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Browsing CEMRI | Teses by Sustainable Development Goals (SDG) "10:Reduzir as Desigualdades"
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- An tia : partilha ritual e organização social entre os Bunak de Lamak Hitu, Bobonaro, Timor-LestePublication . Sousa, Lúcio; Friedberg, Claudine; Rocha-Trindade, Maria BeatrizEsta tese etnográfica, realizada junto de uma comunidade montanhesa do grupo etnolinguístico Bunak, no subdistrito de Bobonaro, Timor-Leste, insere-se no campo de estudos sobre as sociedades do Sudeste Asiático. O seu objectivo, e singularidade consistem em analisar como é que, num contexto pós-conflito, uma comunidade se reconstitui, refazendo a sua organização social e as suas práticas rituais, no contexto das mudanças sociopolíticas ocorridas no passado recente. Na senda da tradição antropológica característica dos estudos da área, será dada particular relevância à forma como o ritual e a tradição oral dualista se relacionam enquanto ideologias estruturantes da comunidade – cientes, no entanto, da pluralidade de visões existentes no seu seio – e da sua inserção cosmológica. Mas, compete, igualmente, relacionar estes dois campos com a agência e a capacidade de adaptação que os indivíduos colocaram nas opções tomadas na reconstrução da sua comunidade, no momento actual, e as tensões que a perseverança dessa identidade coloca, face à modernidade, nomeadamente o Estado e a Igreja. A organização social e a prática ritual não podem deixar de ser contextualizadas nas relações de poder e autoridade que se jogam na comunidade dar-se-á particular relevo a esta dimensão já que a performance ritual é, na acepção local, eminentemente política, pois está associada à necessidade de impor ordem e definir estatutos. O trabalho foi desenvolvido numa perspectiva essencialmente emic, procurando confrontar as ideias e interpretações locais da comunidade com o mundo envolvente, nomeadamente a nova nação. Para o efeito, foi efectuado um trabalho de campo, que assume uma perspectiva diacrónica, tendo por base uma metodologia exploratória, qualitativa, com recurso a diversas técnicas de pesquisa como a etno-história, entrevistas semi-estruturadas e observação participante.
- Associativismo, capital social e mobilidade : contributos para o estudo da participação associativa de descendentes de imigrantes africanos lusófonos em PortugalPublication . Albuquerque, Rosana; Rocha-Trindade, Maria Beatriz; Carmo, HermanoOs resultados que se apresentam decorrem de um projecto de investigação sobre a participação associativa de descendentes de imigrantes de origem africana lusófona em Portugal. A problemática sobre a qual se delineou a pesquisa centra-se na compreensão do processo de participação cívica activa na sociedade portuguesa, mediante a análise dos factores que condicionaram o seu envolvimento em associações e das interacções entre a acção individual e o contexto sociopolítico. A questão central orientou-se em dois eixos, relacionados entre si: um primeiro, que procura identificar catalisadores da participação cívica; um segundo, tenta compreender o papel que a participação associativa desempenha na vida dos sujeitos participantes na pesquisa, especificamente no que respeita a trajectórias de mobilidade social. O associativismo é estudado enquanto instrumento de aquisição de capital social, pois permite o acesso a redes sociais que lhe são intrínsecas, e pelos efeitos que exerce em trajectórias de mobilidade individuais. A estratégia metodológica adoptada nesta investigação caracterizou-se pela abordagem qualitativa e a primazia do paradigma interpretativo. A matéria-prima empírica foi recolhida com base em histórias de vida, a partir de múltiplas entrevistas focalizadas nas trajectórias de dirigentes associativos, descendentes de imigrantes africanos lusófonos. A análise das trajectórias conduziu à elaboração de um sistema de catalisação da participação, que sublinha a influência recíproca entre factores estruturais e individuais. Confirma-se o papel do associativismo como fonte de capital social e de capital cultural e que a articulação de ambos favorece trajectórias de mobilidade social ascendente. Evidencia-se que o associativismo promove a socialização para a cidadania.
