Literatura e Cultura Portuguesas
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Recent Submissions
- Imagens de migrações em obras da literatura portuguesa e francesa do século XXIPublication . Pita, Maria Leonor Nunes Raposo do Cabo; Gonçalves, Luís Carlos PimentaO presente trabalho propõe um estudo de imagens literárias de migrações em obras da literatura portuguesa e francesa do século XXI. Foram eleitas para análise das representações do fenómeno da imigração em Portugal as obras O meu nome é Legião, de António Lobo Antunes, o apocalipse dos trabalhadores, de valter hugo mãe e Myra, de Maria Velho da Costa. Para o tratamento literário da emigração portuguesa das décadas de 60 e 70, com destaque para a segunda geração, recorremos ao romance Livro de José Luís Peixoto e a duas obras do universo literário francófono, Poulailler de Carlos Batista e Dès que tu meurs, appelle-moi de Brigitte Paulino-Neto. Numa primeira parte, de índole principalmente teórica, é feita uma abordagem à imagologia literária, à tematologia e aos conceitos de alteridade e do discurso social. É ainda apresentada uma reflexão sobre a relação existente entre “história e ficção” e sobre a importância da literatura na construção da memória. Esta parte dedica-se também ao tratamento dado à imigração portuguesa na literatura francesa e ao lugar reservado ao fenómeno migratório na literatura portuguesa contemporânea. A segunda parte detém-se nas representações literárias do espaço, recorrendo aos preceitos comparatistas e apresentando uma análise transversal dos motivos: “o país de origem”e “o Eldorado”, identificando ainda “Lugares de memória das migrações”. A terceira parte, centrada no indivíduo, detém-se nas representações literárias da alteridade e da construção identitária, focando, num primeiro momento, o tratamento da “imagem do Outro” e de seguida, as representações dos processos de “(Des)integração e (Re)construção da identidade”.
- A escrita poliédrica de Ana Hatherly: caminhos de um território reinventadoPublication . Milheiro, Dalila Maria Teixeira; Vila Maior, DionísioAtravés do nosso estudo, pretendemos investigar os contornos e as particularidades de algumas facetas da escrita literária de Ana Hatherly, comprovando que constituem novos caminhos que originam uma escrita singular, com criações originais e registos híbridos, em constante reinvenção. Como corpus literário, selecionamos três obras hatherlyanas que se apresentam mais representativas da temática em estudo e que abarcam a variedade da sua escrita: O Mestre (1963), na linha da narrativa de ficção experimental, Anacrusa – 68 sonhos (1983), enquanto escrita onírica, e 463 Tisanas (2006), compilação das suas criações poéticas em prosa. Ambicionamos confirmar que as palavras na obra literária hatherlyana tomam diferentes formas e sentidos e, nesta perspetiva, destacamos os processos de experimentação discursiva e as reinvenções da linguagem em sintonia com a Autora que vê a escrita como o seu território de investigação e de improvisação. No nosso ponto de vista, a escrita hatherlyana visa criar outras escritas, fornecendo pistas para desvendar o conhecimento e a aprendizagem. Tal como Ariadne dá o fio a Teseu para este encontrar a saída do labirinto, também Ana Hatherly, através do ato criador/criativo da sua escrita/das suas palavras, dá ao leitor a ponta do novelo para encontrarmos o sentido labiríntico da escrita, uma escrita com muitas vertentes e riquezas. Ao dar-nos o fio, a Autora concede-nos igualmente a memória (o passado) e, portanto, o reconhecimento do caminho para a sua escrita enquanto território fértil de desafios e reinvenções. Assim, o nosso desejo é encontrar o sentido em aberto que une os fios/as linhas da escrita/dos textos à semelhança de Ariadne.
