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Estudos Franceses

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  • Questões de poética simbolista : estudo comparativo
    Publication . Coelho, Paula Mendes; Gorceix, Paul; Reis, Carlos
    Trata-se nesta tese de questionar uma poética – a simbolista de expressão francesa - tendo por horizonte o inegável “risco” representado por Mallarmé, ou antes, pela sua “arquitectura” teórica e, como objectivo, uma reavaliação do Simbolismo, a partir da reapreciação e “desmontagem” de alguns lugares comuns que a História e a Crítica literárias, em geral, vieram a perpetuar. Parte-se da reavaliação do soneto “Correspondances” de Baudelaire, da teoria das “correspondências” (tidos como o fundamento “natural” do Simbolismo), todavia entendidos aqui na perspectiva acordo/desacordo, num distanciamento da Weltanshauung de matriz decadentista, do “homem decadente”, ponto de partida para a “dinâmica “ do movimento simbolista, para uma Estética da Modernidade. Dá-se conta do debate teórico em torno do conceito de símbolo (que teve lugar na década de 1885-1895), protagonizado por poetas tidos pela crítica como minores, mas cujo contributo se revelaria determinante para a reconstituição da rede teórico-doutrinária do movimento simbolista. Traça-se assim um percurso através de diferentes textos teóricos/doutrinários/poéticos, nas suas parecenças/contiguidades/contradições, na procura de uma “essência” primeira e do entendimento global da poética questionada. São assim detectados vectores que conduzem ao papel determinante da música (entre idealidade e arquitectura formal, bem longe do “De la musique avant toute chose...” de Verlaine), vectores que inesperadamente conduzem à recuperação do”humano”, da “sensação”, adquirindo uma dimensão nova, quando confrontados com a “arquitectura teórica” de Mallarmé, sobretudo quando articulados com o seu “démon de l´analogie”, conducente a uma “estética do objecto”, numa ligação inesperada às Artes Decorativas, ou seja, uma poética que se encontra nos antípodas de uma poética do “vago”, do “fluido”, tal como é geralmente considerada pela crítica. Este confronto constitui parte integrante do fenómeno simbolista, cuja especificidade enquanto entidade só é possível delimitar quando equacionada com as obras dos Simbolistas belgas (de origem flamenga, mas de língua francesa), cujo contributo teórico e poético se revelou da maior importância para o Simbolismo. A especificidade deste simbolismo é analisada, na sua relação privilegiada com o Romantismo alemão, através sobretudo do “diálogo intertextual” que fomos estabelecendo entre os textos de Novalis, de Maeterlinck e do místico flamengo Ruysbroeck. (importância do “inconsciente”, da “intuição”...) As conclusões acerca da “sugestão poética” e do processo de “simbolização”, no âmbito da tradicional oposição entre “alegoria” e “símbolo” (reafirmação da dicotomia vs reabilitação benjaminiana da alegoria), revelam-se decisivas para a compreensão dos mecanismos da escrita simbolista: a transformação dos valores “negativos” (obscuridade, indefinição, indeterminação), em valores performantes e operatórios. O símbolo (symbolon) aparece enquanto elo de ligação primordial, e o Simbolismo, enquanto última tentativa de reconciliação, através da arte, do sujeito com o mundo, com o universo.