- Comunidade política, imigração e coesão social: o caso portuguêsPublication . Costa, Paulo Manuel; Rosas, João Cardoso; Horta, Ana Paula BejaO presente trabalho é um contributo para entender em que medida a existência de múltiplas pertenças étnico-culturais na comunidade política é conciliável com a manutenção de uma comunidade socialmente coesa e politicamente unitária. Tendo em conta a realidade imigratória em Portugal, procurou-se saber quais os laços que ligam os imigrantes à comunidade política e em que medida eles podem ser mobilizados para a integração dos imigrantes num projecto comum de vivência em território nacional. Metodologicamente, este trabalho tem por base a análise qualitativa e quantitativa das políticas e medidas adoptados em Portugal em matéria de imigração, bem como, os resultados do trabalho empírico por nós realizado junto de dois grupos de imigrantes (brasileiros e cabo-verdianos) residentes na área metropolitana de Lisboa, assim como os resultados de um questionário enviado às associações de imigrantes. Os resultados da pesquisa apontam para a existência de uma certa ambivalência política no processo de integração dos imigrantes, a qual se reflecte de algum modo na forma como os nacionais e os imigrantes valorizam o contributo dos imigrantes para a sociedade portuguesa, sobressaindo uma ideia difusa generalizada de que os custos da imigração não compensam os seus benefícios, o que provavelmente afectará o relacionamento recíproco. Apesar de situações objectivas de desigualdade social e económica e da percepção de discriminação existente entre os imigrantes, é possível identificar uma progressiva universalização da cidadania e a aceitação formal das tradições religiosas e culturais dos imigrantes, mesmo não sendo o parlamento português representativo dessa diversidade. Deste modo, afigura-se ser possível assegurar direitos específicos de protecção das minorias étnicas e culturais sem que seja necessária a etnicização ou a culturalização da representação política e os princípios gerais que estruturam a comunidade política nacional poderão ser suficientes para assegurar essa protecção. No entanto, existem indícios que sugerem que o acesso dos imigrantes à esfera pública poderá não ser fácil, o que se poderá traduzir na visibilidade e na discussão pública das suas reivindicações, com consequências a nível do tipo de políticas de integração adoptadas em Portugal.
- O desenvolvimento da relação escola/turma/família como factor de sucesso escolar : estudos de caso em contexto multiculturalPublication . Almeida, Maria Ester de Almeida Proença Simão; Ferreira, Manuela MalheiroO sistema educativo deverá proporcionar uma melhor educação para todos os portugueses, assegurando condições de igualdade de oportunidades e direitos a todas as crianças e jovens em idade escolar, independentemente do seu sexo, origem ou nível socioeconómico. É necessário implementar políticas educativas que resolvam o problema do insucesso e do abandono escolar, sobretudo no primeiro ciclo do ensino básico, nomeadamente adequar o ensino às necessidades dos alunos, às especificidades dos contextos locais e regionais; criar um sistema de avaliação mais justo e mais preocupado em promover a realização das pessoas do que em praticar a exclusão. É preciso olhar a educação como investimento na pessoa humana, como o mais precioso dos tesouros de um povo; arranjar outro modo de administrar o sistema educativo e as escolas e aumentar as qualificações profissionais dos docentes para que se possa melhorar a qualidade do ensino e as aprendizagens. Alguns dos problemas mais prementes que, ultimamente, têm marcado a relação pedagógica e social no grupo/turma estão, sem dúvida, relacionados com a manutenção de estruturas e modos de organização desajustados aos princípios que levam à generalização da escolarização e à promoção de uma escola para todos. As dificuldades que os docentes sentem em envolver os pais na escola, em gerir a heterogeneidade dos seus alunos para, respeitando as suas diferenças, praticarem um ensino individualizado e uma pedagogia diferenciada, constitui igualmente um problema, pois os professores não foram formados para trabalhar desta forma e a mudança é um processo lento, difícil e, por vezes, doloroso, embora necessário. Sendo a Escola e a Família os principais espaços do mundo do aluno, a Educação é tarefa das duas instituições. Pais e professores têm muito em comum, já que ambos têm o objectivo de ajudar as crianças, o que implica que haja um permanente diálogo e uma