Linguística | Comunicações em congressos, conferências / Linguistics - Communications in congresses, conferences
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- Erros ortográficos no 1.º ciclo do ensino básico: um estudo-piloto longitudinalPublication . Castelo, AdelinaApesar do auxílio dos corretores ortográficos, é preciso continuar a promover o domínio da ortografia, entre outras razões, pelo seu importante valor social e metalinguístico. Um projeto de investigação no âmbito do qual se integra o presente estudo-piloto visa identificar os conhecimentos necessários para os professores promoverem tal domínio ortográfico – a distinção de erros ortográficos ou formas gráficas não convencionais (FNCs) de diferentes naturezas a fim de adotar as estratégias instrucionais adequadas e o (re)conhecimento dos percursos (a)típicos de desenvolvimento ortográfico (e.g. Bahr et al., 2012). É de sublinhar que o conhecimento ortográfico nos primeiros anos de escolarização constitui um preditor importante do desenvolvimento da ortografia durante a escolaridade (Johnels et al., 2024). No caso do português europeu, existem já reflexões sobre a promoção da ortografia (e.g. Alves Martins, 2021), bem como pesquisas que exploram as relações entre a aquisição fonológica e o desenvolvimento ortográfico (e.g. Costa et al., 2021; Rodrigues & Lourenço-Gomes, 2021) e estudos longitudinais que avaliam a ocorrência de diferentes tipos de erros (e.g. Horta Vasconcelos & Alves Martins, 2009). No entanto, será relevante alargar o número de dados analisados e usar uma categorização que permita distinguir todos os tipos de erros, mostrando a sua natureza, e seja relativamente fácil de usar por parte dos professores. Após diversas propostas para o português, Baptista et al. (2011) criaram uma bastante abrangente e adequada, que será adotada, com ligeiras adaptações, neste projeto. Assim, este estudo-piloto tem três questões de investigação: (1) quais são os erros ortográficos mais comuns nos 2.º e 4.º anos; (2) por que motivo(s) esses erros são predominantes; (3) quais são os padrões de desenvolvimento ortográfico em alunos com alto e baixo desempenho. Para responder a estas questões, analisámos um total de 40 textos escritos do corpus EFFE-On (Rodrigues et al., 2015): 4 textos (um narrativo e um descritivo escritos no 2.º ano e igualmente um narrativo e um descritivo escritos no 4.º) elaborados por cada um de 10 alunos (todos falantes nativos do Português de Lisboa, sem problemas de audição ou de linguagem e filhos de pais licenciados). Para a análise dos erros ortográficos, utilizámos a categorização proposta por Baptista et al. (2011) com ligeiras adaptações: transcrição de oralidade incorreta (ex. *dromir); segmentação de palavras (ex. *derrepente); maiúsculas e minúsculas (ex. *lisboa); translineação (ex. *ma-ssa); acentuação gráfica (ex. *clinica); regras ortográficas básicas (ex. *brato); regras ortográficas contextuais (*ponba); regras ortográficas de base morfológica (ex. *iram); ortografias irregulares (ex. *jente). Calcularam-se as proporções de cada tipo de erro por número total de palavras e avaliaram-se os resultados em termos de grupo (2.º ou 4.º ano) e também a nível individual (nomeadamente comparando os resultados dos alunos com melhor desempenho com os alunos de desempenho mais baixo). Os erros ortográficos mais comuns nos 2.º e 4.º anos pertencem às categorias de acentuação gráfica e ortografia irregular, mas no 2.º ano também existem bastantes erros relacionados com regras ortográficas básicas e contextuais. Enquanto os alunos com melhor desempenho apresentam mais dificuldades na acentuação gráfica e na ortografia irregular, os alunos com um desempenho mais baixo revelam também outros erros e nenhuma melhoria na ortografia irregular do 2.º ao 4.º ano. As possíveis motivações para estes erros, as implicações educacionais dos resultados e as próximas etapas do projeto são discutidas.