- A competência intercultural e o texto literário no ensino portuguêsPublication . Vale, Madalena Alves do; Sequeira, Rosa MariaNa era da globalização assume particular importância o desenvolvimento da competência intercultural. É determinante formar cidadãos detentores de uma consciência crítica intercultural, de um espírito de abertura e de tolerância face a outros valores e culturas e capazes de questionar o seu próprio sistema de valores. A presente investigação incide sobre o desenvolvimento da competência intercultural em sala de aula. É analisada a pertinência do ensino por competências, que esteve na base de alterações no sistema educativo em diferentes países. Coloca-se a tónica no confronto entre os documentos reguladores referentes à disciplina de Português e o modelo de Byram e o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas. Procede-se ainda à articulação com o Quadro de Competências para a Cultura Democrática e com pressupostos de cidadania defendidos por Nussbaum. Há ainda lugar a uma reflexão sobre as práticas interculturais na aula de Português. Aborda-se o texto literário enquanto elemento potenciador do desenvolvimento da interculturalidade e reflete-se sobre as suas práticas e as representações da alteridade na obra literária. Pretende-se verificar se, independentemente do paradigma subjacente aos programas de Português, a competência intercultural pode ser desenvolvida através do estudo do texto literário, atendendo ao facto de este abrir janelas para novas culturas, novos mundos e novas vivências. São definidos objetivos no domínio da comunicação intercultural, tendo por base o quadro teórico anteriormente mencionado, que servirão de base ao estudo empírico. Procede-se depois à testagem dos objetivos em produções textuais que constituem resposta a textos literários em contexto de sala de aula e à consequente interpretação e análise de resultados.
- Imagologia literária e identidade nacional em Eduardo Lourenço, Almeida Garrett e Eça de QueirósPublication . Campinho, José Maria Cibrão; Piedade, Ana NascimentoA Imagologia Literária trouxe aos Estudos Literários e Culturais uma renovada e ampla perspectiva de abordagem da Literatura enquanto produto cultural específico com elevado valor identitário. Sucedânea da Literatura Comparada, a Imagologia Literária procura no texto literário as linhas configuradoras de representação de identidade. Foi o ensaísta Eduardo Lourenço quem primeiro estabeleceu uma imagologia identitária portuguesa resultante da leitura crítica da nossa Literatura moderna e contemporânea. Partindo das suas reflexões e da abordagem proposta pela recente Imagologia Literária, esta investigação pretende mostrar como se processa a articulação da Literatura com a questão da representação literária e da identidade nacional na obra de Almeida Garrett e Eça de Queirós. No primeiro capítulo faz-se uma síntese do estado actual dos estudos imagológicos e propõe-se a aplicação da sua metodologia no interior de uma mesma cultura, no plano temporal, em diferentes momentos da sua História; o segundo capítulo é dedicado ao pensamento de Eduardo Lourenço sobre a Literatura como via de interpretação e parte do processo de configuração da identidade nacional; o terceiro capítulo mostra como, através da renovação da língua e cânone literário, Almeida Garrett contribuiu para reformular a imagem identitária de Portugal; o quarto e último capítulo, mais extenso, procura analisar a relação de interdependência entre as opções estético-literárias de Eça de Queirós e a sua eficácia imagológica; explícita ou veladamente, Portugal é o tema recorrente do trajecto literário de Eça de Queirós, sobre o qual desenvolveu uma incansável demanda estético-literária iluminadora dos múltiplos aspectos da complexa questão da identidade nacional portuguesa.
- A diversidade intertextual d' A Correspondência de Fradique Mendes : dandismo e jogo(s) de apresentação/simulaçãoPublication . Neto, Francisco José Sousa; Piedade, Ana NascimentoA Correspondência de Fradique Mendes de Eça de Queirós radica numa tradição textual que conheceu uma notória proliferação na literatura europeia do século XIX, nomeadamente em textos de Hippolyte Taine (Notes sur Paris) e Thomas Carlyle (Sartor Resartus). Na verdade, quando a obra é publicada, Fradique surge inserido num mistificador jogo textual, muito semelhante ao que Taine e Carlyle utilizaram para apresentar Graindorge e Teufelsdröckh, respetivamente. A produção ‘literária’ do dândi (um epistolário) vem acompanhada de um estudo biográfico, intitulado “Memórias e Notas”, onde um narrador anónimo, propositadamente confundível com Eça, recria o percurso humano e intelectual daquele originalíssimo ‘escritor’ entretanto falecido. Paralelamente a uma consistente estratégia autenticadora, o autor d’ Os Maias fornece ao leitor múltiplos indícios — por via da ironia, da hipérbole, do elemento burlesco — para que ele desconfie da veracidade da personagem e da genuinidade das cartas divulgadas, aspeto que nos remete para a construção igualmente humorística e ambivalente das obras de Taine e Carlyle. Um outro elemento comum às três produções literárias em estudo tem a ver com os laços que ligam Fradique, Graindorge e Teufelsdröckh a alguns dos traços distintivos da conduta dândi (de acordo com a teorização apresentada por Barbey d’Aurevilly e Baudelaire): a busca da originalidade e a recusa da uniformização, o culto da toilette e da aparência exterior, o desejo de surpreender e a impassibilidade.
