Sociologia | Artigos em revistas internacionais / Papers in international journals
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Browsing Sociologia | Artigos em revistas internacionais / Papers in international journals by Author "Aldeia, João"
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- A actividade tutelada como prática de autonomização dos indivíduos sem-abrigo em Portugal: uma análise críticaPublication . Aldeia, JoãoNas sociedades ocidentais, a intervenção sobre a vida na rua pressupõe que cada indivíduo é sem-abrigo devido a uma falha íntima que deve ser corrigida através de um processo de ressubjectivação que o autonomize, tornando-o capaz de sair da rua e garantir a sua sobrevivência pelo desempenho de uma actividade remunerada. Uma das práticas de intervenção mais relevantes é a injunção à actividade, um procedimento pelo qual os sujeitos sem-abrigo são incentivados, de forma suave ou coerciva, a realizarem actividades diversas sob a orientação de outrem. O objectivo da realização destas actividades é levar a que os indivíduos sem-abrigo se produzam a si mesmos como sujeitos empenhados em modificar quem são. Com base num trabalho de campo que consistiu na observação directa da actuação de vários profissionais da intervenção sobre a vida na rua, bem como de interacções entre indivíduos sem-abrigo, foi possível constatar que o objectivo de autonomização não pode ser alcançado através da prática de injunção à actividade tutelada tal como esta é de facto desenvolvida. Dados os obstáculos estruturais à saída da rua e a situação de heteronomia em que estas práticas de autonomização decorrem, elas bloqueiam quer a autonomia dos sujeitos sem-abrigo, quer a transformação íntima que visam promover.
- Against the environment: problems in society/nature relationsPublication . Aldeia, João; Alves, FátimaThe dominant manners in which environmental issues have been framed by sociology are deeply problematic. Environmental sociology is still firmly rooted in the Cartesian separation of Society and Nature. This separation is one of the epistemic foundations of Western modernity—one which is inextricably linked to its capitalist, colonial, and patriarchal dimensions. This societal model reifies both humanity and nature as entities that exist in an undeniably anthropocentric cosmos in which the former is the only true actor. Anthropos makes himself and the world around him. He conquers, masters, and appropriates the non-human, turning it into the mere environment of his existence, there solely for his use. If sociology remains trapped in this paradigm it continues to be blind to the multiple space-time specific interrelations of life-elements through which heterogeneous and contingent ontologies of humans and extra-humans are enacted. If these processes of interconnection are not given due attention, the socioecological worlds in which we—human as well as others—live cannot be adequately understood. But misunderstandings are not the only issue at stake. When dealing with life-or-death phenomena such as climate change, to remain trapped inside the Society/Nature divide is to be fundamentally unable to contribute to world reenactments that do not oppress—or, potentially, extinguish—life, both human and extra-human. From the inside of Anthropos’ relation to his environment the only way of conceiving current socioecological problems is by framing them in terms of an environmental crisis which could, hypothetically, be solved by the very same societal model that created it. But if the transformation of some of the world(s)’ life-elements into the environment of the Human is part of the problem, then, socioecological issues cannot be adequately understood or addressed if they are framed as an environmental crisis. Instead, these problems need to be conceived as a crisis of Western modernity itself and of the kind of worlds that are possible and impossible to build within it.
- An iron curtain around the continent: produção e exclusão do “outro” na “Fortaleza Europa”Publication . Aldeia, JoãoAs fronteiras externas da União Europeia têm sido progressivamente reforçadas e as medidas que esta mobiliza para controlar os fluxos migratórios de entrada tornadas mais restritivas. Estes processos inserem-se numa estratégia de construção de um “nós-europeu” que implica a simétrica produção dos migrantes do Sul e do Leste como o “outro” face ao qual ele pode ser erigido. Os migrantes que, apesar das crescentes restrições, conseguem entrar no espaço Schengen, são alvo de três estratégias complementares no tratamento da alteridade: exclusão, exploração e responsabilização pelos problemas sentidos pelos nativos europeus.
- O artesão sem-abrigo: o trabalho como resistência à vida na ruaPublication . Aldeia, JoãoViver na rua é uma experiência de dominação que reduz os sem-abrigo a uma situação de menoridade político-ontológica que diminui de forma brutal as suas possibilidades de vida. Face a isto, diversos destes sujeitos resistem, desenvolvendo processos de subjetivação subalterna pelos quais recusam esta desqualificação político-ontológica e tentam produzir-se a si mesmos de outros modos. Uma das técnicas desta subjetivação é o trabalho artesanal. A prática do artesanato permite a vários sem-abrigo criarem linhas de fuga relativa à dominação da vida na rua, minimizando-a por alguns instantes. Apesar disto, a prática artesanal é fundamentalmente limitada como meio de resistência, sendo incapaz de dar origem a processos de transformação estrutural que eliminem a vida na rua.
