Mestrado em Ciências do Consumo Alimentar | Master's Degree in Food Consumption Sciences - TMCCA
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Browsing Mestrado em Ciências do Consumo Alimentar | Master's Degree in Food Consumption Sciences - TMCCA by Sustainable Development Goals (SDG) "12:Produção e Consumo Sustentáveis"
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- Avaliação da oferta alimentar em meio escolar do pré-escolar e 1º ciclo do ensino básico: um estudo exploratório com intervenientes-chave do setorPublication . Matos, Alexandra Sofia Vicente de; Moura, Ana Pinto de; Franchini, FranchiniA alimentação é um dos fatores determinantes para o bem-estar e saúde humana. É na infância que os hábitos alimentares influenciam os comportamentos alimentares e a saúde na vida adulta, sendo a educação alimentar uma intervenção essencial na oferta alimentar das escolas. Nos últimos anos em Portugal, a promoção e educação para a saúde em meio escolar têm vindo a ser atualizadas e implementadas, nomeadamente com o reforço de orientações e referenciais sobre a oferta alimentar nas escolas. Pretendeu-se nesta investigação analisar a opinião dos intervenientes-chave sobre a oferta alimentar em meio escolar do pré-escolar e 1º ciclo do ensino básico, abordando as práticas dos referenciais existentes em Portugal, nomeadamente nas ementas escolares, regime escolar – fruta, produtos hortícolas e leite, e uma análise no ponto de vista da sustentabilidade desses mesmos referenciais. Para o efeito, recorreu-se a entrevistas semi-estruturadas realizadas a onze profissionais, com responsabilidades ao nível da gestão/direção e operacionalização em ações de intervenção da oferta alimentar em meio escolar, pré-escolar e 1ºciclo do ensino básico, em vários tipos de organizações escolares, sejam públicas ou privadas. Os discursos dos participantes foram analisados tendo por base a análise temática e o recurso ao programa QSR Nvivo 10®. Da análise dos extratos discursivos dos participantes identificam-se os seguintes fatores que influenciam a adesão à oferta alimentar em contexto escolar: educação alimentar, hábitos alimentares e manipuladores de alimentos, destacando-se a falta de literacia alimentar por parte dos encarregados de educação. Um outro obstáculo reportado foi a falta de fiscalização/monotorização das capitações preconizadas para as ementas escolares, ocorrendo um excesso de proteína animal e défice na componente vegetal. Nas entrevistas foram ainda reportadas dificuldades na utilização de produtos locais nas ementas escolares, fruto do custo associado a estes produtos. No que diz respeito à temática do desperdício alimentar, os nossos participantes salientaram a falta de acompanhamento na avaliação do desperdício alimentar, o qual tende a ser avaliado de uma forma pontual, havendo ausência na verificação de eficácia das ações realizadas para o seu combate. Particular relevância foi dada ao papel dos manipuladores de alimentos na adesão à oferta alimentar saudável proporcionada em meio escolar, referindo, no entanto, que é uma classe profissional que não é reconhecida e que não tem a formação devida. A falta de nutricionistas em contexto escolar foi referida várias vezes pelos participantes, sendo estes atores considerados como atores relevantes para se alcançar as seguintes melhorias nas escolas: educação alimentar, monitorização das capacitações e redução do desperdício alimentar. Em suma, é necessário criar, potencializar e valorizar uma equipa de profissionais diversificada nomeadamente, nutricionistas, manipuladores de alimentos, técnicos de saúde, agricultores e professores, para minimizar os obstáculos sentidos no dia a dia nos processos da oferta alimentar em contexto escolar.