- O outro na literatura juvenil portuguesa no novo milénio : vozes, silêncios, (con)figuraçõesPublication . Tomé, Maria da Conceição; Bastos, GlóriaEm Portugal, desde a década de 80 que uma literatura de potencial recepção juvenil tem vindo a marcar território a nível editorial, deparando-se os leitores com produções inseridas em várias tendências, desde os textos realistas aos textos fantásticos, passando pelas narrativas de aventura e mistério. A literatura juvenil constitui-se como um lugar de cruzamento de olhares do leitor com a Alteridade e outras culturas e formas de ver o Mundo, podendo ser um espaço de encontro fraternal com o Outro ou um privilegiado disseminador de estereótipos. As práticas discursivas, entre as quais integramos os textos literários, têm poderosos efeitos ideológicos, pelo modo como representam a realidade, sendo mecanismos que produzem e reproduzem as relações de poder. Neste contexto, os textos literários, enquanto formas de discurso, mas também os autores, enquanto agentes sociais, contribuem para a criação de imagens culturais e sociais do Outro e para a consolidação, em alguns casos, de preconceitos. Neste estudo, analisam-se as narrativas de recorte realista publicadas em Portugal entre1995 e 2010, nas suas especificidades narrativas, linguísticas e literárias, centrando-se a análise ao nível da história e ao nível do discurso, procurando verificar-se a relação que as mesmas estabelecem, a nível temático e formal, com um leitor modelo inserido numa fase específica de desenvolvimento (adolescência). Por outro lado, buscam-se as representações da Alteridade presentes num corpus de produções literárias de autores portugueses, estudando-se o seu impacto ideológico sobre o potencial público receptor e a forma como remetem para um conjunto de modelos socioculturais. No contexto das representações da Alteridade, analisam-se não só as imagens do «estrangeiro», mas também do Outro que, embora vivendo entre nós, é percepcionado como diferente e/ou estranho, nomeadamente o Outro cigano, o Outro gordo, o Outro homossexual e o Outro portador de deficiência física ou mental. Nas narrativas analisadas surgem vozes que consolidam (con)figurações da alteridade e outras que desconstroem estereótipos. Por outro lado, abundam os silêncios que a seu modo cristalizam visões e não suscitam o encontro com o Outro.
- O sujeito em Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e António Ferro : crise e superaçãoPublication . Vila Maior, Dionísio; Reis, CarlosNeste estudo, procurou-se empreender um exercício analítico assente numa avaliação gradativa, tendo sempre em conta uma visão integrante de conjunto, bem como a conformidade a dois objetivos primordiais: por um lado: redimensionar linhas de leitura que delimitam a problemática da crise do sujeito na esfera da produção estético-literária de Pessoa, Almada, Sá-Carneiro e Ferro — uma problemática normalmente circunscrita pelas ideias de incerteza, angústia e desassossego; por outro lado: demonstrar a tese segundo a qual aquela crise poderia ser avaliada de acordo com uma dinâmica afirmativa — dinâmica essa da qual, numa primeira abordagem, a noção de crise se desviaria. Ao tentar demonstrar essa tese, procurou-se analisar a extrema lucidez que cada um dos quatro autores possuía de si mesmo, bem como o alcance da especificidade da prática literária, ligados que estavam à ideia de superação de uma crise que os inquietava, bem como à ideia de totalidade. Por isso, por diversas vezes encaram o ato de escrita como uma atividade através da qual consideram poder aceder, pelo menos de um ponto de vista estético, a uma determinada plenitude. E se, entre eles, as considerações são semelhantes, também não é menos verdade que as estratégias utilizadas não se distanciam muito: ou pela produção de ismos, ou pela atitude alteronímica, ou pela quase enciclopédica teorização sobre os mais diversos assuntos, ou ainda pela exploração de questões relacionadas com o reconhecimento da sua obra pela posteridade, os quatro autores acabam por se distinguir como sujeitos em busca, no fundo, da sua própria identidade. Ora, confirmando-se o alcance e o interesse hermenêutico dos exercícios comparativos desenvolvidos, o âmbito de pesquisa das potencialidades informativas comprometemo-nos, então, com a perceção destes autores como sujeitos em busca de uma plenitude. Essa perceção encontra-se ligada ao conceito de sujeito genial, com qualidades sublimadas. As reflexões apresentadas convergem, então, em duas linhas de leitura motrizes: uma, atinente à equacionação pelos quatro autores da ousadia em querer alcançar a totalidade — por esta noção se colocando em causa o próprio sentido negativo de crise; a outra linha, regida pela noção segundo a qual poderemos compreender melhor o modo como Pessoa, Sá-Carneiro, Almada e Ferro encaram o homem de excelência, um homem com qualidades e objetivos superlativos. Procurou-se, então, ver de que forma atestam, cada um a seu modo, uma preocupação fundamental: condicionar a representação da crise do sujeito pela instauração de um outro nível de integração estética, isto é, um nível capaz de os conduzir à representação que de si fazem enquanto sujeitos marcados pelo “ardente desejo de totalidade”. A partir daqui, são sistematizados princípios e estratégias de incidência estético-literária que permitem perceber melhor a problemática deste sujeito de exceção, cuja obra permanecerá… o mesmo que Almada Negreiros diz ter as qualidades para “influenciar milhões” e “construir civilização”; o mesmo, afinal, que cada um dos quatro autores (tácita ou explicitamente) considera ser. Em que termos aquela totalidade tantas vezes almejada por cada um deles se relaciona com a dimensão afirmativa da crise do sujeito é, portanto, o que pretende nesta tese, em última instância, demonstrar — o que permitiu, só depois, retirar a ilação final. Essa ilação aponta para uma noção segundo a qual o sujeito pode transcender qualitativamente qualquer motivação ou circunstância que determine a produção ou o perfilhamento de uma mensagem literária dependente de uma conceção desassossegada. E se se legitimar o intuito de empenhamento em consonância com essa transcensão, convalida-se o sentido estético, inteligível no plano das sugestões teóricas, que outorga a articulação orgânica entre uma plangente negatividade e um fulgente triunfalismo. E justamente porque também se analisou de que forma Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e António Ferro se ocuparam da interação negatividade / triunfalismo, pudemos inferir que, em muitos dos seus textos, prevalece colateralmente a noção de que a ideia de plenitude (ou estética, ou literária, ou identitária) se pode afinal encontrar no entusiasmo depositado por cada sujeito no propósito de com essa plenitude conviver.
- O drama histórico português do século XIX ou ficções da representação histórica no tempo de Almeida Garrett (1836-56)Publication . Vasconcelos, Ana Isabel; Marques, Maria Emília Ricardo; Barata, José OliveiraO presente trabalho ocupa-se do drama histórico de temática portuguesa, publicado entre 1836 e 1856. Embora maioritariamente constituído por obras hoje consideradas “menores”, a literariedade eventualmente menos válida dos textos não impede que o seu conteúdo nos revele a forma como os dramaturgos recriaram determinados aspectos do passado nacional, no contexto político, social e cultural do chamado 1.º romantismo. Constituído o nosso corpus por 26 dramas históricos, verificamos, num primeiro momento, como é filtrado e re-apresentado o discurso histórico no plano ficcional, estudando o aproveitamento que os dramaturgos fizeram do material histórico consultado e observando de que forma este foi filtrado e trabalhado quer na construção das personagens quer na trama da obra de ficção. Num segundo momento, reflectimos sobre os textos dramáticos em si, encarando-os como uma estrutura criativa, não esquecendo que muito do seu significado reside também nas convenções dramáticas que exploram. Assim, de regresso à letra dos textos e num estudo sistemático do processo de estruturação interna das peças, sublinhamos as suas regularidades de conteúdo e de forma, para gizarmos, num capítulo final, uma tipologia dos dramas histórico da primeira metade de Oitocentos, no que diz respeito a modelos de produção. Na tentativa de avaliar a importância do drama histórico levado a cena nos palcos da capital entre 1836 e 56, efectuámos o levantamento e registo sistemático de toda a produção teatral dos teatros públicos de Lisboa, então em funcionamento: Teatro do Salitre, Teatro da Rua dos Condes, Teatro Nacional D. Maria II, Teatro do Ginásio e Teatro de D. Fernando. Estes dados, compilados em Anexo (Volume II), são confrontados com críticas recolhidas em periódicos, tentando chegar-se a uma visão mais nítida do peso e do significado do drama histórico e da sua relação com outros subgéneros, na época que estudamos. Para uma melhor compreensão das relações entre o mundo teatral e o poder instituído, foi nosso interesse ainda analisar a legislação coeva e desmontar os mecanismos que presidiram à selecção dos textos representados, processo esse geralmente acompanhado pelo controlo censório exercido pelo Conservatório Real.
