Linguística | Comunicações em congressos, conferências / Linguistics - Communications in congresses, conferences
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- O acento de palavra do PLE em aprendentes chineses: alguns contributos e investigação futuraPublication . Castelo, AdelinaUma melhor compreensão da aquisição fonológica de uma língua não materna possibilita não só um conhecimento mais aprofundado sobre o funcionamento da linguagem e a aquisição de línguas estrangeiras e segundas, como também uma identificação de indicações úteis para uma melhor discussão e compreensão da fonologia da língua-alvo e até várias implicações e aplicações práticas (nomeadamente ao nível do ensino da pronúncia e de aspetos da compreensão e da expressão orais). O acento de palavra constitui, precisamente, um dos aspetos a desenvolver no âmbito desta aquisição fonológica: um domínio adequado da produção e da discriminação do acento de palavra é fundamental para favorecer o reconhecimento auditivo dos itens lexicais (e.g. Tremblay, 2014), impedindo, por exemplo, que a produção incorreta de está [ta] como [eta] ou [ita] leve o ouvinte a interpretá-la como uma tentativa de produção de esta sem ativação da redução na vogal átona final. Considerando o cada vez maior número de aprendentes chineses de Português como Língua Estrangeira (PLE) e as dificuldades que estes parecem mostrar no domínio do acento de palavra, a investigação desta propriedade na interfonologia dos aprendentes torna-se muito relevante. Existem já vários estudos sobre a aquisição fonológica do português europeu como língua não materna, junto de diferentes grupos de aprendentes, no que diz respeito às consoantes (e.g. Yang, Rato & Flores, 2015; Zhou, 2017), às vogais (e.g. Oliveira, 2006; Vaz da Silva, Coimbra, Teixeira & Moutinho, 2007; Castelo & Santos, 2017; Castelo & Freitas, 2019) e até ao processo fonológico de redução vocálica (e.g. Oliveira, 2006). No entanto, até onde sabemos, a aquisição do acento de palavra tem sido objeto de pouca investigação própria (cf. Castelo, 2018). Assim sendo, esta comunicação tem dois objetivos: (i) sistematizar alguns contributos, já presentes na literatura, para a compreensão da aquisição do acento de palavra do PLE em aprendentes chineses; (ii) partir desses contributos para apresentar sugestões de investigação futura sobre o tema. Para concretizar estes objetivos, são sistematizados os dados conhecidos sobre a aquisição do acento de palavra, que estão disponíveis em Castelo e Santos (2017) e Castelo (2018). O primeiro estudo observa o uso do acento (tónico e gráfico) em textos que integram o COPLE2 – Corpus de Português Língua Estrangeira/Língua Segunda (Antunes et al., 2015) e que foram produzidos por 7 informantes chineses de diferentes níveis de proficiência. A taxa de sucesso no uso do acento nos textos orais está próxima dos 100%, o que contrasta com a identificação de dificuldades feita por professores experientes no ensino de PLE a aprendentes chineses (cf. Castelo et al., 2018). Em Castelo (2018) apresentam-se os resultados de um estudo em sala de aula (tipo de estudo defendido como relevante por autores como Munro & Derwing, 2015). O estudo-piloto, conduzido numa disciplina de Laboratório de Língua, envolve 12 estudantes chineses da licenciatura em Português que começaram a aprender a língua seis meses antes. São usados dois conjuntos de tarefas para avaliar o desempenho no acento lexical: (i) leitura oral não preparada de um texto curto e discriminação de pares de palavras / frases que diferem na posição de um acento; (ii) leitura oral preparada e discriminação de pares de palavras / frases que diferem na posição de um acento. Os resultados mostram taxas de sucesso de 73% a 86%, uma diferença estatisticamente significativa associada à preparação ou não da leitura oral e correlações entre produção e perceção, além do impacto de variáveis linguísticas. A análise dos resultados obtidos neste estudo e a comparação com os resultados de Castelo & Santos (2017) permitem também refletir sobre algumas questões metodológicas. Os estudos sistematizados constituem a base para propostas de investigação futura sobre a aquisição do acento de palavra do PLE por aprendentes chineses, destacando-se questões a responder e perspetivas a adotar, grupos de informantes a observar, bem como algumas opções metodológicas a realizar.
