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Abstract(s)
As racionalidades leigas contemporâneas no Ocidente continuam a incorporar formas de
conhecimento (com as suas classificações, representações, saberes), provenientes de vários
campos, onde se inclui a ciência a par da religião, da moral, da magia, da natureza, enfim, da
cultura (De Rosa, 1987; Bellelli, 1987; Serino, 1987; Jodelet, 1995; Alves, 1998; Wagner et al., 1999; Rabelo, et al., 1999a; Charmillot, 2002). O conhecimento de que se servem os
agentes sociais na interacção não corresponde em absoluto à hegemonia do poder/saber
médico, sendo um conhecimento de tipo diferente do da ciência moderna, onde as
necessidades de produzir sentidos exigem modelos bem mais próximos dos universos
simbólicos culturais locais.
Em Portugal a penetração dos conceitos e das práticas psiquiátricas seguiu com atraso as
tendências das sociedades complexas ocidentais (Alves, 1998). A sociedade providência
desempenha um papel fundamental na “compensação” das deficiências da produção estatal.
No campo do mental, a sociedade civil secundária (Santos, 1990) tem protagonizado algumas
responsabilidades sociais, no entanto, na realidade, quando entre nós se fala de integração
comunitária das pessoas com doença mental, está-se quase exclusivamente a falar de
integração nas famílias (Alves, 1998).
Os estudos desenvolvidos para o campo da saúde e da doença em geral permitem-nos
constatar a coexistência de modos de produção da saúde: a par da medicina oficial,
reconhecida oficialmente como a instituição exclusiva da responsabilidade pela doença
(Carapinheiro, 1993), encontramos as "medicinas alternativas", que actuam num registo
semiclandestino, e a "medicina popular", reconhecida informalmente pela “comunidade” que a
ela recorre num registo personalizado e clandestino face à racionalidade oficial. Os trabalhos
desenvolvidos atestam essas diferenças para o caso da saúde em geral (Nunes, 1987;
Hespanha, M. J., 1987; Bastos et al. 1987; Fontes et al., 1999;) bem como nos conduzem
para a reflexão em torno das racionalidades leigas enquanto campo povoado por lógicas de
produção de sentidos plurais (Carapinheiro, 2001; Lopes, 2003; Silva, 2008) que urge
compreender, visto que são essas racionalidades leigas que orientam as trajectórias sociais de
saúde e de doença. Neste contexto, procuramos perceber a configuração do modo de produção
de sentido para o campo mental, ou seja as racionalidades leigas.
As informações que apresentamos resultam de uma pesquisa empírica que se centra nas
racionalidades leigas sobre saúde e doença mental, efectuada numa região (Norte) de
Portugal. Procurámos, neste contexto, ‘cartografar’ as concepções que existem para além do
modelo psiquiátrico dominante. Quais as concepções de sofrimento mental que povoam o
mundo da vida? Em Portugal, o edifício explicativo sobre a doença mental é complexo e
multifacetado, simultaneamente moderno e tradicional (Alves, 2009).
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Racionalidades leigas Saúde mental