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Sociologia da Saúde

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  • Protagonismos leigos alternativos nas trajetórias de saúde
    Publication . Rosa, Rosário; Silva, Luísa Ferreira da; Alves, Fátima
    A expansão dos sistemas alternativos de saúde dá lugar ao pluralismo de cuidados que corresponde a construções reflexivas de percursos que estão para lá da normatividade da medicina. As escolhas leigas destes cuidados correspondem a racionalidades distantes da razão da ciência ao constituírem-se como sistemas explicativos complexos que se referem à experiência subjetiva. Esta tese, de caráter exploratório, problematiza o fenómeno dos ‘protagonismos alternativos nas trajetórias de saúde’ entendido como as atitudes agenciais de construir a própria saúde com recurso a abordagens que não se incluem na biomedicina. Sendo este fenómeno relativamente recente na sociedade portuguesa e praticamente não analisado sociologicamente, interessa-nos situar os pilares analíticos que baseiam a sua compreensão. Estabelecemos um diálogo teórico entre alguns pilares da racionalidade positivista, dualística, cartesiana que marca o conhecimento científico e o pensamento moderno da ciência e da biomedicina (e dos discursos oficiais de saúde que dele derivam) para o questionamento dos sentidos e significados dos movimentos leigos de adesão às medicinas alternativas e complementares. A nossa intenção é o entendimento da ação leiga que se desloca do sistema oficial, biomédico de cuidados de saúde para a procura de vias alternativas de a cuidar e promover. Utilizamos uma abordagem compreensiva que se serve da metodologia qualitativa, através das entrevistas em profundidade com dezoito sujeitos utilizadores dos sistemas de cuidados de saúde alternativos. O que leva os indivíduos a procurar sistemas ‘alternativos’ para promover a saúde e lidar com a doença? Como integram esses sistemas no seu quotidiano e como os articulam com o sistema biomédico? Quais as racionalidades leigas que privilegiam na sua configuração explicativa e interventiva? Como é que eles surgem e se posicionam nas trajetórias de saúde? Nas racionalidades leigas, a ‘saúde’ e o ‘saudável’ são categorias de pensamento que o sujeito constrói na relação consigo mesmo e com a vida, e não apenas com um corpo sintomático ou biológico. A ação que os sujeitos protagonizam na procura das medicinas alternativas deriva desse entendimento de si e dos seus contextos de vida, que não pretendem separar das vivências da saúde, mas antes integrar através de uma saúde holística. Os ‘protagonistas alternativos da saúde’ são sujeitos informados, críticos das estruturas envolventes, e que decidem as suas escolhas de saúde, de forma racional, negociada subjetivamente, no quadro de possibilidades a que cada um pode aceder. Assim como as racionalidades leigas, eles apresentam linhas de proximidade e elementos diferenciadores entre si. Neste estudo encontrámos dois perfis-tipo de protagonismos alternativos na saúde: o ‘pragmático’ e o ‘criativo’.
  • Sexualidades juvenis : continuidades e mudanças : um estudo qualitativo no distrito do Porto
    Publication . Vieira, Cristina Pereira; Silva, Luísa Ferreira da; Vilar, Duarte
    A modernidade tardia conduziu a noção de sexualidade no sentido da plasticidade em que os indivíduos conduzem os relacionamentos numa direcção da fluidez através de lógicas subjectivas de construção e reconstrução que aceitam a diversidade como norma (Plummer, 2003a; Weeks, 1985). Enquadrados/as numa variedade de contextos socializadores, surgem e circulam mensagens múltiplas, informativas e normativas de regulação pelo saber-poder. Tendo presentes as transformações da sociedade portuguesa nas últimas três décadas, tendo em conta o facto social do risco da sida e a consequente medicalização da sexualidade (educação sexual e prevenção) e fazendo uso do conhecimento de que o saber leigo resiste à regulação das práticas do quotidiano pela normatividade da medicina, a pesquisa define como objectivos a análise da sexualidade dos jovens do ponto de vista da construção identitária que implica a socialização, a informação, a reflexividade da ciência e as escolhas individuais. Pretende-se perceber como se desenvolve a relação do/da jovem com a sua sexualidade, numa sociedade em que à socialização primária se acrescenta uma poderosa socialização secundária e a multiplicidade de propostas abre um vasto leque de possibilidades de escolha. A pesquisa dirige-se aos significados presentes no relato de experiências relativas à socialização, modelos, orientações e lógicas relacionais/sexuais. A pesquisa recorre ao método qualitativo de grupos de discussão (com jovens, rapazes e raparigas, portugueses, entre os dezassete e vinte e cinco anos de idade) para, através do “efeito da sinergia” provocada pelo próprio cenário grupal, perceber a construção da identidade sexual no sentido de consciência de auto-construção dos processos da sua afirmação com sentido de autonomia. Os resultados mostram a subjectividade das lógicas leigas em que a sexualidade aparece incrustada a valores, símbolos e significados que ultrapassam a lógica da racionalidade científica e relativizam a adesão à sua normatividade. Ajustamentos, construções próprias e individuais deixam perceber o sentido plural da sexualidade. Os/as jovens dão a perceber que edificam uma sexualidade feita de escolhas onde podem prevalecer concepções mais centradas em paradigmas tradicionais ou mais dirigidas por paradigmas modernos.