- Acquisition of Portuguese mid vowels by Chinese Mandarin native speakers: some data on perceptionPublication . Castelo, Adelina; Zhou, Chao; Amorim, ClaraPrior research reveals that, when acquiring European Portuguese (EP), L1-Mandarin learners with beginning ([1]) and more advanced proficiency levels ([2]) neutralise the distinction between /e/ and /ɛ/ to the low vowel in their L2-Portuguese production. Given that major L2 speech learning models ([3], [4], [5]) assume a tight link between L2 speech perception and production, we speculate that the observed production difficulty can be ascribed to misperception: the two target vowels are perceptually assimilated to an L1 category. In this work, we explicitly tested this perception-based account by assessing how L1-Mandarin learners perceptually categorise EP /e/ and /ɛ/. 70 L1-Mandarin learners, whose Portuguese proficiency level was measured by LextPT ([6]), performed a forced-choice identification task. The test stimuli are 36 disyllabic paroxytone pseudowords with target vowels always in stressed position (12 CVCV items × 3 talkers). The perceptual results show that L1-Mandarin learners fail to discriminate between the two EP vowels, as shown in Figure 1. In stark contrast to previous production studies ([1], [2]), where the vowel distinction is somehow preserved (otherwise the confusability would have been bidirectional as well), the current results suggest that the two speech modalities may not develop in tandem in L2 speech learning. Moreover, a mixed-effects logistic regression does not find an effect of L2 proficiency on learners’ perceptual performance. No evidence thus indicates that the observed perceptual difficulty will be mitigated with an increase in L2-Portuguese proficiency.
- Alguns contributos da linguística para a classificação dos textos literáriosPublication . Silva, Paulo Nunes daNas duas últimas décadas, vários autores das áreas da Linguística Textual e da Análise do Discurso (entre os quais se destacam Jean-Michel Adam, André Petitjean e Dominique Maingueneau) teorizaram sobre classificações textuais e respetivos critérios definitórios. Essas reflexões permitiram esclarecer e sistematizar algumas questões que são importantes do ponto de vista teórico e particularmente úteis para o contexto didático, nomeadamente no âmbito de disciplinas em que a análise de textos é central. O objetivo do presente artigo consiste em recensear os seus principais contributos, aplicando-os às classificações dos textos literários, e, em particular, à sua abordagem na sala de aula. A reflexão começa por incidir sobre i) a distinção entre classificações que assentam num único critério (tipos de textos, tipos de sequências textuais) ou em mais do que um critério (tipos de discurso, géneros) (Petitjean 1989), e ii) a explicitação da natureza dos critérios inerentes a essas classificações (Adam 2001, Maingueneau 1998). Apresentadas estas propostas, são sublinhadas as que consideramos mais pertinentes usar em contexto didático, e aplicadas a textos literários recomendados pelos programas de Português do ensino básico e secundário. Por fim, são dissecadas as propriedades que permitem inserir alguns desses textos nas classes em que consensualmente são incluídos (com destaque para textos dos géneros romance, epopeia, conto e soneto). Pretende-se, deste modo, apresentar uma sistematização operatória de classes de textos literários que seja aplicável na sala de aula e que esteja em conformidade com o que está previsto nos programas de Português. A dimensão pedagógica da reflexão constituirá um apoio aos professores do ensino básico e secundário na didatização dos conceitos abordados. As reflexões apresentadas são extensíveis a textos de outros géneros literários (como a novela, a cantiga, o auto, etc.), de outros tipos de discurso (como o discurso jornalístico, o discurso académico, etc.) ou de géneros avulsos (como a carta, o horário, o relatório, etc.).
