreendendo, necessariamente, uma dimensão atual e uma dimensão utópica, entendendo como utopia, seguindo Karl Manheim, a procura da concretização de futuros desejáveis, emancipatórios e realizáveis, num horizonte de possibilidades. Esta proposta foi configurada num conjunto de princípios de sustentabilidade social e de objetivos de sustentabilidade social procurando integrar e expressar a articulação das dimensões individual e relacional, de estrutura e agência, objetiva e subjetiva. Este conjunto de princípios e objetivos, de natureza ética, constitui uma base matricial para a orientação normativa da ação prática e, concomitantemente, de referencial de valores para a avaliação da sustentabilidade social das ações planeadas. Tendo como referência o campo da avaliação da sustentabilidade, é proposto um modelo de avaliação e promoção da sustentabilidade social de projetos, com contributos ao nível dos fundamentos teóricos, do processo metodológico, das dimensões de sustentabilidade social, da definição do âmbito e dos critérios de avaliação.
- Biodiversidade, serviços de ecossistema, ecologia da paisagem e biologia da conservação: transposição didática e conceções do corpo docente e discentePublication . Silva, Rosa Estela Tomás Coelho da; Azeiteiro, Ulisses; Martinho, Ana PaulaAs mudanças climáticas, a escassez de água potável, a perda de biodiversidade, a ação moduladora do Homem sobre a paisagem, a necessidade de conservação dos ecossistemas, a iliteracia, entre outros, constituem indícios de que o ambiente continua frágil, apesar de nas últimas décadas, os esforços da educação, em geral, e da Educação Ambiental (EA) e de outras temáticas transversais, em particular. A comunidade internacional tentou, entretanto, ir apontando soluções de se enfrentarem esses desafios, como por exemplo a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS). A presente dissertação visa responder à necessidade de levantamento das conceções em Literacia em Biodiversidade, LB, dos discentes e dos docentes de uma escola secundária no grande Porto com recurso a um inquérito por questionário escrito, e uma entrevista, aos docentes, que constituirá́ a base metodológica, aferindo, assim, a viabilidade da sua implementação. Através destes instrumentos, procurar-se-á conhecer os conhecimentos prévios dos discentes e docentes, no que concerne à sua Literacia em Biodiversidade. A análise dos dados dos questionários foi realizada sob a metodologia quantitativa, optando-se pelo estudo descritivo, correlacional e comparativo, por forma a responder aos objetivos estabelecidos. Os resultados obtidos sugerem que embora os docentes e discentes conheçam alguns dos conceitos, existe algum desconhecimento global sobre algumas das temáticas em estudo. Com os resultados obtidos com os alunos de 10 º ano de Ciências e Tecnologias, após a atividade outdoor, podemos sumarizar dizendo que as atividades são benéficas pois melhoram e estimulam as aprendizagens efetuadas em matéria de LB, fazem com que a aquisição dos conteúdos estudados ocorra de modo significativo, na maioria dos casos, e também ao nível das competências atitudinais, em suma melhoram a LB. Os resultados são o reflexo das estratégias usadas para a lecionação dos temas, do meio em que a escola se insere, dos modos de vida dos alunos e da importância que estes atribuem à cultura ao ambiente e, particularmente, à Biodiversidade. O incremento da Literacia em Biodiversidade, dos alunos possibilita cidadãos capazes de tomarem decisões informadas e responsáveis, que compreendam as inter-relações entre as ciências, a tecnologia, a sociedade e o ambiente, necessária para o futuro sustentável da Terra. Os docentes reconhecem a importância destas temáticas, apresentam uma visão clara do papel da educação em prol da sustentabilidade, com enfoque na Literacia em Biodiversidade, mas prevalecem questões de ordem temporal, programática e outras que condicionam a implementação destas competências em determinadas áreas disciplinares. Face a este contexto, terão que existir mudanças significativas nos programas das diferentes disciplinas, nas estratégias utilizadas, formação específica nestas áreas do saber, para os levar a refletir e incutir nos estudantes um espírito crítico sobre os saberes e sobre o seu lugar na sociedade e o futuro que estão a construir, que terá que ser necessariamente sustentável.