congregação directa de esforços entre eles. Compete à Escola abrir as portas à família e à comunidade e arranjar estratégias de intervenção que ajudem nesta comunicação e partilha. Não restam dúvidas que o sucesso escolar está directamente relacionado com a participação activa dos pais na educação. Daí pensarmos que a cooperação entre estas instituições deva ser cada vez mais estreita, para que pais/encarregados de educação, professores e comunidade envolvente possam assegurar às crianças uma ajuda coerente e convergente para o seu sucesso como alunos e como cidadãos intervenientes na sociedade. Através de dois estudos de caso em contexto multicultural desejamos chamar a atenção para a necessidade de uma Educação Intercultural na Escola Moderna e para o Desenvolvimento da Relação Escola/Turma/Família como Factor de Sucesso Escolar. Pretendemos também contribuir para melhorar a organização de turmas nas escolas de modo a facilitar a integração das crianças e a que obtenham melhores resultados de aprendizagem. Os principais objectivos do presente estudo foram investigar a influência que a homogeneidade ou heterogeneidade de turmas, sob os pontos de vista étnico, cultural, sócio-económico e de aprendizagem tem no aproveitamento escolar dos alunos, principalmente os pertencentes a minorias étnicas e o desenvolvimento da relação Escola/Turma/Família como factor de sucesso escolar. A investigação foi realizada em duas fases e em duas escolas do Primeiro Ciclo e dois Jardins-de-Infância anexos às mesmas com localização na área periférica da cidade de Lisboa. Uma escola apresentava 60% da população escolar de origem africana e a outra escola cerca de 90% de alunos dessa mesma origem, principalmente cabo-verdiana. A primeira fase do estudo decorreu durante os anos lectivos de 2002 / 2003 / 2004 e incidiu sobre duas turmas de quarto ano de escolaridade, uma das quais era heterogénea sobre os pontos de vista socioeconórnico e cultural, pois era constituída por dezassete alunos, sendo nove lusos, quatro cabo-verdianos, dois angolanos, um são-tomense e um guineense. A outra turma era mais homogénea a todos os níveis, pois era constituída por dezasseis alunos sendo treze de origem cabo-verdiana e três são-tomenses. Para atingir os objectivos desta investigação fizemos observações naturalistas a nível das escolas e das turmas e entrevistas a docentes, a pais/encarregados de educação e a alunos. A segunda etapa da investigação decorreu nas mesmas escolas estudadas anteriormente, e ao longo dos anos lectivos e 2004/2005/2006. Administrámos questionários de perguntas semi-fechadas a professores e encarregados de educação dos alunos das duas instituições escolares, que cognominámos de Barlavento e de Sotavento e observámos actividades nos Jardins-de-Infância anexos às escolas referidas. A formação de turmas está ligada às finalidades da própria Educação, pelo que a elaboração do estudo implicou o aprofundamento do tema da Educação em geral, e da Educação Intercultural em particular. Esta tem de ser encarada como uma abordagem alternativa à Educação Monocultural, de maneira a que o professor possa implementar uma pedagogia diferenciada, adaptada às características de cada aluno. Através da análise da problemática da constituição dos grupos/turmas, podemos verificar que se têm vindo a esbater ao longo do tempo alguns aspectos da homogeneidade, assistindo-se a uma maior abertura dos professores face à heterogeneidade. Dado que as Escolas servem determinada área de residência, verificámos que existe diferenciação quanto ao tipo de população escolar. Uma melhor distribuição dos alunos pelas Escolas da mesma Área Pedagógica contribui para um melhor equilíbrio e diminui os desfasamentos existentes entre as Escolas e, consequentemente, entre a composição dos grupos/turmas. Na própria definição de Área Pedagógica deviam ser levadas em consideração as características da população. Os aspectos culturais, étnicos e económicos, por serem factores de diferenciação social associados ao êxito dos alunos, devem ser contemplados como critérios na organização das turmas. A heterogeneidade das turmas, contribui para o sucesso dos alunos, em geral, e, em particular, para os de minorias étnicas. No entanto, as principais dificuldades com que se deparam os professores no desenvolvimento do processo de ensino/aprendizagem, ligam-se ao facto de no mesmo espaço de aula existirem alunos com necessidades educativas diferenciadas. A falta de formação inicial e contínua de docentes, na área da Educação lntercultural, constitui