- Desenvolvimento de uma bolacha com incorporação de farinha de inseto comestível: avaliação da aceitabilidade global e da resposta emocional por crianças em contexto escolarPublication . Amaro, Pedro Daniel Calado; Moura, Ana Pinto de; Cunha, Luís MiguelOs insetos edíveis são um importante contributo para uma alimentação mais sustentável, enquanto fonte proteica que compatibiliza benefícios ambientais e nutricionais, e alternativa à carne tradicional. O estudo das perceções das crianças relativamente aos insetos edíveis é particularmente relevante na definição de estratégias para aumentar a sua aceitação em países ocidentais. O objetivo principal deste estudo foi a avaliação da aceitabilidade global e resposta emocional (nível de nojo) a bolachas (doces e salgadas) com incorporação de farinha de insetos edíveis, por crianças portuguesas dos 10-12 anos, e uma barrinha proteica com farinha de inseto, por crianças portuguesas dos 5-7 anos. Uma amostra de 47 crianças participaram na preparação de 4 receitas de bolachas (2 doces e 2 salgadas) com 4,0% e 8,0% de incorporação de farinha de inseto (espécie Tenebrio molitor) e cenoura de um produtor biológico local. A aceitabilidade foi avaliada com escalas hedónicas e a resposta emocional através de um boletim CATA (Check-all-that-apply) com 11 emojis. Outros dois questionários foram enviados aos pais para avaliar o comportamento alimentar dos filhos (CEBQ) e os motivos de consumo sustentável/aceitação de insetos edíveis. As crianças revelaram boa aceitabilidade e respostas emocionais positivas, com menor preferência pela bolacha doce com 8%. Os pais realçaram a importância da sustentabilidade e da dimensão local e sazonal, afirmam estar familiarizados com insetos edíveis, embora 2/3 nunca tenha experimentado, e revelam nojo de insetos (especialmente visíveis), mas não colocam restrições ao consumo pelos filhos, o que poderá indiciar uma perspetiva de futuro com insetos edíveis.
- Educação, legislação, preços de mercado: será possível para o comum dos cidadãos seguir a dieta mediterrânica?Publication . Guimarães, Maria de Fátima Bessa Correia; Carapeto, CristinaO presente trabalho teve como objetivo caracterizar os hábitos alimentares dos jovens do ensino secundário do Agrupamento de Escolas D. Afonso Sanches (AEDAS), em Vila do Conde, e relacionar os seus consumos alimentares e estilo de vida, com o grau de adesão à Dieta Mediterrânica. A população avaliada foi constituída por jovens estudantes de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 15 e os 20 anos, e que frequentavam o ensino secundário da rede nacional do ensino público regular e profissional. Projetou-se um estudo epidemiológico observacional, de natureza analítica e transversal, cuja recolha de informação foi feita através de um questionário, no qual constava também o índice KIDMED (Mediterranean Diet Quality Index for children and adolescents). Foi desenvolvido um segundo questionário, dirigido ao Encarregado de Educação (co)responsável pela compra e/ou preparação dos alimentos do agregado familiar, com o intuito de complementar as informações obtidas sobre os hábitos de consumo e alimentares do agregado familiar dos jovens inquiridos. Participaram 89 encarregados de educação, na generalidade, do género feminino, com hábitos de cozinhar em casa, e que consideram que a preparação da refeição em convívio com a família e amigos lhes proporciona prazer e bem-estar; maioritariamente são os únicos responsáveis pela compra dos bens alimentares para o agregado familiar. Pretendeu-se por um lado confirmar as informações fornecidas pelos jovens e por outro perceber se a adesão à dieta mediterrânica é consequência dos hábitos transmitidos pelos adultos em casa. Os questionários foram elaborados tendo por base os alimentos que constam da Pirâmide da Dieta Mediterrânica, criada pela Fundação da Dieta Mediterrânica. Obteve-se uma amostra final de 467 jovens inquiridos. Destes, 244 (52,25%) apresentaram alta adesão ao PAM, 217 (46,47%) situavam-se no nível de adesão intermédia, e 6 (1,28%) apresentaram um nível de adesão baixo. Apesar de o presente estudo mostrar que os estudantes seguem, na sua maioria, uma dieta que podemos considerar saudável, os resultados indicam ser de extrema importância a concertação de um conjunto de ações sistemáticas e duradouras, promotoras da Dieta Mediterrânica, por parte do poder central, local e regional, dirigidas a crianças e adolescentes.