- A aquisição da assimilação de vozeamento da fricativa em coda no português por aprendentes chinesesPublication . Wang, Xinyan; Castelo, Adelina; Zhou, ChaoNo sistema fonológico do português europeu (PE), regista-se um processo de assimilação de vozeamento da consoante fricativa em coda silábica, sendo esta produzida como [ʒ] antes de consoante vozeada e como [ʃ] antes de consoante não vozeada – cf. Mateus e Andrade (2000). Já há estudos sobre a aquisição segmental das fricativas entre os falantes nativos de chinês mandarim (CM) que aprendem português como língua segunda (L2) (e.g. Ci, 2021). Contudo, até onde sabemos, não existe qualquer estudo sobre a aquisição deste processo de assimilação do PE entre os falantes nativos de CM, pelo que a avaliação da aplicação do processo na produção destes aprendentes pode contribuir para uma melhor compreensão da sua aquisição fonológica do PE e para a reflexão sobre diferentes modelos de aquisição da fonologia de uma L2 (e.g. Flege, 1995; Escudero & Boersma 2004; Best & Tyler, 2007). Assim sendo, o presente trabalho visa observar a especificação do vozeamento da consoante fricativa em posição de coda, na fala controlada produzida por falantes nativos de CM que são aprendentes de PE. Para o efeito, foi desenhada uma tarefa de leitura em voz alta de 40 pseudopalavras e de 20 pseudopalavras-distratoras. Todas as pseudopalavras consistiram em dissílabos paroxítonos com o formato CVCfricativa.CV, havendo cinco grupos de 8 pseudopalavras cada, de acordo com o modo de articulação da consoante da segunda sílaba: fricativa não vozeada, fricativa vozeada, oclusiva oral não vozeada, oclusiva oral vozeada, oclusiva nasal (vozeada). A lista das pseudopalavras foi apresentada aos participantes que as deveriam ler integradas na frase-veículo “Digo XX novamente.”, sendo estas produções gravadas no próprio telemóvel do participante. Ao todo, foram recolhidas as produções de dez falantes nativos de PE e de trinta aprendentes chineses de PE. Os resultados dos falantes nativos revelam uma aplicação sistemática do processo (99.75%). Pelo contrário, nos aprendentes de português como L2 é visível o predomínio de produções da fricativa não vozeada, mesmo quando em adjacência a uma consoante vozeada (9.91% de produções vozeadas; 90.09% de produções não vozeadas): muitos aprendentes usam quase exclusivamente a fricativa não vozeada em todos os contextos e alguns tendem a empregar a vozeada apenas antes de consoante nasal (11.67%) (e não antes de oclusiva oral ou fricativa vozeadas). Após uma apresentação detalhada dos resultados obtidos, são analisadas as implicações destes resultados tanto em termos de aquisição fonológica como de questões didáticas.
- A aquisição da assimilação de vozeamento da fricativa em coda no português por aprendentes chineses: resultados preliminaresPublication . Wang, Xinyan; Castelo, Adelina; Zhou, ChaoNo sistema fonológico do português europeu (PE), regista-se um processo de assimilação de vozeamento da consoante fricativa em coda silábica, sendo esta produzida como [ʒ] antes de consoante vozeada e como [ʃ] antes de consoante não vozeada – cf. Mateus e Andrade (2000). Já há estudos sobre a aquisição segmental das fricativas entre os falantes nativos de chinês mandarim (CM) que aprendem português como língua segunda (L2) (e.g. Ci, 2021). Contudo, até onde sabemos, não existe qualquer estudo sobre a aquisição deste processo de assimilação do PE entre os falantes nativos de CM, pelo que a avaliação da aplicação do processo na produção destes aprendentes pode contribuir para uma melhor compreensão da sua aquisição fonológica do PE e para a reflexão sobre diferentes modelos de aquisição da fonologia de uma L2 (e.g. Flege, 1995; Best & Tyler, 2007). Assim sendo, o presente trabalho visa observar a especificação do vozeamento da consoante fricativa em posição de coda, na fala controlada produzida por falantes nativos de CM que são aprendentes de PE. Para o efeito, foi desenhada uma tarefa de leitura em voz alta de 40 pseudopalavras e de 20 pseudopalavras-distratoras. Todas as pseudopalavras consistiram em dissílabos com o formato CVCfricativa.CV, havendo cinco grupos de 8 pseudopalavras cada de acordo com o modo de articulação da consoante da segunda sílaba: fricativa não vozeada, fricativa vozeada, oclusiva oral não vozeada, oclusiva oral vozeada, oclusiva nasal (vozeada). A lista das pseudopalavras foi apresentada aos participantes que as deveriam ler integradas na frase-veículo “Digo XX novamente.”, sendo estas produções gravadas no próprio telemóvel do participante. Ao todo, foram recolhidas as produções de dez falantes nativos de PE e de trinta aprendentes chineses de PE. Os resultados dos falantes nativos revelam uma aplicação sistemática do processo. Pelo contrário, nos aprendentes de português como L2 é visível o predomínio de produções da fricativa não vozeada, mesmo quando em adjacência a uma consoante vozeada: muitos aprendentes usam quase exclusivamente a fricativa não vozeada em todos os contextos e alguns tendem a empregar a vozeada apenas antes de consoante nasal (e não antes de oclusiva oral ou fricativa vozeadas). Após uma apresentação detalhada dos resultados obtidos, são analisadas as implicações destes resultados tanto em termos de aquisição fonológica como de questões didáticas.