um problema pois toda e qualquer medida sobre a constituição dos grupos/turmas só ganha repercussão se for acompanhada pela formação de docentes, pois estes sentem dificuldades em leccionar turmas heterogéneas. A articulação entre Família/Escola/Turma/Comunidade contribui para promover um percurso educativo equilibrado, promotor de autonomia, respeitador das diferenças de cada um, de modo a fomentar atitudes de cooperação e solidariedade social. o envolvimento da família na escola é positivo para o ensino/ aprendizagem das crianças independentemente da classe ou do "background"cultural dos pais e contribui em muito para o sucesso dos alunos. Esse envolvimento, deve ocorrer numa relação de estreita cooperação, através do diálogo e da coadjuvação de esforços entre estas duas instituições. O aluno é o espelho da interacção no seio da família e entre a família, a Escola e o meio que o envolve, daí a importância de todos se unirem num esforço comum que ajude a formar cidadãos felizes, responsáveis e com sucesso.
- Filme e hipervídeo : um retrato polifónico da geração dos Capelinhos a partir da emigração e regressoPublication . Saraiva, António João; Ribeiro, José da SilvaOs Açorianos nascem nas suas ilhas marcados pela inevitabilidade da partida: “Nascemos já preparados para a partida”, dizem-nos na ilha de S. Jorge. Sismos, dificuldades económicas, escassez de terra estão na origem desta circunstância. A geografia a sobrepor-se à história, como sublinhava Vitorino Nemésio. Uma fatalidade na partida que tem associada a ideia de regresso. Partida e regresso fazem parte das narrativas açorianas no romance, no conto ou na música. Uma vez na diáspora, o regresso (ou o desejo de regressar) permanece. “Ricos ou desiludidos pretendem voltar. O ideal do Açoriano é formar lá um pecúlio e vir depois gozá-lo na sua ilha querida”, diz-nos mestre Leite de Vasconcelos depois de uma saudosa visita às ilhas em 1926. Muito frequentemente, o regresso acaba por não se concretizar, principalmente por razões familiares. Um conflito que a expressão “minha terra minha dor, meu filho meu amor” bem expressa. Os processos migratórios originam sempre novos territórios culturais, desde logo pela desterritorialização (perda da relação natural com o território cultural de origem). A adaptação cultural que ela obriga desencadeia fenómenos de reterritorialização ou, por outras palavras, processos de adaptação a novos territórios, originando novas ilhas açorianas em terras da América. O arquipélago prolonga-se para lá da ilha do Corvo. Outras ilhas existem mais a ocidente. Este estudo centra-se na questão do regresso a partir da vaga migratória dos Capelinhos, nome com que ficou conhecida a geração que emigrou na sequência da erupção dos Capelinhos, em 1957, e que está hoje na idade de reforma e, por isso, com possibilidade de voltar. Com uma permanência longa, de várias décadas, em terras novas, as suas raízes estão divididas entre a terra onde nasceram e onde se encontram as suas memórias de infância, e a Califórnia, onde viveram vidas ativas e onde nasceram os filhos e os netos. “A terra dos nossos filhos é também a nossa terra”, dizem-nos em S. José (Califórnia). A terra velha terá ficado para trás. O texto apresentado será, nos aspetos essenciais, intencionalmente multidiscursivo e polifónico (múltiplas vozes), tomando caraterísticas diferentes que passarão pela etnohistória, narrativas pessoais biográficas, descrições pormenorizadas da vida quotidiana de famílias, com o propósito de apresentar um texto que pretendemos seja uma alegoria sobre o regresso (allegoria, de allos “outro” + agoria “discurso”). Refletiremos também sobre o contributo e as especificidades de um trabalho de observação mediado por câmara e sobre o contributo do filme etnográfico e do hipervídeo enquanto discursos narrativos que concorrem com o texto para a compreensão do regresso e da Açorianidade. Apresentaremos seis casos de estudo (seis famílias), que foram objeto de acompanhamento durante dois meses de trabalho de campo em S. Jorge (Açores) e nove meses em S. José (Califórnia). Com este trabalho, que inclui a produção de um documentário e de um hipervídeo, estudámos o modo como o desejo de regressar é vivenciado nos quotidianos, acrescentando conteúdos para um retrato polifónico do regresso, que pretenderá juntar-se a um álbum de outros retratos sobre a Açorianidade. A escrita, o audiovisual, o hipervídeo não são, pois, discursos e narrativas separados mas resultam numa cultura de convergência dos média e dos conteúdos.