- As cheias na bacia hidrográfica do rio Vez durante os Séculos XX e XXI e a sustentabilidadePublication . Gonçalves, Maria da Glória Salgado; Trindade, Jorge; Ramos, CatarinaEste estudo investiga os registos históricos das cheias na bacia hidrográfica do rio Vez (BHRVez) entre 1900 a 2015. As principais fontes de informação utilizadas foram: os dados dos Censos, do Instituto Nacional de Estatística; os valores diários do caudal médido na estação hidrométrica de Pontilhão de Celeiros e de precipitação da estação udográfica de Casal Soeiro, para o período compreendido entre 1959 e 1990, ambas localizadas na BHRVez; a imprensa periódica regional, especificamente da região de Arcos de Valdevez; cartografia militar do Centro de Informações Geoespaciais do Exército foi usada para georreferenciar "pontos de cheia". O concelho de Arcos de Valdevez ocupa 247,16 km2 de um total de 262,03 km2 da BHRVez, que inclui também os municípios de Paredes de Coura, Ponte de Lima, Ponte da Barca, Monção e Melgaço. Este estudo levou em conta o histórico de cheias no BHRVez. Os registos foram construídos com informações da imprensa periódica regional e validados com os dados de fluxo (Q) e precipitação (P) (método percentual P 90 e P 95). O valor do Q mínimo calculado segundo o método P 90 do mês de maior fluxo (fevereiro), Q = 43,5 m3/s, foi considerado ligeiramente superior ao P 95 de toda a série de valores (40 m3/s). O valor da precipitação, P ≥ 38,6 𝑚𝑚 (maior que P 90), foi considerada como o menor valor para eventos de cheia. Estes valores foram validados contra a imprensa periódica. Foram aplicados 67 questionários correspondentes a 3 % da população de áreas urbanas de oito paróquias. A probabilidade de cheia / ano para a BHRVez foi determinada pela distribuição de Poisson. A mesma distribuição foi aplicada a um dis locais críticos, a Valeta. Desenvolvera-se três modelos para obter indicadores hidrológicos de cheia determinados por regressão linear e validados pelo teste Qui-quadrado: o modelo de alerta de cheia baseado nos dados do limiar de fluxo (Q ≥ 43,5m3/s); o modelo de suscetibilidade física simplificada a cheias, baseado na ordem hierárquica de Strahler (1951) e na ordem de magnitude Shreve (1966); e o modelo de sustentabilidade hidrológica. Verificou-se que as Freguesias/União de Freguesias mais próximas do canal principal do rio Vez foram mais afetadas de acordo com a suscetibilidade às cheias e menos sustentáveis. As Freguesias/União de Freguesias montanhosas mostraram-se mais sustentáveis. Os indicadores de alerta de cheia, suscetibilidade e sustentabilidade, bem como a base de dados de eventos de cheia (eBd), são considerados ferramentas cruciais para a tomada de decisões.
- As cidades educadoras e o desenvolvimento local : caminhar para a sustentabilidade : um estudo de caso no município de LeiriaPublication . Frazão, Celeste; Amador, Filomena; Macías, EscolásticaA maioria das cidades nas últimas décadas, passou por processos de crescimento intensos, ligados à expansão da atividade económica e a migrações populacionais, confrontando-se atualmente com uma série de problemas, a nível educativo, ambiental e social, que têm posto em causa a qualidade de vida dos cidadãos. Neste sentido, torna-se pertinente refletir sobre a Educação para o Desenvolvimento Sustentável com incidência em projetos com capacidades para mudar mentalidades e comportamentos, como o Movimento das Cidades Educadoras. Este projeto com caráter internacional e multicultural, da responsabilidade dos municípios que o subscrevem, visa criar condições ao estabelecer estratégias de cooperação a nível local e mobilizar recursos de caráter público e privado, centrado na ideia da cidade como espaço educativo. Exige-se a criação de novas formas de governança, assim como a promoção de dinâmicas que possam produzir efeitos económicos, sociais e ambientais, que permitam caminhar para a sustentabilidade. Nesta sequência, equacionamos o nosso problema em redor das implicações da adesão do Município de Leiria ao Movimento das Cidades Educadoras no domínio de uma Educação para o Desenvolvimento Sustentável. Analisam-se e interpretam-se os discursos de diversos intervenientes envolvidos no Movimento das Cidades Educadoras para compreendermos o seu impacto a nível local. A nível metodológico privilegia-se o paradigma qualitativo, expresso na forma de estudo de caso e centrado no Município de Leiria. Para além da análise documental, parte significativa dos dados foi recolhida através de entrevistas semiestruturadas, posteriormente transcritas e objeto de análise de conteúdo. O trabalho de interpretação realizado permitiu identificar convergências e divergências entre instituições escolares e o Município de Leiria e sugerem caminhos de atuação não só a nível local, como também a um nível mais geral, relacionado com o próprio Movimento das Cidades Educadoras.