- Aquisição da linguagem e a linguística cognitiva: que competências para o falante não-nativo?Publication . Batoréo, HannaEm Psicolinguística, e, em especial, na área da Aquisição da Linguagem, os estudos sobre os processos de aquisição e de aprendizagem de uma dada língua pelos falantes não-nativos têm focado as competências linguísticas de carácter estrutural (isto é, competências sintáctica, morfológica, fonológica ou lexical). No presente estudo, pretendemos, no entanto, focar a área a partir do enquadramento da Linguística Cognitiva, a fim de discutir a noção de competência metafórica, no contexto específico da aquisição e da aprendizagem do Português como Língua Não-Materna (PLNM). Em primeiro lugar, defenderemos, aqui, que quem aprende uma língua nova deve fazê-lo de um modo conceptualmente adequado, adquirindo consciência metafórica, se o objectivo é comunicar com os outros por meio da linguagem figurada, tal como o fazem os falantes natiuvos, conforme demonstrado pelos estudos desenvolvidos no âmbito da Linguística Cognitiva. Defenderemos, também, que a investigação na área não se pode limitar ao estudo restrito da Linguagem, abrangendo, antes, a interacção entre as componentes do trinómio Cognição – Linguagem – Cultura. Esta interacção implica incorporação (embodiment), ou seja a conceptualização do mundo que é feita através do nosso corpo, assim como através das experiências corporais e actividades efectuadas pelo Homem, mediadas pela cultura em que esta experiência se enquadra (incorporação física e cultural). Como as culturas diferem entre si, as emoções ou os valores em culturas diferentes podem ser conceptualizados por meio das partes do corpo distintas, a fim de veicularem emoções ou valores análogos. Adquirir conhecimento do modo como este processo se desenvolve num idioma diferente da língua materna obriga o falante não-nativo a reestruturar-se conceptualmente e garante um processo mais motivado, tendo como objectivo comunicar e expressar-se figuradamente na língua não-materna.
- Aquisição das vogais médias do português na China: alguns dados sobre a perceçãoPublication . Castelo, Adelina; Zhou, Chao; Amorim, ClaraTrabalhos anteriores revelam que, ao adquirir o Português Europeu (PE) como língua não-materna (L2), aprendentes com o chinês mandarim (CM) como língua materna (L1) e um nível de proficiência no PE tanto elementar (Castelo & Freitas, 2019) como mais avançado (Duan, 2021) neutralizam a distinção entre /e/ e /ɛ/ para a vogal baixa na sua produção em Português L2. Dado que os principais modelos de aquisição fonológica em L2 (Flege, 1995; Escudero & Boersma, 2004; Best & Tyler, 2007) assumem um vínculo estreito entre a perceção e a produção da fala em L2, é possível atribuir a dificuldade de produção observada a uma perceção incorreta: as duas vogais-alvo da L2 são percetivamente assimiladas a uma única categoria da L1. Neste trabalho, testámos explicitamente esta hipótese baseada na perceção, avaliando como os aprendentes falantes nativos de CM categorizam percetivamente as vogais-alvo /e/ e /ɛ/ do PE. Setenta aprendentes falantes nativos de CM realizaram uma tarefa de identificação de escolha forçada. Os estímulos da tarefa foram 36 pseudopalavras dissilábicas paroxítonas com consoantes oclusivas ou fricativas e vogais-alvo sempre em posição tónica (12 itens CVCV × 3 falantes). Cada estímulo foi produzido por três falantes nativas do português de Lisboa e validado percetivamente por outras cinco falantes nativas da mesma variedade. Os participantes incluíram professores e alunos de licenciaturas de Português em universidades chinesas e, portanto, apresentaram diferentes níveis de proficiência na L2, que foram medidos pelo LextPT (Zhou & Li, 2021). A recolha de dados foi feita a distância, com os participantes a realizarem as tarefas numa plataforma de e-learning, usando o seu dispositivo digital e auscultadores. Os resultados percetivos mostram que os aprendentes com o CM como L1 não conseguem distinguir as duas vogais do PE, tal como mostrado na Figura 1. Em total contraste com os resultados de estudos de produção anteriores (Castelo & Freitas, 2019; Duan, 2021), onde a distinção vocálica é de alguma forma preservada (caso contrário, a confusão também teria sido bidirecional), os resultados atuais sugerem que as duas modalidades de fala podem não se desenvolver em conjunto na aprendizagem da fala em L2. Além disso, uma regressão logística de efeitos mistos não encontra qualquer efeito da proficiência em L2 no desempenho percetivo dos alunos. Portanto, nenhuma evidência indica que a dificuldade percetiva observada será mitigada com um aumento na proficiência em PE como L2.