- Imigrantes, minorias étnicas e autarquias : intervenção e omissões : práticas políticas no Município da AmadoraPublication . Cordeiro, Ana Paula; Guerra, Isabel; Rocha-Trindade, Maria BeatrizO trabalho de investigação que suportou a realização da tese de doutoramento em referência teve como principal objetivo analisar e interpretar a ação do poder autárquico direcionada a imigrantes e minorias étnicas em situação de desfavorecimento ou exclusão social, constituindo as práticas políticas implementadas pelo município da Amadora, entre 1979 e 2004, o seu objeto de estudo específico. O enquadramento teórico da pesquisa resultou da confluência e articulação de três parâmetros conceptuais fundamentais: imigração, Estado e integração. O primeiro, a imigração, foi observado na sua dimensão política, como fenómeno que cativa e mobiliza a atenção dos atores políticos, transformando-se em objeto particular da sua ação. O segundo, o Estado, foi considerado na sua dimensão subnacional, muito embora se tomem em linha de conta as relações que estabelece com os planos nacional e internacional do Estado, nos quais se definem, em larga medida, as potencialidades e limitações da sua ação. O terceiro, a integração, foi encarado também na vertente política, como conjunto de ações e omissões intencionalmente levadas a efeito por uma autoridade investida de poder público e legitimidade governamental, com a finalidade de proporcionar aos imigrantes e minorias étnicas as condições necessárias à sua participação nos vários domínios da esfera pública. O modelo de análise adotado no presente estudo centrou-se na identificação e caracterização do tipo de processos executivos das práticas políticas (top-down ou bottom-up), bem como nas lógicas de implementação que lhe estão subjacentes (territorialização ou desterritorialização). No intuito de conferir utilidade a este modelo foram estudadas as práticas políticas implementadas nos domínios da habitação, educação, saúde, cidadania, emprego e formação profissional.