  • A doença mental nem sempre é doença : racionalidades leigas sobre saúde e doença mental : um estudo no Norte de Portugal
    Publication . Alves, Fátima; Silva, Luísa Ferreira da
    As sociedades relacionam-se com a loucura em acordo com as concepções dominantes sobre o mundo (Benedict, 1934; Devereux, 1977). A racionalidade moderna construiu a doença mental como um ‘objecto’ controlado pela medicina (Foucault, 1987). No universo leigo das sociedades modernas, os conceitos, as atitudes e as práticas associadas com a doença mental são culturalmente distantes da representação científica do corpo, da doença e do paciente (Devereux, 1970). A característica semiperiférica da sociedade portuguesa, integrando simultaneamente características típicas das sociedades desenvolvidas e das menos desenvolvidas e menos complexas (Santos, 1990), permite antever um edifício explicativo sobre a doença mental complexo e multifacetado, simultaneamente moderno e tradicional. Esta pesquisa investiga as racionalidades leigas sobre a doença mental numa região (Norte) de Portugal. Para além das explicações e interpretações da racionalidade profissional e das da racionalidade política-jurídica (as políticas de saúde mental representam o acordo que uma determinada sociedade estabelece relativamente aos problemas da loucura) quais são as interpretações e concepções leigas? Após a revisão da bibliografia sobre a história da loucura, as políticas de saúde mental e as representações sociais sobre doença mental, esta pesquisa adopta uma abordagem qualitativa que privilegia o ponto de vista no nativo de Geertz (1983) e se apoia no argumento de pluralidade de habitus e de contextos de acção (Lahire, 2005). A análise respeita ao conteúdo de sessenta e oito entrevistas efectuadas a homens e mulheres. Nas racionalidades leigas, a ‘doença mental’ pode ser doença ou não. Os discursos leigos, em vez de falarem em ‘as doenças’, falam em ‘os doentes’ e retiram-se sistematicamente da entidade doença para se situarem face à ‘pessoa’, enquanto uma entidade ontológica holística que associa corpo e mente e integra a pessoa em todos os domínios da vida. Nas racionalidades leigas, classificam-se as pessoas em três categorias: os doentes, os fracos e os fortes (de personalidade). Os doentes têm uma doença que, claramente, aparece inscrita no corpo (com causas orgânicas ou morais); os fracos têm cismas e nervos que os podem fazer ficar doentes; os fortes são capazes de vencer o sofrimento mental próprio dos acontecimentos de vida. À psiquiatria, o pensamento leigo atribui uma função de controlo da loucura, exercido através do tratamento e da exclusão daqueles que têm verdadeiras doenças mentais. A representação social da psiquiatria remete-a para a dominante biomédica e não psicodinâmica. A ‘conversa’ é o recurso mais valorizado quando se fala de sofrimento mental (não doença mental); ela é atributo de outros profissionais do sistema (os psicólogos) e de profissionais (ou agentes não profissionais) alternativos (de vários tipos). Nessa lógica, identifica-se uma cultura de resistência à psiquiatrização (medicalização) do sofrimento mental e uma afirmação da agência individual (a ‘conversa’ reforça as forças do próprio indivíduo, único capaz de vencer a tendência para a doença). Quer as narrativas de doença mental (na terceira pessoa), quer as narrativas de sofrimento mental (na primeira pessoa) são formas de o sujeito se colocar perante si próprio, em estreita relação com a identidade. A doença e a ‘não-doença’ são entidades através das quais o indivíduo se constrói, afirmando-se, ou se destrói, aniquilando-se. Em síntese, a pesquisa encontrou uma relação leiga com a doença mental (na linguagem da medicina) feita de várias lógicas, complexas e múltiplas, pelo que propõe o conceito de racionalidades leigas, no plural, sobre sofrimento e doença mental.