- Aquisição das vogais médias do português na China: os desafios de um desenho experimentalPublication . Castelo, Adelina; Zhou, Chao; Amorim, ClaraVários estudos na literatura têm mostrado que os aprendentes que utilizam poucos contrastes vocálicos na sua língua materna (L1) têm muita dificuldade em dominar um inventário vocálico não-nativo (L2) mais complexo (e.g. L1: espanhol; L2: inglês) (Bundgaard-Nielsen et al., 2011; Sousa et al., 2017). O mesmo problema foi revelado na aquisição das vogais do português por aprendentes chineses tanto em níveis iniciais (Castelo & Freitas, 2019), como em níveis de proficiência linguística mais avançados (Duan, 2021). Particularmente, a distinção entre /e/ e /ɛ/ encontra-se neutralizada nas produções orais em português por falantes nativos de chinês mandarim (CM). De acordo com vários modelos da aquisição fonológica de L2 (Flege, 1995; Escudero & Boersma, 2004; Best & Tyler, 2007), esta dificuldade pode ser atribuída ao facto de as duas vogais de L2 serem percetivelmente assimiladas a uma categoria de L1. Por este motivo, será relevante recorrer a dados percetivos para melhor compreender esta dificuldade dos aprendentes chineses na aquisição do português como L2 (PL2), já que os estudos anteriores se focalizaram na produção de fala em L2. Além disso, considerando que o contraste entre /e/ e /ɛ/ é por vezes representado através da acentuação gráfica na ortografia do português (e.g. Castelo, 2018) e que alguns estudos mostram a influência da ortografia no desenvolvimento da pronúncia numa L2 (Hayes-Harb, 2018), é possível que o uso de pistas ortográficas mitigue a dificuldade dos aprendentes chineses em desenvolver representações lexicais que incluam adequadamente o contraste segmental em causa. Tendo em conta os factos acima apresentados, deu-se início ao projeto de investigação “Aquisição de vogais portuguesas na China – dados percetivos”, que procura responder às seguintes questões acerca das vogais tónicas médias e baixas: (1) As produções desviantes dos falantes nativos de CM aprendentes de PL2 são motivadas por desvios percetivos?; (2) A existência de pistas ortográficas favorece a construção de uma representação fonológica adequada na aquisição de novas palavras?; (3) Há diferenças na perceção dos contrastes de altura em aprendentes com diferentes níveis de proficiência linguística? A construção do desenho experimental deste estudo revelou inúmeros desafios e a sua testagem num estudo-piloto mostrou também aspetos merecedores de reflexão. Assim sendo, o objetivo deste póster consiste em partilhar e fundamentar as opções tomadas no desenho experimental construído e em refletir sobre os seus êxitos e limitações, a partir das propostas da literatura e dos resultados do estudo-piloto. Consequentemente, o póster integrará quatro secções: (1) introdução, com fundamentação do projeto, objetivos e secções do póster; (2) apresentação das questões do desenho experimental, com a fundamentação das opções tomadas; (3) discussão dessas questões com base na literatura e nos resultados do estudo-piloto; (4) considerações finais. Mais concretamente, pretende-se refletir principalmente sobre quatro questões relativas ao desenho experimental desta investigação: os participantes, os estímulos linguísticos, as tarefas e as condições de recolha de dados. Os participantes são falantes nativos de CM, alunos de 1.º ou 3.º ano de licenciaturas na área de PL2 de diferentes instituições de ensino superior do Interior da China. Os estímulos linguísticos são pseudopalavras, paroxítonas e dissilábicas, com sílabas CV, consoantes oclusivas ou fricativas e as vogais-alvo em posição tónica; as variáveis manipuladas são a altura de vogal (média / baixa) e a pista ortográfica sobre a abertura de vogal (presente / ausente). Existem dois conjuntos de estímulos linguísticos: 12 pseudopalavras com vogais-alvo coronais; 6 pseudopalavras com vogais-alvo labiais. Cada estímulo foi produzido por três falantes nativas do português de Lisboa, sendo a produção do contraste em causa validada através da perceção de outras cinco falantes nativas da mesma variedade. A recolha de dados é feita a distância através de uma reunião Zoom: os investigadores dão as orientações e monitorizam, enquanto os participantes realizam as tarefas numa plataforma de e-learning, com o seu dispositivo digital e auscultadores. As tarefas incluem a identificação da vogal tónica nas 12 pseudopalavras com o contraste /e/-/ɛ/ e a aprendizagem dessas pseudopalavras. Cerca de uma semana mais tarde, os participantes realizam uma tarefa de deteção lexical baseada nas pseudopalavras aprendidas, uma tarefa de identificação da vogal nas pseudopalavras com o contraste /o/-/ɔ/ e uma tarefa para verificar a aprendizagem das 12 pseudopalavras iniciais. Os resultados de um estudo-piloto revelaram dificuldades sobretudo ao nível do envolvimento dos participantes e da tarefa de aprendizagem de pseudopalavras, estando a ser equacionadas estratégias para ultrapassar estas limitações.