- O que são sons? Competência metafonológica de futuros professoresPublication . Amorim, Clara; Castelo, AdelinaA importância do desenvolvimento da consciência linguística e, em particular, da consciência fonológica no processo de aquisição da leitura e escrita tem sido destacada ao longo das últimas décadas (e.o. Freitas et al., 2007). Os documentos orientadores para a Educação Pré-Escolar (EPE) e para o ensino de Português no 1.º Ciclo do Ensino Básico (CEB) refletem os resultados da investigação, incluindo o desenvolvimento da consciência fonológica como um dos conteúdos a trabalhar. Já em 2006, para melhorar o ensino de português no 1.º CEB, foi implementado o Programa Nacional do Ensino do Português, que incluiu formação contínua de professores e correspondentes materiais didáticos, nomeadamente os dedicados à consciência linguística (Duarte, 2008), lexical (Duarte, 2011) e fonológica (Freitas et al., 2007). Apesar de tudo isto, um estudo exploratório (Amorim & Castelo, no prelo) mostra que as práticas educativas, as crenças e a formação profissional continuam distantes do que seria adequado. Resultados semelhantes têm sido relatados noutros países (e.g. Giménez et al., 2022; Jaskolski & Moyle, 2023) e um estudo recente sobre a preparação, em Portugal, dos futuros professores para o ensino da leitura e da escrita conclui, a partir da análise de fichas de unidades curriculares, que componentes essenciais para o ensino destas competências não são abordadas de forma explícita na formação inicial de professores (Leite et al., 2022). O presente trabalho pretende abordar a preparação da próxima geração de profissionais de educação dos níveis iniciais (EPE e 1.º CEB), investigando as competências de consciência fonológica de estudantes da licenciatura em Educação Básica e dos mestrados que habilitam para a docência na EPE e no 1.º CEB. Para isso, colocámos as seguintes questões: (1) Quais são os níveis de desempenho em tarefas de consciência fonológica no início do 1.º ano da licenciatura e de mestrado? (2) Que áreas devem ser reforçadas na formação inicial, de modo a preparar melhor os futuros profissionais para a promoção da consciência fonológica? Participaram neste estudo 98 estudantes (64 de licenciatura e 34 de mestrado), que responderam a um questionário online durante a primeira aula do ano letivo. O instrumento continha 41 questões, oito das quais se destinavam à caracterização dos participantes. As restantes incidiam sobre consciência silábica (e.g. número de sílabas), consciência fonémica (e.g. número de sons), relação fonema-grafema (e.g. som representado por um grafema) e conhecimento fonológico explícito (e.g. explicação de processos fonológicos). Os resultados mostram que os estudantes são influenciados pela ortografia em atividades de consciência silábica e fonémica, sobretudo em palavras cuja ortografia não é transparente (e.g. mais de 90% dos participantes indicam que “têm” é constituída por apenas uma sílaba). Revelam também desconhecimento de regras ortográficas, em especial, a grafia de ditongos nasais, manifestando dificuldades na identificação de ditongos nasais que não sejam assinalados por til (e.g. mais de metade dos participantes considera que “órgão” rima com “órfão”). Estes resultados vão ao encontro do relatado para outras línguas (e.g. Carroll et al., 2012; Jaskolski & Moyle, 2023), apontam para a necessidade de reforçar o ensino da consciência fonológica na formação inicial de professores e permitem identificar tópicos fonológicos específicos a abordar nessa formação.
