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Abstract(s)
A forma como as sociedades se têm relacionado com a loucura é resultado das concepções
dominantes sobre o mundo (Benedict, 1934; Devereux, 1970). A nossa sociedade criou a
doença mental como objecto controlado pela medicina (Foucault, 1987). As concepções, as
atitudes e as práticas associadas à doença mental são diferentes se captadas no universo
cultural da medicina/psiquiatria, ou no universo popular, culturalmente muito distante da
representação cientifica do corpo, da doença e do doente (Devereux, 1977).
Os estudos sobre os processos sociais excludentes subjacentes à construção da doença mental
dirigem‐se ás representações sociais (De Rosa, 1987; Bellelli, 1987; Serino, 1987; Jodelet, 1995)
e à imagem pública das pessoas com doença mental (Cummings and Cummings, 1957;
Nunnally, 1961; Philips, 1966; Bhugra, 1989; G.U.M.G., 1994; Philo et al., 1996), ignorando a
perspectiva daqueles que a vivenciam e com ela lidam no quotidiano.
A condição semi‐periférica da sociedade portuguesa justifica que características típicas das
sociedades desenvolvidas e complexas coexistam a par de características típicas das
sociedades menos desenvolvidas e menos complexas (Santos,1990). Esta situação permite‐nos
supor que, no interior do esquema mais global da modernidade, o sistema explicativo da
loucura e da doença mental na sociedade portuguesa contenha especificidades que lhe são
próprias. Por um lado, a psiquiatrização da sociedade "não está terminada" na medida em que
o estado‐providência só tardiamente e parcialmente se implantou, nomeadamente, a quase
inexistência de estruturas comunitárias faz com que a integração social das pessoas com
doença mental se apoie nas famílias (Alves, 1998). Paralelamente, a democratização tardia da
sociedade acompanha uma estratificação social que "não permite" aos leigos interpelar a
medicina. Ao mesmo tempo, a vivência da ruralidade ainda está presente nas gerações adultas
o que alimenta um sistema de referência de tipo pré‐moderno.
A nossa pesquisa tem por finalidade perceber a articulação entre os sistemas de definição
politico‐juridica e profissional por um lado e o sistema de conhecimentos populares sobre a
loucura e doença mental, por outro.
A nossa comunicação apresenta dados empíricos de um estudo qualitativo desenvolvido no
norte de Portugal.
Description
Keywords
Doença mental Sistema de referência leigo Sociologia da saúde