- Comportamento de consumo de trabalhadores independentes de baixa renda no contexto da Covid-19: um estudo na cidade do Rio Grande-RS, BrasilPublication . Serra, Maria de Fátima da Silva; Ferreira, Célia; Amaro, FaustoEsta investigação foi orientada pela metodologia da teoria fundamentada em dados empíricos (Grounded Theory), e contempla informações sobre a perspetiva dos que vivenciaram a situação-problema investigada. Buscou-se com este estudo compreender e traduzir o comportamento de consumo de trabalhadores independentes de baixa renda no contexto da pandemia Covid-19. Da investigação realizada encontrou-se fundamentos que as ações de mitigação aos problemas de consumo vivenciados na Covid-19 pelos sujeitos investigados foram: priorização do custeio alimentar e dos gastos da atividade profissional; substituição de itens de consumo por similares de menor preço; redução do consumo de carne bovina; privação de reuniões com familiares e amigos; restrição de aquisição de itens de consumo ao estritamente necessários; e, desenvolvimento de habilidades para reduzir gastos de aquisição de itens de consumo. Assim, constatou-se que o comportamento de consumo dos investigados durante a Covid-19 foi impactado pela modificação de rotinas, redução de renda, e alta de preços. E que essas pessoas possuem conhecimento sobre a gerência de consumo com recursos financeiros escassos, tal saber pode orientar medidas de respostas que visem garantir o custeio do consumo em situações de incertezas provocadas por eventos extremos. Conhecimento esse que, ao ser partilhado, pode fortalecer o diálogo construtivo sobre a construção da identidade de consumo e as necessárias medidas para garantir o consumo em situações calamitosas onde a renda é ameaçada. Entre essas medidas estão o fomento da aquisição de itens de consumo da comunidade local e, o estímulo à aprendizagem e desenvolvimento de talentos para a execução de atividades independentes que reduzam o impacto ambiental. E baseado nos ensinamentos dos investigados que emergiram das informações da investigação realizada, este estudo apresenta um modelo de consumo para situações de incerteza que pode ser útil para reduzir padrões de consumo. Esse modelo é pautado na constante reflexão sobre os efeitos económicos e ambientais das ações de aquisição de itens de consumo. Integra também este estudo uma revisão integrativa da literatura, onde se apresenta as evidências dos impactos, efeitos, modificações de comportamento de consumo na Covid-19 e reflexões sobre o período pós-pandemia. E um comparativo entre as evidências da revisão integrativa e os resultados da investigação de campo realizada conduz ao entendimento que a pandemia Covid-19 avultou os problemas de consumo para os investigados, que antes da pandemia já enfrentavam problemas para custear o seu consumo com a baixa renda obtida com sua atividade profissional. Os resultados da investigação realizada sinalizam que o comportamento de consumo dos profissionais investigados resulta de ações de maximização da escassa renda para assegurar o consumo de subsistência. Também se encontrou que os investigados praticam ações de proteção ambiental e de solidariedade. Dessarte, corroboram os resultados deste estudo para a reflexão sobre a importância da compreensão do comportamento de consumo de pessoas que custeiam seu consumo com recursos oriundos de uma atividade independente de baixa renda. Por que diante de um evento extremo qualquer pessoa pode ter sua renda ameaçada, e ter uma habilidade profissional que permita o exercício de uma atividade independente pode ser garantia do consumo de sobrevivência e amenizar problemas de insegurança alimentar.