- Acquisition of Portuguese mid vowels by Chinese Mandarin native speakers: some data on perceptionPublication . Castelo, Adelina; Zhou, Chao; Amorim, ClaraPrior research reveals that, when acquiring European Portuguese (EP), L1-Mandarin learners with beginning ([1]) and more advanced proficiency levels ([2]) neutralise the distinction between /e/ and /ɛ/ to the low vowel in their L2-Portuguese production. Given that major L2 speech learning models ([3], [4], [5]) assume a tight link between L2 speech perception and production, we speculate that the observed production difficulty can be ascribed to misperception: the two target vowels are perceptually assimilated to an L1 category. In this work, we explicitly tested this perception-based account by assessing how L1-Mandarin learners perceptually categorise EP /e/ and /ɛ/. 70 L1-Mandarin learners, whose Portuguese proficiency level was measured by LextPT ([6]), performed a forced-choice identification task. The test stimuli are 36 disyllabic paroxytone pseudowords with target vowels always in stressed position (12 CVCV items × 3 talkers). The perceptual results show that L1-Mandarin learners fail to discriminate between the two EP vowels, as shown in Figure 1. In stark contrast to previous production studies ([1], [2]), where the vowel distinction is somehow preserved (otherwise the confusability would have been bidirectional as well), the current results suggest that the two speech modalities may not develop in tandem in L2 speech learning. Moreover, a mixed-effects logistic regression does not find an effect of L2 proficiency on learners’ perceptual performance. No evidence thus indicates that the observed perceptual difficulty will be mitigated with an increase in L2-Portuguese proficiency.
- Preliminary results on the acquisition of Portuguese voicing assimilation in coda fricative by Chinese learnersPublication . Wang, Xinyan; Castelo, Adelina; Zhou, ChaoIn the phonological system of European Portuguese (EP), there is a process of voicing assimilation in the fricative in Coda position, which is produced as [ʒ] before a voiced consonant and as [ʃ] before a voiceless consonant ([1]). There are already studies on the segmental acquisition of fricatives among the native speakers of Mandarin Chinese (MC) who learn Portuguese as a second language (L2) (e.g. [2]). However, to the best of our knowledge, there is no study on the acquisition of this EP assimilation process of among MC native speakers. Consequently, evaluating the process application in the production of these learners can contribute to a better understanding of their phonological acquisition in EP and to a reflection on different models of phonology acquisition of an L2 (e.g. [3], [4]). Therefore, the present work aims to observe the voicing specification in the fricative in Coda position, in controlled speech produced by MC native speakers who are learners of EP. Ten EP native speakers and thirty Chinese learners of EP participated in a reading task. The stimuli consist of 40 pseudowords and 20 distractors. All items were disyllabic words with the format CVC.CV, including five groups of 8 pseudowords each according to the manner of articulation of the second syllable consonant: voiceless fricative, voiced fricative, voiceless oral stop, voiced oral stop, nasal stop. Participants were recorded reading each item within a carrier the sentence “Digo XX novamente.” (“I say XX again.”). The results show that, as expected, the native speakers applied voicing assimilation systematically; by contrast, the Chinese learners predominantly produced voiceless fricatives, regardless of the voicing of the following consonant. There might be an effect of the manner of the following consonant, as many learners use almost exclusively the voiceless consonant in all contexts while some tend to employ the voiced one only before a nasal consonant. These results suggest that the success in learning the fricative voicing ([2]) does not guarantee the acquisition of a phonological process implying such voicing alternation. After a detailed presentation of the results, the implications of these are analyzed in terms of phonological acquisition and didactic implementation.