  • O mercador de palavras ou as encruzilhadas da escrita medieval : (1100-1270)
    Publication . Carreto, Carlos F. Clamote; Godinho, Helder; Marques, Maria Emília Ricardo
    O século XII francês caracteriza-se por múltiplas transformações (políticas, sociais, económicas, jurídicas, ideológicas, culturais) que redefinem, lenta mas profundamente, os contornos da civilização medieval. Ora, uma das mutações mais decisivas (senão a mais decisiva e marcante) reside justamente na passagem, que perscrutamos atentamente a partir dos múltiplos discursos que in-formam o texto poético, de uma economia oblativa, intimamente ligada ao pensamento simbólico, para uma economia mercantil e monetária, subordinada ao imaginário do signo. Será por mero acaso se vemos nascer e desenvolver-se, neste preciso contexto, a narrativa ficcional em língua vernacular (em romance)? Ou será uma mesma viragem epistemológica que dá simultaneamente origem à notável monetarização (aos mais diversos níveis) das relações sociais, ao renascimento da vitalidade urbana (factores através dos quais tendem a dissolver-se os laços, extremamente fortes e ritualizados, que uniam os homens uns aos outros na sociedade feudal), ao desabrochar do pensamento escolástico e das Ordens Mendicantes, à irrupção das catedrais góticas e à emergência de uma literatura profana que reivindica, pouco a pouco, a sua autonomia perante os sistemas poéticos latinos ou neolatinos? Surgia assim uma rede coerente de possíveis analogias na qual se vislumbrava a estranha e singular geminalidade entre a imagem ambígua do mercador (modelo da fertilidade e comunicação restauradas sobre o qual plana, todavia, e inelutavelmente, o espectro da usura, da avareza, da fraude, da mentira e da falsificação diabólicas) e a não menos ambígua figura do poeta, esse demiurgo que se compraz no jogo, ao mesmo tempo lúdico e subversivo, dos simulacros da Palavra, da Criação e da Verdade. Sobre ambos, pesa o anátema da danação; ambos aspiram, no limiares de uma espécie de Purgatório da linguagem, à plena legitimação dos respectivos discursos. Numa altura em que começam a desagregar-se os valores constitutivos do feudalismo, em que a relação com um Significado fundador, referencial, se torna cada vez mais longínqua e irrecuperável, a ficção e a moeda cunhada emergem assim como dois novos tipos de mediação ante o objecto de desejo, como duas formas de escrita (homólogas, embora distintas e autónomas) que modificam as relações com o Outro e com o mundo (e com o Outro-Mundo inclusive), tanto quanto as suas respectivas representações, e através das quais se elaboram, em suma, novos processos de simbolização. A dualidade e duplicidade que se instauram entre estes dois modos privilegiados de representação (mental e socialmente construída) não podia deixar de ter influências na própria concepção da palavra poética. Com efeito, a forma como dialogam, se entrelaçam, colidem ou se excluem mutuamente imaginário oblativo (bem patente no ideal cavaleiresco e cortês de liberalidade, por exemplo) e imaginário mercantil, abre-nos um terreno de investigação único para observarmos o modo como os dois principais géneros narrativos em verso dos séculos XII-XIII (a canção de gesta e o romance que analisamos mais minuciosamente), reflectem e/ou inflectem o universo que os rodeia e, nesse processo, verificar de que forma se interrogam sobre o seu próprio estatuto e se posicionam um face ao outro através de secretas ou explícitas relações dialógicas e intertextuais. Se, nesta perspectiva, vemos o discurso épico dar, frequentemente, corpo e voz ao inconsciente ideológico e textual recalcado nos inúmeros inter-ditos, ou não-ditos, que estruturam o imaginário romanesco (e vice versa), evidenciando simultaneamente as potencialidades e os limites de uma determinada concepção da linguagem poética e da visão do mundo que (a) sustenta e veicula, caberá à chamada narrativa "realista" do século XIII levar este processo de reflexão (no sentido cognitivo e especular do termo) às últimas consequências. Com efeito, ao multiplicar falaciosamente os "efeitos de real" e as referências ao universo económico, esta narrativa sugere que a única realidade da/na literatura consiste, na verdade, no facto de ser uma arte, subtil e engenhosamente, tecida através de uma temível e sedutora manipulação da retórica da linguagem e das formas significantes nas quais se espelha incessantemente. Desta nova economia poética, emerge uma (in)suspeita, mas agora triunfal e triunfante, relação entre o poeta e o mercador de palavras, entre a usura e a narrativa ficcional enquanto infinita reprodução de simulacros e perpétua deslocação metafórica de uma significação ao mesmo tempo proliferante e sempre ausente; relação na qual se vislumbra a natureza paradoxal, evanescente e profundamente enganadora, do texto medieval como eterna falsa moeda sígnica e semântica.