Linguística | Comunicações em congressos, conferências / Linguistics - Communications in congresses, conferences
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Browsing Linguística | Comunicações em congressos, conferências / Linguistics - Communications in congresses, conferences by Author "Freitas, Maria João"
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- A produção de vogais não-centrais médias e baixas em aprendentes chineses de português como língua estrangeira: revisitação de dadosPublication . Castelo, Adelina; Nazaré Santos, Rita; Freitas, Maria JoãoNo presente trabalho, focar-nos-emos nas vogais fonológicas não-centrais (coronais e labiais), por serem as classes que apresentam contrastes de altura em português europeu (PE). No sistema fonológico do PE, tanto as vogais coronais como as labiais apresentam três níveis de altura, frequentemente classificados como alto, médio e baixo (vogais coronal e labial, respetivamente, em cada par): /i, u/ como altas; /e, o/ como médias; /ɛ, ɔ/ como baixas (cf. Mateus e Andrade, 2000; Mateus, Falé e Freitas, 2016). Já no chinês mandarim (CM), registam-se menos contrastes de altura nestas classes de vogais, levando Duanmu (2007), por exemplo, a propor um sistema fonológico com apenas duas vogais não-centrais: a coronal alta /i/ e a labial alta /u/. Para melhor compreender o desenvolvimento da aquisição fonológica do PE por parte dos falantes nativos de CM, é, pois, pertinente observar as produções das vogais não-centrais, sobretudo dos segmentos médios e baixos, inexistentes no CM. Contudo, os poucos dados sobre a produção destas vogais estão dispersos em vários estudos, com diferenças ao nível dos grupos de participantes (com diferentes perfis sociolinguísticos) e das tarefas de produção. Assim sendo, a presente comunicação pretende revisitar esses estudos e analisar os seus resultados, a fim de obter uma melhor compreensão do fenómeno em causa. Os resultados de Oliveira (2006), embora obtidos com aprendentes de outras línguas maternas que não o CM, revelam-nos já, mesmo nos níveis de proficiência linguística B1 e C2 (segundo o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, 2001) e em tarefas de fala controlada, dificuldades na produção dos contrastes [e]-[ɛ] e [o]-[ɔ]. Castelo e Santos (2017) analisaram as produções de fala espontânea de aprendentes chineses com diferentes níveis de proficiência linguística e identificaram erros frequentes na produção dos segmentos-alvo [e] e [o], bem como erros frequentemente relacionados com a altura das vogais. Castelo e Freitas (2019), por seu turno, observaram as produções de aprendentes chineses de nível A2 numa tarefa de nomeação e registaram problemas sobretudo na produção de [e] e [o], maioritariamente substituídos pelos vogais baixas correspondentes. Finalmente, Duan (2021) observou igualmente dificuldades na produção de [e] e [o], em aprendentes com um nível de proficiência mínima de B2 e em diferentes tarefas de produção (desde imitação e leitura, até nomeação e fala espontânea). Zhang (2018) e Nan (2021) são dissertações recentes, cujos resultados sobre produção de vogais por falantes de CM igualmente consideraremos. Em síntese, no presente trabalho, pretendemos converter os resultados dos estudos acima mencionados em taxas de sucesso (por exemplo, o trabalho de Castelo e Santos, 2017, baseia-se apenas na apresentação dos erros encontrados), sistematizar as estratégias de reconstrução utilizadas pelos aprendentes, bem como comparar e analisar os resultados em termos dos níveis de proficiência dos aprendentes, dos tipos de tarefas de produção e dos inventários vocálicos do PE e do CM.