- A produção de vogais não-centrais médias e baixas em aprendentes chineses de português como língua estrangeira: revisitação de dadosPublication . Castelo, Adelina; Nazaré Santos, Rita; Freitas, Maria JoãoNo presente trabalho, focar-nos-emos nas vogais fonológicas não-centrais (coronais e labiais), por serem as classes que apresentam contrastes de altura em português europeu (PE). No sistema fonológico do PE, tanto as vogais coronais como as labiais apresentam três níveis de altura, frequentemente classificados como alto, médio e baixo (vogais coronal e labial, respetivamente, em cada par): /i, u/ como altas; /e, o/ como médias; /ɛ, ɔ/ como baixas (cf. Mateus e Andrade, 2000; Mateus, Falé e Freitas, 2016). Já no chinês mandarim (CM), registam-se menos contrastes de altura nestas classes de vogais, levando Duanmu (2007), por exemplo, a propor um sistema fonológico com apenas duas vogais não-centrais: a coronal alta /i/ e a labial alta /u/. Para melhor compreender o desenvolvimento da aquisição fonológica do PE por parte dos falantes nativos de CM, é, pois, pertinente observar as produções das vogais não-centrais, sobretudo dos segmentos médios e baixos, inexistentes no CM. Contudo, os poucos dados sobre a produção destas vogais estão dispersos em vários estudos, com diferenças ao nível dos grupos de participantes (com diferentes perfis sociolinguísticos) e das tarefas de produção. Assim sendo, a presente comunicação pretende revisitar esses estudos e analisar os seus resultados, a fim de obter uma melhor compreensão do fenómeno em causa. Os resultados de Oliveira (2006), embora obtidos com aprendentes de outras línguas maternas que não o CM, revelam-nos já, mesmo nos níveis de proficiência linguística B1 e C2 (segundo o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, 2001) e em tarefas de fala controlada, dificuldades na produção dos contrastes [e]-[ɛ] e [o]-[ɔ]. Castelo e Santos (2017) analisaram as produções de fala espontânea de aprendentes chineses com diferentes níveis de proficiência linguística e identificaram erros frequentes na produção dos segmentos-alvo [e] e [o], bem como erros frequentemente relacionados com a altura das vogais. Castelo e Freitas (2019), por seu turno, observaram as produções de aprendentes chineses de nível A2 numa tarefa de nomeação e registaram problemas sobretudo na produção de [e] e [o], maioritariamente substituídos pelos vogais baixas correspondentes. Finalmente, Duan (2021) observou igualmente dificuldades na produção de [e] e [o], em aprendentes com um nível de proficiência mínima de B2 e em diferentes tarefas de produção (desde imitação e leitura, até nomeação e fala espontânea). Zhang (2018) e Nan (2021) são dissertações recentes, cujos resultados sobre produção de vogais por falantes de CM igualmente consideraremos. Em síntese, no presente trabalho, pretendemos converter os resultados dos estudos acima mencionados em taxas de sucesso (por exemplo, o trabalho de Castelo e Santos, 2017, baseia-se apenas na apresentação dos erros encontrados), sistematizar as estratégias de reconstrução utilizadas pelos aprendentes, bem como comparar e analisar os resultados em termos dos níveis de proficiência dos aprendentes, dos tipos de tarefas de produção e dos inventários vocálicos do PE e do CM.
- A aquisição da assimilação de vozeamento da fricativa em coda no português por aprendentes chineses: resultados preliminaresPublication . Wang, Xinyan; Castelo, Adelina; Zhou, ChaoNo sistema fonológico do português europeu (PE), regista-se um processo de assimilação de vozeamento da consoante fricativa em coda silábica, sendo esta produzida como [ʒ] antes de consoante vozeada e como [ʃ] antes de consoante não vozeada – cf. Mateus e Andrade (2000). Já há estudos sobre a aquisição segmental das fricativas entre os falantes nativos de chinês mandarim (CM) que aprendem português como língua segunda (L2) (e.g. Ci, 2021). Contudo, até onde sabemos, não existe qualquer estudo sobre a aquisição deste processo de assimilação do PE entre os falantes nativos de CM, pelo que a avaliação da aplicação do processo na produção destes aprendentes pode contribuir para uma melhor compreensão da sua aquisição fonológica do PE e para a reflexão sobre diferentes modelos de aquisição da fonologia de uma L2 (e.g. Flege, 1995; Best & Tyler, 2007). Assim sendo, o presente trabalho visa observar a especificação do vozeamento da consoante fricativa em posição de coda, na fala controlada produzida por falantes nativos de CM que são aprendentes de PE. Para o efeito, foi desenhada uma tarefa de leitura em voz alta de 40 pseudopalavras e de 20 pseudopalavras-distratoras. Todas as pseudopalavras consistiram em dissílabos com o formato CVCfricativa.CV, havendo cinco grupos de 8 pseudopalavras cada de acordo com o modo de articulação da consoante da segunda sílaba: fricativa não vozeada, fricativa vozeada, oclusiva oral não vozeada, oclusiva oral vozeada, oclusiva nasal (vozeada). A lista das pseudopalavras foi apresentada aos participantes que as deveriam ler integradas na frase-veículo “Digo XX novamente.”, sendo estas produções gravadas no próprio telemóvel do participante. Ao todo, foram recolhidas as produções de dez falantes nativos de PE e de trinta aprendentes chineses de PE. Os resultados dos falantes nativos revelam uma aplicação sistemática do processo. Pelo contrário, nos aprendentes de português como L2 é visível o predomínio de produções da fricativa não vozeada, mesmo quando em adjacência a uma consoante vozeada: muitos aprendentes usam quase exclusivamente a fricativa não vozeada em todos os contextos e alguns tendem a empregar a vozeada apenas antes de consoante nasal (e não antes de oclusiva oral ou fricativa vozeadas). Após uma apresentação detalhada dos resultados obtidos, são analisadas as implicações destes resultados tanto em termos de aquisição fonológica como de questões didáticas.