- Compras públicas sustentáveis no Brasil : um estudo multi-caso em organizações governamentaisPublication . Oliveira, Marcus Vinicius de Souza Silva; Simão, João; Caeiro, SandraInserida na grande temática relacionada à produção e ao consumo sustentável, a compra pública sustentável é um instrumento valioso para o Estado confirmar a sua força e liderança social, econômica e ambiental na promoção de políticas em prol do desenvolvimento sustentável. Como reflexo dos esforços e indicativos de organismos internacionais, ela é praticada em todo o mundo por inúmeros governos nacionais, inclusive pelo Brasil – um país de grandes dimensões e uma economia emergente, investigado neste trabalho como um estudo de caso. A execução das compras sustentáveis nas organizações da Administração Pública brasileira está alicerçada pelo gradativo desenvolvimento do marco institucional e legal que apoia as ações. No entanto, a inclusão da sustentabilidade como critério a ser considerado nos processos de compras públicas resultou em alterações em seus sistemas organizacionais. Notadamente, tornaram-se mais complexos após a ampliação do rol de elementos sistêmicos e partes interessadas envolvidas. A depender da forma em que esses componentes são tratados, eles podem facilitar ou dificultar a implementação da política e a prática das compras públicas sustentáveis. No entanto, suas características ainda são pouco conhecidas ou descritas pela literatura, apesar de isso ser importante para o avanço da temática. O objetivo deste trabalho foi analisar os elementos sistêmicos e os stakeholders das compras sustentáveis das organizações públicas brasileiras e propor um modelo conceptual que apoie estas organizações na melhor implementação e desempenho do sistema de compras sustentáveis. A revisão da literatura abrangeu o estudo dos aspectos teóricos relacionados ao desenvolvimento sustentável, às compras públicas sustentáveis, aos sistemas organizacionais e aos stakeholders. A pesquisa foi dividida em duas fases. Na primeira ocorreram consultas a especialistas, responsáveis pelo desenvolvimento da temática em nível governamental, acadêmico e prático, e teve por objetivo compreender o papel do Estado brasileiro no incentivo ao tema e delimitar um conjunto preliminar de elementos e stakeholders do sistema. A segunda fase foi um estudo de múltiplos casos, realizado com o intuito de complementar o conhecimento, categorizar e analisar as partes interessadas envolvidas, contribuindo para o alcance do objetivo geral da pesquisa. A partir das análises individual e cruzada dos casos, foi possível identificar um conjunto de elementos sistêmicos, composto por necessidades, processos, resultados e formas de monitoramento típicos do sistema. Verificou-se que esses componentes são influenciados por temáticas transversais e por uma gama de stakeholders internos e externos à organização, cujas saliências foram discutidas. A partir da análise desses parâmetros, foi possível representá-los por meio de um framework que poderá ajudar: i) o Estado a aprimorar a política pública; ii) os gestores públicos, ao fornecer informações úteis para a tomada de decisão e melhoria da gestão do sistema. No âmbito do desenvolvimento sustentável, o trabalho contribuiu com o conhecimento relacionado com os padrões de consumo sustentável, inseridos num dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e tema tratado como uma das formas facilitadoras da transição para a sociedade mais sustentável.