- Eficácia do controlo oficial na cadeia de produção de carnes frescas refrigeradas não processadas em Cabo Verde: avaliação das perspetivas dos intervenientes da cadeia das carnesPublication . Correia, Alice Mateuxevena José Rodrigues; Moura, Ana Pinto de; Santos, Edson Vladimiro Alves Cabral dosA segurança sanitária da carne é primordial para a prevenção das doenças transmitidas por alimentos, sendo o controlo oficial uma das componentes que visa precisamente a sua garantia. A presente dissertação tem por objetivo avaliar a eficácia da atuação das autoridades competentes na cadeia da carne fresca em Cabo Verde, bem como estimar a segurança sanitária do produto final disponível ao consumidor, fruto da atuação dos diferentes intervenientes desta fileira/cadeia. Para o efeito, recorrendo à metodologia qualitativa, entrevistaram-se 15 operadores económicos e 28 colaboradores das autoridades competentes que atuam nesta fileira/cadeia. Para a maioria dos entrevistados, o controlo oficial foi entendido como não sendo eficaz, devido aos incumprimentos relatados em todas as fases desta fileira, desde a criação de animais até a comercialização da carne. Nesta senda, destaca-se a alimentação inadequada dos animais, o reduzido ou inexistente acompanhamento veterinário dos mesmos, a ausência de rastreabilidade para a maioria dos efetivos, conjugado com o facto do abate e a respetiva venda da carne serem efetuados em infraestruturas inadequadas, com equipamentos e condições de higiene deficientes, sendo esta realidade particularmente vivenciada quer para os abates clandestinos, quer nos matadouros municipais. Os entrevistados referiram ainda a ausência de inspeção veterinária para grande parte das carnes comercializadas no país, bem como à falta de conservação das mesmas à temperatura recomendada. Desta forma, verificou-se que a carne disposta ao consumidor final está comprometida.
- Perceção dos consumidores portugueses em relação ao consumo de carne cultivadaPublication . Santos, Juan Carlos de Jesus dos; Fernandes, Ana PaulaA carne é um alimento importante na dieta do ser humano devido ao seu conteúdo em proteínas, lípidos e micronutrientes, sendo que, por outro lado, determinados componentes como ácidos gordos saturados, colesterol e purinas são prejudiciais, pelo que o consumo de carne em excesso pode originar problemas de saúde. Os fatores que determinam o consumo de carne são complexos, por exemplo, a demografia, renda, preço, tradição e cultura, crenças religiosas, assim como preocupações ambientais, sociais, éticas e de saúde, podem condicionar o grau de ingestão. Neste âmbito, o crescimento populacional previsto nas próximas décadas, associado à produção intensiva e consumo desenfreado de carne podem colocar em causa a sustentabilidade do sistema alimentar, a segurança alimentar e o futuro do planeta. Existem evidências cientificamente comprovadas de que o sistema alimentar atual, dependente de um setor agropecuário global e intensivo, contribui para o aquecimento global da Terra e para as consequentes alterações climáticas. Desta forma, é necessário procurar soluções para mitigar a produção e o consumo de carne de origem animal, pelo que a implementação de proteínas alternativas pode ser uma das possíveis soluções. Neste sentido, a carne cultivada apresenta-se como uma alternativa viável, sendo produzida a partir de células-tronco de um animal, pelo que não é necessário criar animais para posterior abate. A produção de carne cultivada apresenta inúmeras vantagens, por exemplo, a redução do consumo de recursos como água, energia e solos, quando comparados com a produção de carne na agropecuária. No entanto, também possui algumas limitações e desafios, como por exemplo a neofobia alimentar por parte dos consumidores e o preço da carne cultivada, que está dependente do processo de produção em larga escala. O conhecimento do ser humano em relação aos problemas associados à agropecuária tradicional, assim como a perceção e aceitação dos consumidores em relação à carne cultivada são fundamentais para a implementação da carne cultivada como produto alimentar, sendo relevante avaliar o padrão de consumo de carne pelos consumidores, neste caso, dos portugueses. A perceção e aceitação dos consumidores portugueses são fatores-chave para a entrada deste novo produto no mercado português, sendo que o presente estudo pretende observar o padrão atual de consumo de carne convencional pelos portugueses, observar o grau de preocupação em relação aos vários problemas relacionados com o sistema alimentar, analisar o grau de conhecimento e a perceção dos consumidores sobre a carne cultivada. Neste sentido, desenvolveu-se um inquérito online dirigido a utilizadores de internet, o qual foi distribuído através das redes sociais (Facebook, Instagram, Whatsapp) e por email. O inquérito por questionário aplicado esteve estruturado em 6 secções e composto por 24 questões, sendo colocadas aos participantes questões de escolha múltipla, questões com caixas de verificação, de resposta curta e de escala linear. Disponibilizou-se também aos participantes dois vídeos curtos, os quais eram opcionais e que tiveram a duração de cerca de dois a cinco minutos cada um, tendo como objetivo esclarecer os participantes menos informados. No que se refere ao conteúdo do inquérito por questionário, abordaram-se questões de índole sociodemográfica, assim como problemáticas relacionadas com a agropecuária tradicional, hábitos alimentares dos participantes e questões direcionadas no campo de informação da carne cultivada. Os dados recolhidos foram tratados através do programa Statistical Package for de Social Sciences (SPSS) versão 26.0.0, tendo-se utilizado técnicas básicas de análise exploratória de dados. Nos resultados apresentados, observou-se que 91,9% dos participantes admitem consumir carne convencional, pelo que apenas 2,4% seguem uma dieta vegetariana e 1,3% um regime vegano, sendo que no cômputo geral, 8,0% refere não consumir carne, tendo em conta outras dietas alternativas Por outro lado, apesar de que a carne cultivada ainda não é comercializada em Portugal, mais de metade da amostra (55,2%) admitiu estar mais ou menos familiarizada com a temática, tendo-se observado que 59,0% dos participantes apresentaram disponibilidade em experimentar carne cultivada.