- Jovens da Europa e do Magrebe entre alfândegas e pontos do Mediterrâneo [Em linha] : uma abordagem comparativa e interculturalPublication . Cunha, Albino; Ferreira, Manuela Malheiro; Piepoli, Sónia Infante Girão FriasO principal inimigo nas relações entre países, povos e culturas é a ignorância e o desconhecimento, geradores de incompreensões e mal-entendidos, preconceitos e discriminações, especialmente, num mundo globalizado marcado pela aceleração da informação e da comunicação. Neste sentido, a educação, através da escola, ao promover a dimensão do conhecimento intercultural, constitui uma das melhores formas de reconciliar pontos de vista diferentes e permitir que prevaleçam os valores de compreensão e de aceitação do «outro» e de comunicação com «o outro.» O presente estudo pretende explorar, identificar e analisar os conhecimentos culturais, as perceções, os valores e os imaginários de jovens alunos de escolas secundárias públicas da Europa do Sul e do Magrebe, mais precisamente, de Lisboa, Madrid, Paris e Rabat, (Argel), Tunes, no contexto de um espaço civilizacional comum que é o Mediterrâneo. Procurámos valorizar o papel que poderá ter a educação intercultural, num espaço de forte mobilidade transfronteiriça, para o desenvolvimento de boas práticas relacionais e para a aquisição de competências interculturais. Procurámos, ainda, identificar o contributo dos jovens na construção do projeto mediterrânico considerando o contexto e a proximidade geográficos, o legado cultural e histórico, o desenvolvimento económico e a dinâmica da mobilidade humana, em particular, pelo contexto geocultural do estudo, entre o Magrebe e a Europa. Para alcançar estes objetivos, adotámos uma metodologia consubstanciada numa perspetiva comparativa e intercultural. Desenvolvemos duas componentes analíticas. Uma primeira, de natureza mais teórica, consubstanciou-se no desenvolvimento do paradigma da pluralidade mediterrânica na análise e estudo das práticas e contextos de atuação culturais. Uma segunda, de natureza mais empírica, consubstanciado na aplicação de um inquérito por questionário, procurou explorar e analisar a valorização do conhecimento intercultural no meio escolar (ensino secundário) como mecanismo operacional para diluir a estigmatização cultural e para promover uma melhor mobilidade humana, individual e coletiva. Dos procedimentos de recolha da informação através da aplicação de um inquérito por questionário e da sua respetiva análise quantitativa e qualitativa, resultou a verificação de um conhecimento intercultural pouco consistente entre os jovens europeus e magrebinos, embora os jovens magrebinos mostrem mais interesse em conhecer os seus pares europeus; a importância do conhecimento intercultural entendido simultaneamente como conhecimento de si e do outro para um melhor entendimento entre culturas; e, por último, um desconhecimento significativo do Mediterrâneo como referência cultural comum embora aqueles jovens mostrem a relevância de se aprender mais e melhor acerca do Mediterrâneo.
- Mulheres e migrações forçadas em Portugal: adaptação, resiliência e integração socialPublication . Sampaio, Catarina; Ramos, NatáliaEsta investigação procura ampliar o conhecimento da realidade psicossocial de mulheres que, em contexto de migração forçada, chegaram a Portugal, explorando as principais dificuldades do percurso migratório e os principais fatores protetores que facilitaram os seus processos de resiliência, adaptação e integração social. Para tal, foram relevados os significados que as protagonistas atribuem às suas experiências, recolhidos através de nove entrevistas semiestruturadas e em profundidade, a mulheres oriundas do Iraque, da Síria e da Líbia. É também a partir das suas perceções que se analisam questões de género e a forma como estas se relacionam com dimensões religiosas, familiares, sociais, psicológicas e culturais. A investigação coloca em evidência um acervo de vulnerabilidades desencadeadas pela experiência migratória e pela pertença de género, o que justifica a análise intersecional. Os resultados revelam um conjunto de adversidades no acolhimento, destacando-se: isolamento e distância familiar e do grupo social; dificuldades de acesso ao emprego qualificado; falta de suporte institucional; fracas condições habitacionais; desconhecimento da língua; desconhecimento dos serviços de saúde; não reconhecimento de grau académico e discriminação. Por outro lado, são identificados diversos fatores protetores que auxiliam a integração no país recetor, evidenciando-se: estabelecimento e manutenção de redes sociais; recurso a redes sociais digitais; segurança; emprego; domínio da língua; religião; suporte institucional; acesso à saúde; acesso à educação; participação cívica e política; desporto; questões de género relacionadas com empoderamento e maior autonomia. Espera-se que a presente investigação possa incentivar o debate e a reflexão sobre estratégias e políticas de integração em Portugal, promovendo medidas de atuação adequadas às necessidades de mulheres em contexto de migração forçada.