- Consequências das cheias de 2015 sobre a população das áreas ribeirinhas do Rio Licungo no quadro do ordenamento do território em Moçambique: caso do Município de MocubaPublication . Queba, Agostinho Alberto; Trindade, Jorge; Garcia, Ricardo Alexandre CardosoA presente pesquisa tem como objectivo a avaliação das consequências das cheias de 2015 sobre as populações dos bairros ribeirinhos do rio Licungo no Município de Mocuba. Especificamente centrou-se na delimitação dos efeitos das cheias de 2015 através da determinação de vários indicadores de presença de cheia; acrescida a análise da ocupação do solo determinando áreas afectadas e acompanhada com avaliação das consequências das cheias para as populações dos bairros afectados. Com uma orientação quantitativa/qualitativa, a pesquisa teve como instrumentos; checklists, levantamento da ocupação do solo (com recurso as imagens de satélite) e inquéritos por questionário. Os resultados encontrados usando diferentes instrumentos aplicados na pesquisa testemunharam tratar-se de um evento que causou prejuízos enormes nos bairros afectados. Os mesmos resultados revelaram que grande parte do uso do solo consistia em casas para habitação (maioritariamente frágeis e ribeirinhas), campos agrícolas, infra-estruturas e vias de acesso que foram seriamente afectadas e/ou destruídas. Destacaram-se como bairros mais afectados; Samora Machel, Sacras e Lugela, com perdas parciais e/ou totais de habitações O fenómeno condicionou em grande medida a vida dos residentes; por isso, eles têm conhecimento das consequências que cheias podem causar para a população; no entanto, nota-se a reocupação das áreas outrora arrasadas pelas cheias, com maior incidência para o bairro Samora Machel; cujos danos foram bastante superiores quando comparados com outros bairros. O grande impacto das cheias deveu-se principalmente a vulnerabilidade dos seus residentes associada a exposição porque este bairro localiza-se na confluência dos rios Licungo e Lugela. A comunidade está interessada em abandonar os sítios inseguros; no entanto, a falta de alternativas para enfrentar novos desafios nos novos bairros pode ser o vector retardador na tomada de decisão para se retirar das áreas de risco ondem vivem. A ocupação pré-cheia mostrou uma tendência gradual e contínua do crescimento em habitações e campos agrícolas; com quedas abrutas durante a cheia e crescimento acelerado pós-cheia. Estas constatações chamam atenção as autoridades locais da necessidade de tomada de medidas urgentes visando estancar a reocupação das áreas perigosas, como forna de prevenir situações futuras. Por isso, as autoridades municipais e de gestão de desastres devem desempenhar um papel preponderante na mobilização, delimitação e fiscalização das áreas vulneráveis e criação de condições essências para as comunidades nas zonas de reassentamento.
- Contributions from practice to the design of an ethical performance management systemPublication . Ribeiro, Ana Roque de Aguiar; Albuquerque, Rosana; Moreira, José Manuel; Figueiredo, José Manuel Costa Dias deHá uma ligação intrínseca entre desenvolvimento sustentável e ética empresarial, quer na origem — os maiores desastres do mundo foram fruto de companhias “que não seguiam standards aceitáveis” (United Nations, 1987, p. 188) — quer na convicção de que nenhum desenvolvimento sustentável será possível sem um alinhamento nesse objetivo por parte das empresas. Alinhamento que implica por si uma postura ética de preocupação com o bem comum. Esta tese tem como objetivo contribuir, através da reflexão sobre a prática, para o desenho de um sistema corporativo de gestão do desempenho ético para empresas transnacionais, que muitas vezes têm um turnover maior do que alguns países (United Nations, 1987). A investigação tem como ponto de partida uma convicção: a forma como as empresas gerem hoje em dia a ética é reativa e exógena, parte da regulação de pressões, do medo de penalizações e de perdas de mercado. É uma ética que não está incorporada que por vezes desperta mesmo algum cinismo nos colaboradores, ou seja, que chega a ser contraproducente. A abordagem à ética das empresas de que precisamos e que nos pode verdadeiramente ajudar a atingir um desenvolvimento sustentável não é esta. É uma ética incorporada na gestão, que faça parte da reflexão sobre cada ato, como acontece com áreas como as finanças. Para isso é necessária uma abordagem sistémica, global e holística, incorporada na cultura. A nossa investigação vai então no sentido de tentar perceber quais as condições