- Production and commercialisation of insects as food and feed: identification of the main constraints in the European UnionPublication . Montanari, Francesco; Moura, Ana Pinto de; Cunha, Luís MiguelAs projeções da Food Agricultural Organization (FAO), que apontam para um crescimento exponencial da população mundial (10 mil milhões em 2050, ou seja, +38% comparado com os níveis atuais), levantam muitas preocupações e dúvidas sobre a capacidade dos sistemas de produção agroalimentar contemporâneos em satisfazer a procura alimentar a médio e longo prazo. Um tal cenário tem levado organizações internacionais e a comunidade científica a alertar progressivamente a opinião pública em relação à necessidade e à urgência de identificar fontes nutricionais adicionais para poder alimentar o nosso planeta no futuro. Nesta perspetiva, os insetos apresentam-se como uma alternativa particularmente adequada e até mais sustentável de que a carne e outros alimentos que constituem atualmente as principais fontes de proteínas animais na alimentação humana. As elevadas taxas de conversão alimentar que os insetos apresentam (ou seja, a sua capacidade de transformar os alimentos ingeridos em carne comestível) e o reduzido impacto ambiental que a sua criação envolve em contraoposição à dos animais produtores de alimentos mais tradicionais, estão entre as vantagens mais frequentemente apontadas para sublinhar o potencial desses animais e justificar uma sua maior integração na cadeia agroalimentar e na alimentação humana. No entanto, a difusão da produção e comercialização de insetos para consumo humano, em especial, tem enfrentado entraves técnicos e regulamentares, para além de um certo grau de ceticismo por parte dos consumidores, em vários mercados. Este é manifestamente o caso das sociedades ocidentais em que os insetos nem sempre fazem parte das dietas tradicionais locais. Neste contexto, o presente trabalho traça e analisa de forma crítica o estado da arte da regulamentação da produção e comercialização de insetos para consumo humano e alimentação animal na União Europeia (UE). Com efeito, ao longo dos últimos anos, a UE tem dado grandes passos para reformar o seu quadro legislativo com vista a abrir e preparar gradualmente o mercado para estes novos produtos, tendo reconhecido, deste modo, o potencial que os insetos representam para os sistemas agroalimentares do futuro em termos técnicos, ambientais e económicos. No que diz respeito aos insetos para consumo humano, a adoção do Regulamento (UE) 2015/2283 que estabelece os requisitos a cumprir pelos alimentos que se enquadrem como novel foods - ou seja, os alimentos que não tenham sido consumidos de forma significativa na UE antes de 15 de maio 1997 – representa, até hoje, a evolução normativa mais importante nesta área, na medida em que abrange os insetos no seu âmbito de aplicação sujeitando a sua comercialização a uma avaliação do risco prévia e aprofundada que certifique a segurança desses alimentos. No entanto, a pesquisa e a análise efetuadas para a elaboração do presente trabalho mostram que entraves técnicos e regulatórios importantes permanecem ainda hoje a nível da legislação europeia, o que acaba por impedir a este novo setor da cadeia agroalimentar de crescer, se consolidar e prosperar e aos seus operadores de competir no mercado em igualdade de condições. Atualmente, e em relação aos insetos para consumo humano, um dos principais obstáculos regulamentares deriva da fragmentação do mercado europeu em consequência da implementação de diferentes soluções por cada um dos Estados-Membros antes da entrada em vigor ou da aplicação do regulamento (UE) 2015/2283, face à ausência de disposições europeias harmonizadas. Neste contexto específico, é possível observar que, enquanto alguns países - em particular no Norte da Europa (por exemplo, Bélgica, Países Baixos, Reino Unido e Finlândia) - adotaram políticas mais liberais no que diz respeito à comercialização de insetos para consumo humano, outros (por exemplo, França, Itália e Portugal) optaram por políticas mais cautelosas e, por isso, mais restritivas, atendendo essencialmente a preocupações de saúde pública. Inevitavelmente, esta fragmentação regulamentar reflete-se hoje nas