- A reconfiguração didáctica : implicações da educação para a cidadania nas práticas da educação geográficaPublication . Miranda, Branca; Ferreira, Manuela MalheiroA sociedade do século XXI vive um período de transição. A conflitualidade social,política e económica pôs em causa o mundo moderno e esboçam-se já novos caminhos, num esforço de atingir a harmonia, ao mesmo tempo que outros indicadores nos remetem para uma maior desigualdade entre regiões e grupos sociais, uma mais acentuada segregação e isolamento das minorias e o aumento dos excluídos. À problemática da exclusão junta-se o desinteresse pela actividade política por parte de uma elevada percentagem da população o que faz despertar a necessidade de repensar o acto educativo, definindo as funções que poderá desempenhar num processo de mudança de mentalidades e os possíveis contributos sociais que dai poderão advir. Partindo de propostas desenvolvidas ao nível do Conselho da Europa, das análises elaboradas por diversos autores bem como de investigações feitas no terreno,procurou-se interpretar os documentos, que a este propósito, foram produzidos nos últimos anos pelo Ministério da Educação. A fragilidade teórica de algumas propostas levanta inúmeras interrogações relacionadas com a sua exequibilidade,questões que são sublinhadas pelos professores entrevistados e que em nenhum momento se sentem à vontade para desenvolver a Educação para a Cidadania no contexto das suas aulas. As características do currículo de Geografia, dos alunos e das escolas são outros tantos entraves que os professores apontam para que se processe uma mudança real no sistema educativo. Procurando responder às necessidades dos professores apresenta-se uma proposta para a Didáctica da Geografia cuja finalidade consiste em explicitar de que modo a Educação para a Cidadania e a Educação Geográfica se entrelaçam e podem estabelecer relações harmoniosas no processo educacional, contribuindo para a formação integral do aluno.
- Tracejar vidas normais: estudo qualitativo sobre a integração social de indivíduos de origem cigana na sociedade portuguesaPublication . Magano, Olga; Silva, Luísa Ferreira da; Alves, FátimaA investigação desenvolvida é sobre a integração social de indivíduos de origem cigana. Do ponto de vista da diferenciação, a nossa investigação questiona a homogeneidade essencialista sobre os ciganos. Os processos de integração não podem ser dissociados da identidade social, integração e identidade social são dois pilares da nossa análise. Os modos de integração dos indivíduos estão intimamente relacionados com a socialização e as experiências sociais que estão na base da interiorização de novas aprendizagens. No quadro da compreensão, desenvolvemos uma investigação qualitativa com recurso a entrevistas com indivíduos de origem cigana residentes em diversos locais de Portugal. A análise centra-se nas narrativas, na perspectiva do indivíduo enquanto agente competente para interpretar de modo reflexivo a sua trajectória e os seus sentimentos. Os nossos resultados mostram uma diversidade de trajectórias e biografias que se reflectem sobre o processo de construção identitária dos indivíduos. Os indivíduos circulam em universos e espaços sociais diversos e interagem com eles, construindo uma multiplicidade de modos de se auto-definir ao mesmo tempo que articulam os seus traços de identidade(s) (identidades plurais ou mestiças. Por sua vez, as identidades plurais criam novas oportunidades de circulação social e produzem lógicas da acção que são heterogéneas (as práticas sociais). Este processo social de auto-construção permanente em diferentes contextos faz emergir perspectivas de uma integração à sociedade não cigana, mantendo ancoragens com a identidade cigana. As configurações da integração individual variam segundo a diferenciação de processos de socialização mas têm em comum a capacidade de adesão flexível a valores que podem “acumular-se”. Esta mestiçagem cultural e simbólica permite ao indivíduo inscrever-se simultaneamente em duas culturas. Ser cigano integrado é uma concepção dinâmica e plural que abre a possibilidade de “ser cigano” e “ser integrado”, ou seja, integrar-se na sociedade dominante sem diluição da identificação cigana. Os ciganos (homens e mulheres)integrados que entrevistámos afirmam o seu orgulho na pertença cigana.