- Metamorfoses de Babel : a historiografia ibérica (sécs. XIII-XIV) : construções e estratégias textuaisPublication . Dias, Isabel de Barros; Godinho, Helder; Marques, Maria Emília RicardoEstudo sobre a historiografia patrocinada pelo rei Afonso X de Castela e Leão e diversos outros textos posteriores, dela tributários, até à segunda redacção da Crónica Geral de Espanha de 1344. Na sequência do desenvolvimento que levou à multiplicação textual desta historiografia, é salientado o facto destas narrativas estabelecerem entre si diálogos e discussões subtis, decorrentes dos diferentes interesses e ideais que a cada momento e em distintos locais direccionaram a produção historiográfica. É ainda analisada a forma como os textos em questão lidam com uma série de características inerentes às narrativas de cariz mais marcadamente literário e como se relacionam com outras formas textuais da produção literária da época. O estudo incide particularmente sobre diversos tipos de excesso que a historiografia critica, ou mascara, consoante as circunstâncias. A discussão destas ambiguidades remete para a consideração dos mecanismos retóricos inerentes à manipulação a que determinados trechos terão sido sujeitos, no âmbito da sua integração na narrativa historiográfica. Com efeito, se por um lado se verifica uma ambição omnívora de integrar todo o conhecimento no que seria uma súmula total do saber, este enciclopedismo centrípeto é contrariado por uma recusa (mesmo se retórica, logo denegante) das bases literárias que, na prática, absorve e imita amplamente. A “defesa” que consiste nas inúmeras reafirmações de fiabilidade e de veracidade revela-se, nestes termos, como uma retórica extremamente elaborada e subtil.
- Da personagem romanesca à personagem fílmica : as Pupilas do Senhor ReitorPublication . Padeira, Ana Rita Soveral; Reis, CarlosConstituiu objectivo do presente trabalho estudar a categoria da personagem no âmbito da ficção dinisiana, com particular incidência em As Pupilas do Senhor Reitor, precisamente por ser este o romance de um escritor português que maior número de adaptações sofreu, particularmente cinematográficas, não só no contexto da obra de Júlio Dinis, mas também no panorama mais vasto da literatura portuguesa. Em «Uma Visão de Época» procurámos fazer uma resenha, tanto quanto possível, exaustiva da crítica surgida ao romancista e à sua obra, ordenada numa perspectiva cronológica, até à data da realização da primeira adaptação cinematográfica, tendo-se elaborado o que acreditamos ser um inventário crítico sobre a bibliografia passiva de Júlio Dinis. Em «Imagens e Representações Contemporâneas», procurámos estabelecer o percurso evolutivo da escrita literária de Júlio Dinis, passando pelas diversas fases experimentais, como aquelas em que se exercitou enquanto poeta e dramaturgo, depois como contista, para, finalmente, atingir a plena maturidade literária de que os quatro romances são prova incontestável. Ao longo do caminho trilhado, não deixa de ser significativo que, precisamente, no final da sua breve carreira, enquanto ficcionista, tenha reunido de forma sistemática e absolutamente inédita, o que podemos considerar como uma estética do romance 'moderno', contribuindo assim, de forma objectiva, para a fixação de um género. Estes são os aspectos que basicamente enformam a abordagem de «Um Perfil Literário». Em «Um Signo Entre Signos» debruçámo-nos sobre a personagem enquanto importante elemento diegético da narrativa. Procurámos fazer o ponto da situação dos estudos sobre a personagem no âmbito da narratologia. Com este intuito, incluiu-se uma apreciação parcial sobre o estado da bibliografia existente e estabeleceu-se o confronto entre as posições antagónicas defendidas pelas teorias