relevantes dinâmicas do mercado europeu, que, embora ‘único’, apresenta, de facto, diferentes velocidades, na medida em que há operadores económicos que já estão presentes num ou mais mercados nacionais e outros que não tiveram ainda a oportunidade de comercializar tais produtos. Em segundo lugar, um outro entrave, de natureza técnico-administrativa, prende-se com o procedimento de autorização dos insetos e dos produtos derivados. Com efeito, todas as autorizações atualmente pendentes (n=12) já ultrapassaram largamente a duração mínima estabelecida pela legislação europeia no caso do procedimento de autorização geral (aproximadamente 17 meses). Nestas circunstâncias, é difícil perceber se esses atrasos são imputáveis à incompletude dos pedidos de autorização apresentados pelos demais requerentes e / ou à gestão do procedimento pelas entidades europeias competentes. O direito de explorar de forma exclusiva o novel food por um período máximo de 5 anos na sequência da sua autorização que os requerentes podem invocar ao abrigo do regulamento constitui outro potencial entrave a médio prazo para os outros operadores económicos deste setor. Além dos entraves referidos acima, faltam atualmente a nível da UE requisitos específicos de segurança e qualidade adaptados às necessidades e especificidades do setor dos insetos para consumo humano. No que diz respeito à segurança desse animais enquanto alimentos, face ao número de autorizações atualmente pendentes, parece particularmente urgente a introdução de requisitos mínimos de higiene para a sua criação e processamento, tal como existem para outras categorias de produtos de origem animal ao abrigo do regulamento (CE) n.º 853/2004. No entanto, há que registar que o setor profissional europeu e alguns Estados-Membros já desenvolveram linhas orientadoras para esta área. Da mesma forma, está igualmente em falta e terá, portanto, que ser provavelmente adotada no futuro, uma regulamentação específica para os medicamentos autorizados para o tratamento dos insetos durante a criação e, se necessário, para os resíduos máximos permitidos desses medicamentos após processamento. Pelo contrário, há áreas em que o quadro normativo europeu relativo aos insetos para consumo humano já se encontra numa fase bem avançada. Este é o caso, por exemplo, da regulamentação das importações, sendo que há já três países extra-UE – Suíça, Canadá e Coreia do Sul – que poderão exportar para o mercado europeu assim que as primeiras autorizações de novel foods forem publicadas. Na vertente da qualidade, as negociações legislativas para estender a aplicação aos insetos das normas que regulamentam a produção e a comercialização dos produtos biológicos já começaram. Ao invés, não parece realista esperar que normas de bem-estar animal sejam propostas num futuro próximo para estes animais, persistindo ainda muita incerteza científica sobre a capacidade desses animais de poder sentir a dor. Por outro lado, a regulamentação de insetos como alimentos para animais na UE e o respetivo mercado parecem globalmente mais desenvolvidos, sendo que a utilização de proteínas derivantes de sete espécies diferentes de insetos - Hermetia illucens, Musca domestica, Tenebrio molitor, Alphitobius diaperinus, Acheta domesticus, Gryllodes sigillatus e Gryllus assimilis - encontra-se já autorizada em aquacultura desde meados de 2017. Porém, a adoção de outras medidas regulamentares seria desejável no futuro para garantir a consolidação e a expansão deste segmento de mercado e, designadamente, a extensão da permissão de utilização de proteínas de insetos na alimentação de aves de capoeira e suínos. Apesar das restrições regulamentares e das lacunas identificadas neste trabalho, se comparamos a UE com outros países para que os insetos também constituem uma novidade sob o prisma da alimentação humana e animal – nomeadamente, os Estados Unidos da América, Canadá, Austrália, Suíça e Brasil - o mercado europeu apresenta, neste momento, um maior grau de abertura, bem como maior potencial e maturidade de um ponto de vista legislativo e regulamentar. A longo prazo, isso poderá fazer da UE um líder global nesta área, tanto enquanto mercado, como organismo internacional de definição de padrões.