necessárias para a adoção de uma abordagem sistémica na gestão do desempenho ético das empresas (com um foco nas empresas transnacionais e multinacionais). Essa reflexão é feita a partir de dentro, da prática, da forma como a ética é vivida nas empresas, uma investigação mais centrada no porquê da situação, incluindo as emoções, as tensões, os obstáculos e as estratégias para os ultrapassar. Acreditamos que esta abordagem, de um ponto de vista da Academia, permitirá reforçar o conhecimento relativamente às práticas da ética empresarial, aos processos utilizados pelas empresas para promoverem um melhor desempenho ético, à forma como a ética é vivida. Para quem atua no terreno, nomeadamente as entidades que desenvolvem referenciais na área da ética, pode permitir conceber mecanismos operacionais que possam incentivar de modo mais adequado o desenvolvimento de uma gestão ética mais eficaz e sustentável. Para as empresas, acreditamos que, o nosso trabalho, através de uma narrativa que lhes é próxima e onde eventualmente se podem rever, fornece bases para uma reflexão e poderá ser um elemento facilitador do diagnóstico e da definição de objetivos. Para identificar as condições necessárias à adoção de uma abordagem sistémica na gestão do desempenho ético das empresas procurámos a resposta a cinco perguntas: 1. Que características deve ter um sistema para gerir o desempenho ético? 2. Quais as características de uma empresa orientada para a ética? 3. Qual a abordagem das empresas à ética? 4. Que características deve ter um código de ética para que possa ser aceite em diferentes países e culturas? 5. Será a ética completamente dependente dos líderes? Para responder a cada uma destas perguntas adotámos diferentes estratégias e abordagens metodológicas, podendo no entanto dizer-se que, de uma forma geral, a nossa abordagem nos diferentes artigos foi qualitativa, uma vez que o se pretendia era descobrir, através dos sinais e da interpretação desses sinais, a forma como a ética é vivida nas organizações e não testar variáveis (Corbin & Strauss, 2008, p. 13). As respostas às perguntas 2 e 3 (capítulo 2) deram origem ao artigo What do we Talk about when we Talk about Ethics? A Research Journey through the World Most Ethical Companies publicado no International Journal of Managerial Studies and Research (IJMSR) Volume 8, Issue 1, January 2020, PP 60-75. A resposta à pergunta 3 (capítulo 4) deu origem ao artigo Corporate Codes of Ethics — the How factor que foi submetido para publicação no International Journal of Cross Cultural Management e aguarda decisão. Finalmente a quinta pergunta (capítulo 5) corresponde ao artigo Ethics Beyond Leadership — Can ethics Survive Bad Leadership? Que foi aceite e aguarda publicação no Journal of Global Responsibility. De seguida apresentamos a abordagem para cada uma das perguntas e as conclusões a que chegámos. 1. Que características deve ter um sistema de gestão do desempenho ético das empresas? A primeira pergunta, fundamental para tentar clarificar o próprio objeto da tese, foi a única à qual não se tentou responder através da prática. Começámos por identificar o que diferencia um processo (o que a grande parte das empresas têm nomeadamente na gestão das reclamações) de um sistema, que tem por base a inter-relação, a necessidade do todo e a existência de um propósito. Foi realizada uma pesquisa em publicações académicas e empresariais que teve uma especial dívida para com o trabalho desenvolvido sobre os sistemas complexos por Edgar Morin (2008) e por Kelly-Eve Mitleton (2003, 2016). De facto, um sistema para gerir uma área tão ampla como a ética, potencialmente aplicável a qualquer operação da empresa, dependente da cultura e até das características pessoais do próprio ator na sua atuação e que diz respeito a comportamentos, não pode ser desenhado como se fosse a gestão de um produto ou de um serviço. Um sistema para gerir uma área como a ética é necessariamente um sistema complexo e isso implica a impossibilidade do controlo total, a aceitação de que sistemas complexos não se baseiam no cumprimento de ordens e planos definidos, são do âmbito do desassossego, da procura constante, da autodescoberta, da insatisfação, da satisfação incompleta. Quanto mais exigentes formos em relação à ética mais complexos terão de ser os sistemas para a gerir. 