- A aquisição da assimilação de vozeamento da fricativa em coda no português por aprendentes chinesesPublication . Wang, Xinyan; Castelo, Adelina; Zhou, ChaoNo sistema fonológico do português europeu (PE), regista-se um processo de assimilação de vozeamento da consoante fricativa em coda silábica, sendo esta produzida como [ʒ] antes de consoante vozeada e como [ʃ] antes de consoante não vozeada – cf. Mateus e Andrade (2000). Já há estudos sobre a aquisição segmental das fricativas entre os falantes nativos de chinês mandarim (CM) que aprendem português como língua segunda (L2) (e.g. Ci, 2021). Contudo, até onde sabemos, não existe qualquer estudo sobre a aquisição deste processo de assimilação do PE entre os falantes nativos de CM, pelo que a avaliação da aplicação do processo na produção destes aprendentes pode contribuir para uma melhor compreensão da sua aquisição fonológica do PE e para a reflexão sobre diferentes modelos de aquisição da fonologia de uma L2 (e.g. Flege, 1995; Escudero & Boersma 2004; Best & Tyler, 2007). Assim sendo, o presente trabalho visa observar a especificação do vozeamento da consoante fricativa em posição de coda, na fala controlada produzida por falantes nativos de CM que são aprendentes de PE. Para o efeito, foi desenhada uma tarefa de leitura em voz alta de 40 pseudopalavras e de 20 pseudopalavras-distratoras. Todas as pseudopalavras consistiram em dissílabos paroxítonos com o formato CVCfricativa.CV, havendo cinco grupos de 8 pseudopalavras cada, de acordo com o modo de articulação da consoante da segunda sílaba: fricativa não vozeada, fricativa vozeada, oclusiva oral não vozeada, oclusiva oral vozeada, oclusiva nasal (vozeada). A lista das pseudopalavras foi apresentada aos participantes que as deveriam ler integradas na frase-veículo “Digo XX novamente.”, sendo estas produções gravadas no próprio telemóvel do participante. Ao todo, foram recolhidas as produções de dez falantes nativos de PE e de trinta aprendentes chineses de PE. Os resultados dos falantes nativos revelam uma aplicação sistemática do processo (99.75%). Pelo contrário, nos aprendentes de português como L2 é visível o predomínio de produções da fricativa não vozeada, mesmo quando em adjacência a uma consoante vozeada (9.91% de produções vozeadas; 90.09% de produções não vozeadas): muitos aprendentes usam quase exclusivamente a fricativa não vozeada em todos os contextos e alguns tendem a empregar a vozeada apenas antes de consoante nasal (11.67%) (e não antes de oclusiva oral ou fricativa vozeadas). Após uma apresentação detalhada dos resultados obtidos, são analisadas as implicações destes resultados tanto em termos de aquisição fonológica como de questões didáticas.
