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Trata-se nesta tese de questionar uma poética – a simbolista de expressão francesa - tendo por horizonte o inegável “risco” representado por Mallarmé, ou antes, pela sua “arquitectura” teórica e, como objectivo, uma reavaliação do Simbolismo, a partir da reapreciação e “desmontagem” de alguns lugares comuns que a História e a Crítica literárias, em geral, vieram a perpetuar.
Parte-se da reavaliação do soneto “Correspondances” de Baudelaire, da teoria das “correspondências” (tidos como o fundamento “natural” do Simbolismo), todavia entendidos aqui na perspectiva acordo/desacordo, num distanciamento da Weltanshauung de matriz decadentista, do “homem decadente”, ponto de partida para a “dinâmica “ do movimento simbolista, para uma Estética da Modernidade.
Dá-se conta do debate teórico em torno do conceito de símbolo (que teve lugar na década de 1885-1895), protagonizado por poetas tidos pela crítica como minores, mas cujo contributo se revelaria determinante para a reconstituição da rede teórico-doutrinária do movimento simbolista. Traça-se assim um percurso através de diferentes textos teóricos/doutrinários/poéticos, nas suas parecenças/contiguidades/contradições, na procura de uma “essência” primeira e do entendimento global da poética questionada.
São assim detectados vectores que conduzem ao papel determinante da música (entre idealidade e arquitectura formal, bem longe do “De la musique avant toute chose...” de Verlaine), vectores que inesperadamente conduzem à recuperação do”humano”, da “sensação”, adquirindo uma dimensão nova, quando confrontados com a “arquitectura teórica” de Mallarmé, sobretudo quando articulados com o seu “démon de l´analogie”, conducente a uma “estética do objecto”, numa ligação inesperada às Artes Decorativas, ou seja, uma poética que se encontra nos antípodas de uma poética do “vago”, do “fluido”, tal como é geralmente considerada pela crítica.
Este confronto constitui parte integrante do fenómeno simbolista, cuja especificidade enquanto entidade só é possível delimitar quando equacionada com as obras dos Simbolistas belgas (de origem flamenga, mas de língua francesa), cujo contributo teórico e poético se revelou da maior importância para o Simbolismo. A especificidade deste simbolismo é analisada, na sua relação privilegiada com o Romantismo alemão, através sobretudo do “diálogo intertextual” que fomos estabelecendo entre os textos de Novalis, de Maeterlinck e do místico flamengo Ruysbroeck. (importância do “inconsciente”, da “intuição”...)
As conclusões acerca da “sugestão poética” e do processo de “simbolização”, no âmbito da tradicional oposição entre “alegoria” e “símbolo” (reafirmação da dicotomia vs reabilitação benjaminiana da alegoria), revelam-se decisivas para a compreensão dos mecanismos da escrita simbolista: a transformação dos valores “negativos” (obscuridade, indefinição, indeterminação), em valores performantes e operatórios. O símbolo (symbolon) aparece enquanto elo de ligação primordial, e o Simbolismo, enquanto última tentativa de reconciliação, através da arte, do sujeito com o mundo, com o universo.
Description
Tese de Doutoramento em Estudos Franceses apresentada à Universidade Aberta
Keywords
Charles Baudelaire, 1821-1867 Stéphane Mallarmé, 1842-1898 Literatura francesa Século XIX Modernidade Poética Simbolismo Escritores Poesia Cultura francesa Estética Música Arte Discurso poético Literatura belga
Citation
Coelho, Paula Mendes - Questões de poética simbolista [Em linha] : estudo comparativo. Lisboa : [s.n.], 1999. 316 p.