- Uma bio-tanato-política que faz os sem-abrigo sobreviverPublication . Aldeia, JoãoUm dos objectivos centrais da intervenção sobre o fenómeno dos sem-abrigo é a preservação da vida biológica de quem vive na rua. Porém, este esforço biopolítico de “fazer viver” assenta numa multiplicidade de exercícios de poder pelos quais a vida dos sem-abrigo é limitada, impedindo o desenvolvimento de uma forma de vida politicamente qualificada. No fenómeno dos sem-abrigo, tanto quanto a vida, a morte é permanentemente intervencionada, dando origem a uma bio-tanato-política que faz os sem-abrigo sobreviver, procurando impedir que estes sujeitos se afastem do limiar da sobrevivência quer através da morte biológica quer através do incremento irrestrito da vida. Uma das manifestações mais claras desta bio-tanato-política encontra-se nas intervenções que visam proteger a vida biológica dos sem-abrigo que são exogenamente avaliados como estando em risco de se suicidarem.
- A centralidade do trabalho no fenómeno dos sem-abrigoPublication . Aldeia, JoãoOs indivíduos sem-abrigo são frequentemente rotulados como «preguiçosos e amorais», apoiando-se esta classificação na sua suposta rejeição do trabalho. A empiria desmente esta representação, mostrando que o trabalho é uma relação desejada por quem vive na rua e, sobretudo, que funciona como um mecanismo de construção identitária positiva que permite um afastamento relativo dos rótulos de «preguiça e amoralidade». É observável, porém, em alguns indivíduos sem-abrigo, uma efectiva rejeição de um tipo de trabalho concreto, mal remunerado, temporário e estatutariamente desvalorizado. É fundamental, contudo, distinguir entre a representação espúria de uma rejeição do trabalho em geral e estas ocorrências de rejeição deste tipo particular de trabalho, que, por experiência própria, quem vive na rua sabe que não lhe permitirá aumentar o seu bem-estar. Com propósito ilustrativo, a discussão é ancorada, no final do texto, na relação longitudinal de um indivíduo sem-abrigo com o trabalho, interpretada com exemplar do fenómeno dos sem-abrigo.
- De “cidadão” a “sem-abrigo”: o laço de cidadania no fenómeno dos sem-abrigoPublication . Aldeia, JoãoO fenómeno dos sem-abrigo é explicável por processos de reconfiguração de diferentes tipos de laços sociais, levando a uma redução da protecção e do reconhecimento que estes, teoricamente, garantem aos indivíduos. A reconfiguração do laço de cidadania é fundamental para compreendermos este fenómeno devido à reconversão do estatuto político dos sujeitos, que, vivendo na rua, são reconvertidos de «cidadãos» em «sem-abrigo», levando a que lhes sejam negados direitos de cidadania. O texto olha para esta questão através da experiência de vida na rua de um indivíduo sem-abrigo, interpretada como exemplar do fenómeno.
- A dificuldade de morar: exercícios de poder no fenómeno dos sem-abrigoPublication . Aldeia, JoãoDe modo dominante, os sem-abrigo são percebidos como indivíduos anormais e/ou anormativos que vivem na rua devido a esta insuficiência fundamental. Desta forma, considera-se que cada indivíduo sem-abrigo só poderá sair da rua se, sob a tutela de um profissional assistencialista, modificar quem e o que é. Essa relação tutelar apresenta-se como uma forma de dominação na qual os sem-abrigo são incentivados e/ou coagidos a aceitar a sua posição desqualificada. Usando como base empírica da reflexão o processo de cedência de moradas institucionais a sem-abrigo para que estes possam receber correspondência, o texto aborda diferentes exercícios e lógicas de poder pelas quais é produzida a submissão sociopolítica dos sem-abrigo.
- Dizer a verdade patológica de si: a injunção ontológica dirigida aos sem-abrigoPublication . Aldeia, JoãoPartindo da leitura da obra seminal de Michel Foucault, Du gouvernement des vivants, este texto discute o modo como, no modelo societal moderno ocidental, as práticas de intervenção sobre a vida na rua exigem que cada sujeito sem-abrigo enuncie, de forma repetida, a falha ontológica (e.g., doença ou deficiência mental, preguiça, alcoolismo, toxicodependência) que, supostamente, o faz viver na rua e mostre a sua disposição para a corrigir, transformando o seu íntimo errado sob a orientação de outrem. No modelo dominante de intervenção sobre a vida na rua, a ressubjetivação é considerada como a única solução possível para a saída da rua e esta transformação íntima é indissociável da exigência de que cada sujeito sem-abrigo diga a verdade de si. Contudo, na vida na rua, estas enunciações de si mesmo não assumem a forma de injunções biográficas pois, em rigor, o acesso a uma biografia consequente é negado aos sem-abrigo. Antes, ao ser-lhe exigido que exponha seu íntimo, cada sem-abrigo recebe uma injunção ontológica para enunciar a verdade do seu erro íntimo elementar, erro esse que nunca poderá superar totalmente, mas que deve se mostrar disposto a, resilientemente e sem uma possibilidade significativa de sucesso, corrigir.
- A medicalização grotesca da vida na ruaPublication . Aldeia, JoãoNas últimas décadas, a intervenção sobre a vida na rua tem vindo a assumir um caráter crescentemente medicalizado, formatando-a como uma questão de anormalidade neuro-psiquiátrica individual. Com base na observação direta de diversos tipos de interações da vida na rua são discutidos vários exemplos da medicalização de condutas de sujeitos sem-abrigo. Estes deixam claro que medicalizar a vida na rua é um procedimento intrinsecamente “grotesco”, no sentido que Foucault confere ao termo, referindo-se a uma maximização dos efeitos de poder que parte da desqualificação fundamental de quem o exerce e dos seus enunciados.