- Aquisição das vogais médias do português na China: alguns dados sobre a perceçãoPublication . Castelo, Adelina; Zhou, Chao; Amorim, ClaraTrabalhos anteriores revelam que, ao adquirir o Português Europeu (PE) como língua não-materna (L2), aprendentes com o chinês mandarim (CM) como língua materna (L1) e um nível de proficiência no PE tanto elementar (Castelo & Freitas, 2019) como mais avançado (Duan, 2021) neutralizam a distinção entre /e/ e /ɛ/ para a vogal baixa na sua produção em Português L2. Dado que os principais modelos de aquisição fonológica em L2 (Flege, 1995; Escudero & Boersma, 2004; Best & Tyler, 2007) assumem um vínculo estreito entre a perceção e a produção da fala em L2, é possível atribuir a dificuldade de produção observada a uma perceção incorreta: as duas vogais-alvo da L2 são percetivamente assimiladas a uma única categoria da L1. Neste trabalho, testámos explicitamente esta hipótese baseada na perceção, avaliando como os aprendentes falantes nativos de CM categorizam percetivamente as vogais-alvo /e/ e /ɛ/ do PE. Setenta aprendentes falantes nativos de CM realizaram uma tarefa de identificação de escolha forçada. Os estímulos da tarefa foram 36 pseudopalavras dissilábicas paroxítonas com consoantes oclusivas ou fricativas e vogais-alvo sempre em posição tónica (12 itens CVCV × 3 falantes). Cada estímulo foi produzido por três falantes nativas do português de Lisboa e validado percetivamente por outras cinco falantes nativas da mesma variedade. Os participantes incluíram professores e alunos de licenciaturas de Português em universidades chinesas e, portanto, apresentaram diferentes níveis de proficiência na L2, que foram medidos pelo LextPT (Zhou & Li, 2021). A recolha de dados foi feita a distância, com os participantes a realizarem as tarefas numa plataforma de e-learning, usando o seu dispositivo digital e auscultadores. Os resultados percetivos mostram que os aprendentes com o CM como L1 não conseguem distinguir as duas vogais do PE, tal como mostrado na Figura 1. Em total contraste com os resultados de estudos de produção anteriores (Castelo & Freitas, 2019; Duan, 2021), onde a distinção vocálica é de alguma forma preservada (caso contrário, a confusão também teria sido bidirecional), os resultados atuais sugerem que as duas modalidades de fala podem não se desenvolver em conjunto na aprendizagem da fala em L2. Além disso, uma regressão logística de efeitos mistos não encontra qualquer efeito da proficiência em L2 no desempenho percetivo dos alunos. Portanto, nenhuma evidência indica que a dificuldade percetiva observada será mitigada com um aumento na proficiência em PE como L2.
- Aquisição fonológica de L2: alguns conhecimentos e interrogações. Intervenção na mesa-redonda “Aquisição e desenvolvimento linguísticos: investigação e aplicações”Publication . Rato, Anabela; Castelo, Adelina; Zhou, ChaoEsta participação numa mesa-redonda sobre a aquisição do Português tem o objetivo de destacar conhecimentos e interrogações sobre aspetos importantes da aquisição fonológica de L2. Para isso, aborda os seguintes tópicos: (1) Influência interlinguística ao nível segmental e suprassegmental; (2) Interação entre fonologia e ortografia na aquisição de L2; (3) Relação entre perceção e produção dos segmentos de L2 a a transferência de aprendizagem entre modalidades; (4) Impacto de diferentes variáveis na aquisição; (5) Aspetos metodológicos.