2. Quais as características de uma empresa orientada para a ética? Tomámos como referência o índice World’s Most Ethical Companies do Ethisphere Institute que, desde 2007, todos os anos distingue cerca de 100 empresas em todo o mundo pelo seu desempenho na área da ética. Escolhemos este índice no enquadramento da prática, por ser assumido como a referência pelas grandes empresas mundiais, aquilo a que procuram responder. Fizemos uma análise das perguntas do questionário de candidatura e das hipóteses de resposta que lá são apresentadas e desenhámos (concebemos) o retrato de uma empresa com orientação ética, que assumimos para este trabalho como o paradigma do que é pedido às empresas. De acordo com esse retrato, uma empresa orientada para a ética é: uma empresa que considera a ética como algo central, relativamente à qual o Conselho de Administração quer estar informado, e sobre cujo desempenho reflete para identificar novos desafios e novas formas de a fazer crescer dentro da organização; onde há uma pessoa com posicionamento de topo com a função de gerir a ética, que está exclusivamente dedicada a esta temática e que é convidada a apoiar a reflexão nas diferentes áreas da empresa, participando igualmente no desenvolvimento da estratégia geral e na análise de risco; uma empresa onde todos os colaboradores têm formação regular em ética, mas onde, para além dessa formação, a ética é um tema recorrente nas reuniões de trabalho das equipas; uma empresa onde a ética é um tema vivo, percecionado como um must have e que, como tal, faz parte das avaliações de desempenho e dos bónus dos gestores. Uma empresa onde o programa de gestão da ética é avaliado anualmente, bem como a cultura e o clima éticos sendo os resultados comunicados de forma adequada às partes interessadas. 3. Qual a abordagem das empresas à ética? O índice World’s Most Ethical Companies e as empresas distinguidas, serviram-nos também de base para a resposta à terceira pergunta. A pesquisa foi feita através da grounded theory, uma metodologia onde se parte do nada para a construção da teoria, ou seja, é uma metodologia que implica uma abertura para identificar a teoria que possa emergir nos objetos de análise, a análise começa quando se começa a recolher a informação (Corbin & Strauss, 1990, p. 6). Os objetos de análise neste caso foram os relatórios (gestão, ética, sustentabilidade) das 18 empresas europeias distinguidas no índice. A análise da informação foi feita com o apoio do software MAXQDA e mostrou inconsistências no uso da palavra ética e falta de clareza relativamente ao papel da ética nas organizações. Mostrou também que a maioria das empresas está no modo de compliance, sem uma incorporação real da ética na estratégia e nas questões core. O aspeto-chave para uma incorporação decisiva da ética parece ser a assunção de um propósito que encoraje a ação para além da existência ou não de exigências legais ou de regulação. 4. Que características deve ter um código de ética para que possa ser aceite em diferentes países e culturas? A formulação desta pergunta teve como ponto de partida o facto de o código de ética ser o instrumento fundador da generalidade dos programas de ética nas empresas. É, contudo, um instrumento com palavras que podem ter diferentes interpretações, de cultura para cultura, o que pode afetar a sua credibilidade e aceitação por parte dos colaboradores (Talaulicar, 2009). Para responder a esta pergunta foi realizado um estudo de caso em profundidade da revisão de um código de ética por uma empresa transnacional utilizando uma estratégia investigação-ação. O caso é apresentado numa abordagem de storytelling. Documenta-se o processo de elaboração do código e da avaliação do resultado obtido em dois momentos: na altura e três anos depois. O estudo de caso foi antecedido de uma pesquisa de arquivo sobre a relevância dos códigos de ética para as organizações transnacionais e sobre o impacto do método utilizado no seu desenvolvimento para a aceitação e incorporação do código na organização. Concluiu-se que uma metodologia participativa na conceção do código e uma abordagem mais axiológica do que normativa no conteúdo são aspetos críticos para a aceitação do código. O código deve ser concebido numa perspetiva de negociação e de abertura onde seja possível manter as diferenças que se justifiquem. Em termos de conteúdo é importante não colocar no código o que não pode ser conseguido e ter contenção no uso de palavras como “nunca” quando se assume que pode haver exceções. A questão da tradução e da linguagem aparece como uma questão chave que merece mais atenção do que lhe tem sido dada. Palavras como respeito tem significados diferentes de país para país (materializam-se de forma diferente) e mesmo expressões como corrupção, podem ter traduções tecnicamente corretas com significados jurídicos distintos de país para país. No desenvolvimento do código as características pessoais do líder, a energia que o move, são um aspeto fundamental para dar credibilidade ao processo e para os resultados que são conseguidos. É, naturalmente, o aspeto mais difícil de replicar e que pode fazer com que, seguindo os mesmos procedimentos, se chegue a resultados completamente diferentes. 