puristas ou semióticas, de um lado, e as teorias referenciais e miméticas que consideram a personagem à semelhança da pessoa, representativa por conseguinte do modelo humano, por outro. Apesar de termos concedido particular atenção à abordagem semiológica de Philippe Hamon, procurámos encaminhar a exposição teórica elaborada no sentido de melhor servir os objectivos visados, ou seja, verificar de que forma se processa a construção deste signo literário através das diferentes categorias do discurso, retirando das principais teorias enunciadas os aspectos que permitiram caracterizar esta categoria de relevo diegético importante, que é a personagem, também uma questão de relevo no contexto da sua ficção, conforme confessou o próprio romancista. Em «A Personagem Romanesca», procurámos aplicar os conceitos teóricos mais importantes, subjacentes à análise que elaborámos partindo do léxico de personagens dinisianas, com particular incidência no elenco que constitui as Pupilas. Salientámos a importância da dimensão psicológica na caracterização dos principais protagonistas, sem esquecer, todavia, a extraordinária subtileza que Júlio Dinis emprestou à configuração dos tipos. Importou-nos ainda a abordagem do discurso da personagem, não só pela intrínseca cumplicidade que afecta estes dois elementos da narrativa (personagem e discurso), mas também porque através desse mesmo discurso Júlio Dinis procurou criar um tipo de monólogo interior, não obstante a simplicidade e a insipiência da construção, afinal próprias de quem experimenta novos caminhos. Estes e outros aspectos constituíram o estudo que empreendemos em «A Personagem Dinisiana». Em «O Discurso Fílmico: um sistema semiótico diferente» procurámos confrontar, sucintamente, dois sistemas semióticos, nomeadamente, o discurso verbal, fundamentalmente veiculado pela palavra e o discurso fílmico, a que a imagem, o som e uma série de outros procedimentos conjuntos vão dar forma. À riqueza pictórica e imediata transmitida pela imagem visual, contrapusemos o poder da sobre significação da imagem verbal e mental. Debruçámo-nos ainda sobre algumas questões da adaptação, sem perder de vista as épocas em que foi realizada a "filmografia" dinisiana, isto é, confirmando a dependência em que se encontra relativamente aos padrões de narração do filme clássico. Em «Uma Leitura de As Pupilas cinematografadas» apresentámos as diversas adaptações, levadas a cabo em épocas diferentes do cinema português. Elas remetem para determinadas representações mentais, social e culturalmente construídas. Procurámos explicar os motivos pelos quais surgiram, contextualizando-as em espaço e tempo próprios. A propósito do interesse que despertaram, buscámos o testemunho das críticas veiculadas em alguns periódicos da época e da especialidade, particularmente significativas no caso dos filmes que, lamentavelmente, o tempo acabou por destruir. Os aspectos folclóricos e etnográficos, que constituem fortes atractivos nos filmes, são outra componente que não pudemos deixar de assinalar, mesmo porque se trata de aspectos que reforçam certa ideia da "portugalidade', cuja propaganda, no contexto da época, importava divulgar. A dimensão metonímica dos filmes, bem assim como o tratamento cinematográfico da personagem foram, por conseguinte, constantes que procurámos não perder de vista no decurso da análise. Nas Conclusões, procurámos sistematizar as ideias mais relevantes quanto ao estudo da personagem nos romances de Júlio Dinis e o que dela ficou nos filmes que visionámos. Tentámos, fundamentalmente, reabilitar a imagem do romancista, que, apesar da inovação trazida pela sua escrita ficcional e apesar dos conteúdos humanos e dos valores simples que divulgou, foi, todavia, um escritor 'catalogado'.