- Sustentabilidade económica e ambiental dos subprodutos da cervejaPublication . Pestana, Sandra dos Santos; Fernandes, Tiago A.; Caetano, Fernando J. P.A indústria cervejeira é responsável por gerar grandes quantidades de resíduos sólidos. A sua reutilização promove um dos princípios da economia circular, deitando por terra o modelo económico linear. Razões como a dependência dos combustíveis fósseis, as políticas económicas e ambientais e o crescimento demográfico incrementam a necessidade da adoção de procedimentos económicos e ambientalmente sustentáveis. A reutilização tem como desafio criar uma cadeia de valor para estes resíduos, que apesar das suas elevadas potencialidades, por vezes são negligenciados, pouco valorizados, e descartados em aterros. O principal objetivo desta dissertação consiste no desenvolvimento empírico, no que respeita à valorização dos subprodutos da cerveja, com vista a um processo rentável e ambientalmente sustentável. Numa primeira fase apresenta uma revisão do processo de fabrico da cerveja e suas matérias-primas, assim como a identificação e caracterização dos principais resíduos sólidos, nomeadamente, dreche (bagaço de malte), trub (resíduos de lúpulo) e levedura excedente. Numa segunda fase do documento, estão apresentadas as potenciais aplicações para valorização destes subprodutos. A título de exemplo, uma aplicação pode ter como destino a alimentação humana, uma vez que alguns destes subprodutos podem ser consumidos diretamente ou ser submetidos a tratamentos de forma a incrementar maior tempo de prateleira. Podemos encontrar estes subprodutos em forma de bolachas, suplementos, entre outros, ou utilizá-los para a extração de antioxidantes, proteínas, ou até mesmo de óleos essenciais. Na alimentação animal estes subprodutos podem ser misturados até 40% com outras farinhas, em forma de pellets ou farelo e utilizado na alimentação quer de ruminantes, como de galinhas, porcos e peixes. Existem estudos a comprovar que esta mistura melhora a qualidade da carne e a qualidade do leite, no caso dos ruminantes. Estes subprodutos também podem ser usados para a produção de energia através da libertação de calor ou através da fermentação anaeróbica. O calor ou o biogás produzido, poderão ser utilizados na produção de energia elétrica, sendo uma alternativa amiga do ambiente. Atualmente, a tecnologia de polímeros está a crescer. O ácido lático tem sido procurado para a produção do ácido polilático. Começam a surgir estudos para a utilização da dreche também na construção civil. Na construção de tijolos, foi possível verificar que este resíduo incrementa resistência mecânica e porosidade ao material. A compostagem dos terrenos com os subprodutos da cerveja, também se apresenta como uma mais-valia na fertilização dos terrenos agrícolas. Por último, temos a produção de carvão ativado, onde apenas pode ser usada a dreche. Esta, submetida a um processo de pirólise e ativação, dá origem a um excelente elemento filtrante, tanto para líquidos como para gases. Apesar destas inúmeras possibilidades de reaproveitamento, todas com o seu valor e interesse, cabe ao produtor adequar o melhor método à sua realidade. A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) alerta para a importância de uma escolha ponderada, pois estas medidas, muitas vezes, carecem de investimentos, cujo retorno económico poderá tardar. Por fim, numa terceira parte e através de uma pesquisa exploratória, foi possível apurar que grande parte dos produtores de cerveja portugueses entrevistados reutilizam os seus subprodutos para ração animal ou para compostagem. Apesar da consciência de que estas práticas sustentáveis podem reverter como fortes estratégias de marketing junto do consumidor final, certo é que também não estão acessíveis outras formas de valorização, quer seja pelas quantidades produzidas, por dificuldades de acondicionamento destes resíduos, ou por questões económicas. Já em relação aos consumidores de cerveja, mediante ao recurso de um inquérito por questionário, foi possível apurar que parte destes estão sensíveis a estas questões da sustentabilidade e estão dispostos a assumir até 5% do valor unitário por uma cerveja ambientalmente sustentável.