5. Será a ética completamente dependente dos líderes? Se a cultura ética de uma organização for totalmente dependente dos líderes então qualquer sistema que se desenvolva estará sempre dependente de cada mudança de líder. Nesse sentido, o objetivo da nossa investigação, mais do que responder à questão sobre a dependência, é tentar perceber o que pode tornar a cultura ética de uma organização mais resistente às mudanças de líder. Foi realizado um estudo de caso onde se retrata o impacto em ternos de clima e cultura éticos da mudança de liderança numa empresa multinacional — trata-se de uma narrativa construída a partir da entrevista ao CEO já afastado das suas funções e à responsável pelo Compliance. O objetivo foi, a partir da análise da narrativa, a partir da revisão da literatura e da nossa experiência, tentar identificar as circunstâncias (instrumentos, processos, procedimentos) que teriam, por hipótese, dificultado a ocorrência do caso relatado ou, de forma mais abrangente, tornado esta ou outra qualquer empresa mais resiliente face a mudanças de liderança. A estratégia metodológica adotada foi a narrativa, sendo construída através da reprodução do discurso oral dos narradores (oral history), seguida depois de uma análise crítica. Escolhemos esta metodologia porque acreditamos, tal como refere Hannah Arendt, que através dos discursos, das suas exatas palavras, as pessoas mostram quem são, revelam a sua identidade pessoal e as suas singularidades (Arendt, 2001). Esta abordagem permite mostrar os sentimentos que enquadram a ação, que são, de acordo com Scharmer (2015), um dos elementos menos estudados. Concluímos que os aspetos que poderiam tornar a organização mais resiliente às mudanças de liderança seriam o tipo de formação que é dada aos colaboradores, que deve ser mais centrada nos valores, na responsabilidade individual e no desenvolvimento de soft skills. A preparação do processo de sucessão dos líderes também é um aspeto fundamental. A implementação de medidas de combate ao silêncio moral, tais como a explicitação da obrigação de falar (denunciar), criar espaços seguros para diálogo e desenvolver ferramentas que garantam que a empresa sabe o que se passa, como por exemplo entrevistas de saída, são aspetos relevantes tal como divulgar o resultado das denuncias que são feitas, para mostrar que vale a pena, que falar tem impacto. Conclusões gerais Mais do que a soma das conclusões de cada um dos artigos, apresentamos uma reflexão sobre os aspetos que encontrámos transversalmente na resposta a cada uma das nossas perguntas de investigação. Concluímos que, para a maior parte das empresas analisadas, este é ainda o momento do compliance. Não há uma identificação clara do propósito da ética e não há, sobretudo, uma assunção da ética como fazendo parte do propósito da empresa e da missão dos líderes. A questão da liderança, da falha, no ponto de vista ético da liderança, é também uma conclusão transversal. Há a perceção de que um sistema de gestão do desempenho ético dificilmente pode ter como motor, de uma forma ampla, os líderes. Os líderes empresariais, tal como são hoje na sua maioria, têm medo de gerir a complexidade, não acreditam suficientemente na ética ao ponto de a incluir na reflexão estratégica, sentem que, se forem pelo caminho da ética, não têm futuro e, enquanto líderes, têm muito a perder. Esta situação é fruto de um modelo vigente que qualquer sistema de gestão do desempenho ético seriamente assumido tem de ter como propósito mudar, empresa a empresa. Surgem como condições fundamentais para a adoção de uma abordagem sistémica à gestão do desempenho ético nas empresas, a identificação do propósito por caminhos diferentes dos que têm até agora maioritariamente sido seguidos, a aceitação da complexidade, uma abordagem mais axiológica do que normativa, a aposta nas pessoas com liderança ética, independentemente de serem líderes formais ou informais, a perceção de que serão os 10% que procuram ter de modo constante uma conduta ética que farão a diferença e que é importante desenhar um sistema a pensar nessas pessoas e a apoiá-las.