- Aquisição fonológica de L2: alguns conhecimentos e interrogações. Intervenção na mesa-redonda “Aquisição e desenvolvimento linguísticos: investigação e aplicações”Publication . Rato, Anabela; Castelo, Adelina; Zhou, ChaoEsta participação numa mesa-redonda sobre a aquisição do Português tem o objetivo de destacar conhecimentos e interrogações sobre aspetos importantes da aquisição fonológica de L2. Para isso, aborda os seguintes tópicos: (1) Influência interlinguística ao nível segmental e suprassegmental; (2) Interação entre fonologia e ortografia na aquisição de L2; (3) Relação entre perceção e produção dos segmentos de L2 a a transferência de aprendizagem entre modalidades; (4) Impacto de diferentes variáveis na aquisição; (5) Aspetos metodológicos.
- Competência metafórica em português língua não-materna: reestruturação e adequação conceptuais do falante não-nativoPublication . Batoréo, HannaNo âmbito do enquadramento teórico da Linguística Cognitiva, pretende discutir-se a noção de competência metafórica (Aleshtar & Dowlatabadi 2014: 1895; cf. Batoréo 2015, 2018, 2019), no contexto específico da aquisição e aprendizagem do Português como Língua Não-Materna (PLNM). Na sequência dos estudos desenvolvidos por Gibbs (1994), defende-se que quem aprende uma língua nova deve fazê-lo de um modo conceptualmente adequado, adquirindo consciência metafórica, se o objectivo é comunicar com os outros, usando linguagem figurada, tal como acontece no dia-a-dia dos falantes nativos. Aprender como este processo se desenvolve num idioma diferente da nossa língua materna obriga o falante não-nativo a reestruturar-se conceptualmente (Yu 2007) e garante um processo cognitivamente mais motivado (cf. Boers 2001, Boers et al. 2004, 2007), tendo como objectivo comunicar de um modo figurado na língua não-nativa. No âmbito da Psicolinguística em que se inclui, para além da Compreensão e Produção da Linguagem, a área da Aquisição da mesma, defende-se que a investigação na área não se pode limitar apenas ao estudo restrito dos aspectos estruturais da língua nova, mas deve, antes, abranger a interacção entre as componentes do trinómio Cognição – Linguagem – Cultura. Esta interacção implica incorporação (embodiment), ou seja a conceptualização do mundo que é feita através do nosso corpo, assim como das experiências corporais e actividades efectuadas pelo Homem, mediadas pela cultura em que esta experiência se enquadra, dando, deste modo, origem à incorporação física e cultural. Como as culturas diferem entre si, as emoções e/ ou os valores podem ser conceptualizados em função da localização em partes de corpo distintas (cf. Yu 2003, 2007, 2009; Batoréo 2017a, 2017b, 2018, 2019), obrigando o falante não-nativo a reestruturar-se conceptualmente. Além das competências linguísticas de carácter estrutural estudadas tradicionalmente - tais como a competência fonológica, morfológica, sintáctica ou lexical -, a competência metafórica surge, deste modo, como uma competência indispensável para um desempenho fluente no âmbito do PLNM.