- Vogais orais tónicas em aprendentes chineses com proficiência intermédia-alta no português europeu: alguns resultadosPublication . Duan, Hongrui; Castelo, Adelina; Freitas, Maria JoãoNo processo de aquisição da língua portuguesa, existem desafios fonético-fonológicos para os falantes nativos do Chinês Mandarim (CM), sendo uma das maiores dificuldades a aquisição dos pares contrastivos /e/-/ɛ/ e /o/-/ɔ/ do Português Europeu (PE) (e.g. Castelo & Freitas, 2019, para aprendentes de nível elementar; Wang, 1991). Por isso, o objetivo deste trabalho consiste em alargar a investigação sobre a aquisição dessas vogais por falantes nativos do CM a aprendentes de nível intermédio-alto de proficiência linguística e à consideração dos diferentes tipos de tarefa, a par da influência das propriedades vocálicas. Investigámos as produções orais de dezasseis palavras contendo as vogais-alvo por parte de três informantes chinesas de 25 anos que estudavam o português como L2 havia vários anos, tinham três anos de imersão em Portugal e apresentavam uma proficiência linguística de, pelo menos, nível B2 no Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (2001, 2020). Além das palavras-alvo, incluíram-se catorze palavras distratoras. Na escolha das palavras-alvo, controlaram-se as seguintes variáveis linguísticas: categoria morfossintática da palavra (nomes), extensão da palavra (dissílabos), formato silábico (CV), padrão acentual (paroxítono, com as vogais-alvo em posição tónica), contexto fonético da vogal em análise (entre consoantes oclusivas, fricativas ou nasais). As propriedades linguísticas manipuladas foram a altura (médias vs. baixas) e o ponto de articulação de vogal (coronais vs. labiais), de modo que havia quatro condições experimentais e quatro palavras para cada condição (por exemplo, quatro palavras para a vogal média e coronal: dedo, medo, mesa, seda). Optámos ainda por recolher dados através de quatro tarefas: (1) nomeação de imagens; (2) descrição de imagens; (3) repetição de palavras a partir de estímulos auditivos gravados; (4) leitura de texto. Após a validação das imagens com outras participantes chinesas e uma semana antes da recolha de dados, a primeira autora realizou um treino com as três informantes chinesas para garantir o conhecimento das palavras-alvo. A recolha de dados de produção foi efetuada pela primeira autora com cada uma das informantes, de modo individual, num gabinete silencioso, procedendo-se à gravação das produções orais num gravador portável ZOOM H4n Pro com 44.1kHz de frequência de amostragem, a 16 bit, por meio de um microfone vocal SHURE SM58. As vogais-alvo das produções orais foram identificadas através do cruzamento de dados de análise acústica (Praat 6.1.04, cf. Boersma & Weenink, 2019) com a transcrição fonética validada por um conjunto de três transcritores com treino nesta tarefa e falantes nativos do PE. Os resultados da avaliação confirmam a aquisição problemática dos contrastes vocálicos /e/-/ɛ/ e /o/-/ɔ/, sendo especialmente problemática a produção das vogais médias, mesmo em falantes de níveis intermédios-altos de proficiência linguística: a vogal média [e] é produzida corretamente em apenas 17% das sequências (vs. 97,9% na vogal baixa [ɛ]); a vogal média [o] atinge uma taxa de sucesso de 34,8% (vs. 100% na vogal [ɔ]). Estes resultados sugerem um problema específico no domínio do grau de altura das vogais, já que todos os erros das informantes envolvem alterações no grau de altura e nenhuma no ponto de articulação. À vista disto, argumentamos que as informantes terão sofrido um processo de fossilização na sua interlíngua (Selinker, 1972) e discutimos como a transferência do conhecimento prévio do sistema fonológico do CM (cf. descrições de Duanmu, 2007; Lin & Wang, 2013), as caraterísticas fonológicas do PE (cf. descrição de Mateus e d’Andrade, 2000), a Hipótese do Reemprego (Archibald, 2005, 2009) e universais linguísticos ([i, a, u] como vogais não marcadas, universais – e.g. Veloso, 2012) poderão estar a condicionar o seu desempenho. Quanto aos tipos de tarefa, verificamos um melhor desempenho nas tarefas de repetição e de leitura, seguido pelo da tarefa de nomeação e, depois, pelo da tarefa de descrição. Atribuímos estes resultados ao efeito facilitador dos estímulos ortográficos (na leitura) e auditivos (na repetição) e à maior complexidade (na tarefa de descrição). Este resultado confirma a importância de considerar, não só dados de produção controlada, como de produção espontânea, para averiguar o domínio de uma determinada estrutura fonético-fonológica (e.g. Celce-Murcia et al., 2010). Os resultados obtidos mostram, pois, que vários anos de aprendizagem formal e de imersão linguística não são suficientes para os falantes nativos de CM adquirirem os contrastes de altura em /e/-/ɛ/ e /o/-/ɔ/, sendo necessária uma intervenção fonético-fonológica dirigida aos problemas apresentados pelos aprendentes.