- Vogais orais tónicas em aprendentes chineses com proficiência intermédia-alta no português europeu: alguns resultadosPublication . Duan, Hongrui; Castelo, Adelina; Freitas, Maria JoãoNo processo de aquisição da língua portuguesa, existem desafios fonético-fonológicos para os falantes nativos do Chinês Mandarim (CM), sendo uma das maiores dificuldades a aquisição dos pares contrastivos /e/-/ɛ/ e /o/-/ɔ/ do Português Europeu (PE) (e.g. Castelo & Freitas, 2019, para aprendentes de nível elementar; Wang, 1991). Por isso, o objetivo deste trabalho consiste em alargar a investigação sobre a aquisição dessas vogais por falantes nativos do CM a aprendentes de nível intermédio-alto de proficiência linguística e à consideração dos diferentes tipos de tarefa, a par da influência das propriedades vocálicas. Investigámos as produções orais de dezasseis palavras contendo as vogais-alvo por parte de três informantes chinesas de 25 anos que estudavam o português como L2 havia vários anos, tinham três anos de imersão em Portugal e apresentavam uma proficiência linguística de, pelo menos, nível B2 no Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (2001, 2020). Além das palavras-alvo, incluíram-se catorze palavras distratoras. Na escolha das palavras-alvo, controlaram-se as seguintes variáveis linguísticas: categoria morfossintática da palavra (nomes), extensão da palavra (dissílabos), formato silábico (CV), padrão acentual (paroxítono, com as vogais-alvo em posição tónica), contexto fonético da vogal em análise (entre consoantes oclusivas, fricativas ou nasais). As propriedades linguísticas manipuladas foram a altura (médias vs. baixas) e o ponto de articulação de vogal (coronais vs. labiais), de modo que havia quatro condições experimentais e quatro palavras para cada condição (por exemplo, quatro palavras para a vogal média e coronal: dedo, medo, mesa, seda). Optámos ainda por recolher dados através de quatro tarefas: (1) nomeação de imagens; (2) descrição de imagens; (3) repetição de palavras a partir de estímulos auditivos gravados; (4) leitura de texto. Após a validação das imagens com outras participantes chinesas e uma semana antes da recolha de dados, a primeira autora realizou um treino com as três informantes chinesas para garantir o conhecimento das palavras-alvo. A recolha de dados de produção foi efetuada pela primeira autora com cada uma das informantes, de modo individual, num gabinete silencioso, procedendo-se à gravação das produções orais num gravador portável ZOOM H4n Pro com 44.1kHz de frequência de amostragem, a 16 bit, por meio de um microfone vocal SHURE SM58. As vogais-alvo das produções orais foram identificadas através do cruzamento de dados de análise acústica (Praat 6.1.04, cf. Boersma & Weenink, 2019) com a transcrição fonética validada por um conjunto de três transcritores com treino nesta tarefa e falantes nativos do PE. Os resultados da avaliação confirmam a aquisição problemática dos contrastes vocálicos /e/-/ɛ/ e /o/-/ɔ/, sendo especialmente problemática a produção das vogais médias, mesmo em falantes de níveis intermédios-altos de proficiência linguística: a vogal média [e] é produzida corretamente em apenas 17% das sequências (vs. 97,9% na vogal baixa [ɛ]); a vogal média [o] atinge uma taxa de sucesso de 34,8% (vs. 100% na vogal [ɔ]). Estes resultados sugerem um problema específico no domínio do grau de altura das vogais, já que todos os erros das informantes envolvem alterações no grau de altura e nenhuma no ponto de articulação. À vista disto, argumentamos que as informantes terão sofrido um processo de fossilização na sua interlíngua (Selinker, 1972) e discutimos como a transferência do conhecimento prévio do sistema fonológico do CM (cf. descrições de Duanmu, 2007; Lin & Wang, 2013), as caraterísticas fonológicas do PE (cf. descrição de Mateus e d’Andrade, 2000), a Hipótese do Reemprego (Archibald, 2005, 2009) e universais linguísticos ([i, a, u] como vogais não marcadas, universais – e.g. Veloso, 2012) poderão estar a condicionar o seu desempenho. Quanto aos tipos de tarefa, verificamos um melhor desempenho nas tarefas de repetição e de leitura, seguido pelo da tarefa de nomeação e, depois, pelo da tarefa de descrição. Atribuímos estes resultados ao efeito facilitador dos estímulos ortográficos (na leitura) e auditivos (na repetição) e à maior complexidade (na tarefa de descrição). Este resultado confirma a importância de considerar, não só dados de produção controlada, como de produção espontânea, para averiguar o domínio de uma determinada estrutura fonético-fonológica (e.g. Celce-Murcia et al., 2010). Os resultados obtidos mostram, pois, que vários anos de aprendizagem formal e de imersão linguística não são suficientes para os falantes nativos de CM adquirirem os contrastes de altura em /e/-/ɛ/ e /o/-/ɔ/, sendo necessária uma intervenção fonético-fonológica dirigida aos problemas apresentados pelos aprendentes.