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- Primeiro diagnóstico sobre implementação da Sustentabilidade nas Instituições de Ensino Superior: análise dos resultados de um inquéritoPublication . Madeira, Ana Carla; Disterheft, Antje; Teixeira, Margarida Ribau; Caeiro, Sandra
- Participatory approaches in higher education's sustainability practices : a mixed-methods study leading to a proposal of a new assessment modPublication . Disterheft, Antje; Caeiro, Sandra; Azeiteiro, Ulisses; Leal Filho, WalterTransformar as Instituições do Ensino Superior (IES) pode ser visto como um dos grandes desafios na transição para um futuro mais sustentável. A estas instituições tem sido atribuído um papel importante na mudança de paradigma no sentido de permitir que as gerações atuais e futuras possam viver de modo saudável e em harmonia com os ecossistemas. Este papel assume múltiplas funções e desafios. As IES são desafiadas a repensarem a sua missão institucional, as suas estruturas e o funcionamento dos seus cursos, como por exemplo a necessidade dos conteúdos se abrirem para a inter- e transdisciplinaridade, mas também a repensarem a sua missão e finalidade educativa. Na perspetiva dos estudantes enquanto futuros líderes e decisores, estes devem estar habilitados com as competências necessárias para serem capazes de enfrentar os complexos desafios com que as sociedades de hoje estão confrontadas. Assim, as IES devem ser convidadas a reformularem os seus currículos para a literacia da sustentabilidade. Os esforços relacionados com a Educação para a Sustentabilidade (ES) / Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) são a prova de um movimento crescente de investigadores e atuação dedicadas à investigação, à ação e ao debate e prática sobre como envolver as IES nessas mudanças institucionais e educacionais. Um número crescente de IES já começaram a responder com estratégias diversas para a implementação da sustentabilidade e transformação institucional. O conceito de participação tem sido considerado útil neste contexto enquanto contributo e reforço da governação institucional e para o discurso da EDS na promoção de uma cidadania democrática. As abordagens participativas têm ganho crescente atenção nestes esforços, mas permanecem muitas vezes vagas e não sendo consideradas nos procedimentos de avaliação da sustentabilidade. Existe uma escassez de estudos sobre as dimensões da participação no âmbito da implementação da sustentabilidade no ensino superior, e uma incompreensão desses processos, tanto na prática da realização de um processo participativo, bem como na avaliação da sustentabilidade. Para a implementação da sustentabilidade as abordagens participativas podem e devem ser vistas como cruciais na mudança de paradigma para a sustentabilidade e contribuir para a integração do conceito de sustentabilidade na cultura universitária. Mesmo que a participação seja, em parte, considerada nas práticas de avaliação existentes, ainda não está claro o que medir, e como medir os processos participativos. Abordagens holísticas são muitas vezes anunciadas, mas os métodos de avaliação reducionistas são os mais frequentemente seguidos. O foco parece estar colocado no desempenho e benchmarking, levantando preocupações de que as práticas de avaliação da sustentabilidade possam atender mais às necessidades de mercado do que às necessidades da sociedade e da sua transformação. Apesar de em alguns casos de aplicação, apenas um número reduzido de instituições seguir uma abordagem integradora da sustentabilidade na sua organização, a designada ‘whole-institution approach’. Há tendências unilaterais de alguma forma enganadoras de "tornar-se verde" (greenwashing), impulsionado por necessidades do mercado, pelas vantagens de marketing, e pelos benefícios económicos, aumentando contudo os riscos do designado greenwashing. Partindo deste estado atual dos conhecimentos, foram delineados três objetivos principais de investigação: (i) Estudar os conceitos de ES/EDS, da ciência da sustentabilidade e da avaliação da sustentabilidade, com foco em abordagens participativas dentro de iniciativas de sustentabilidade em instituições de ensino superior; (ii) Identificar os fatores críticos de sucesso e possíveis critérios de avaliação para abordagens participativas na implementação da sustentabilidade do ensino superior; (iii) desenvolver um modelo conceptual de suporte à avaliação da qualidade de um processo participativo em termos de eficácia e potencial de transformação da comunidade académica, em iniciativas para a sustentabilidade. Para responder a estes objectivos, foi analisado como as IES envolvem as suas comunidades nas iniciativas de educação para a sustentabilidade e como essas iniciativas são avaliadas. Em resposta à necessidade de abordagens mais holísticas, propõe-se um novo modelo de avaliação, o modelo INDICARE. O estudo segue um desenho de investigação com métodos mistos utilizando entrevistas semi-estruturadas, grupos focais, workshops e apontamentos sobre observações de campo como levantamentos qualitativos; e questionários como método quantitativo, bem como contínuas revisões de literatura e triangulação de dados. A pesquisa foi desenvolvida em fases de investigação sequenciais, inspirada no método Delphi. Como primeiro passo, foi realizada uma revisão da literatura e reflexão crítica sobre a ciência para a sustentabilidade e a educação para o desenvolvimento sustentável, como teorias de base e campos emergentes de investigação para uma transição a universidades (mais) sustentáveis. A seguir, realizou-se uma sistematização das ferramentas de avaliação de sustentabilidade aplicadas nas IES, para analisar em que medida a participação da comunidade no campus é efetuada. Esta análise foi utilizada para preparar entrevistas semi-estruturadas e grupos focais com profissionais da área da sustentabilidade (n = 51), a trabalharem no ensino superior, de 22 países diferentes, a fim de identificar os fatores críticos de sucesso e possíveis critérios de avaliação para abordagens participativas. A análise foi realizada de acordo com a análise qualitativa de conteúdo e suportada num software de análise de dados qualitativos, o NVivo 10. Os resultados foram então utilizados para desenvolver o modelo de avaliação, que foi discutido e ajustado ao longo de seis fases de feedback, tendo sido apresentada a professores, investigadores, profissionais comunitários e estudantes de doutoramento (n = 98) durante conferências, workshops e encontros universitários, em cinco países diferentes. Os resultados das entrevistas e grupos focais sugerem que o sucesso das abordagens participativas é dependente das condições estruturais das instituições e dos indivíduos envolvidas, destacando a importância de aptidões específicas e competências para os processos participativos. A EDS no ensino superior está associada à capacitação e “empoderamento” (empowerment), e tem evoluído de uma abordagem mais restrita da sustentabilidade ambiental para aspetos da sustentabilidade social. Além disso, os participantes desta investigação deram evidências empíricas relacionadas, por um lado com algumas das dificuldades associadas ao envolvimento dos atores-chave, destacando por exemplo, a falta de recursos, a reduzida credibilidade e a frustração. Por outro lado realçaram aspetos positivos, como o aumento da aceitação, a confiança, o maior diálogo e o otimismo. No que diz respeito a possíveis critérios de avaliação, os resultados mostram que os processos participativos podem ser melhor avaliados a partir de uma perspectiva de aprendizagem social e aprendizagem organizacional enfatizando critérios não-lineares para a qualidade do processo em termos de profundidade e significado, bem como critérios em termos de produção de conhecimento e inovação. As respostas apontaram também embora implicitamente para a necessidade de considerar a aprendizagem transformadora no âmbito do double and triple - loop learning, se for de facto incorporada uma cultura de participação para a sustentabilidade, e sublinham o impacto forte na governação institucional. Com base nesses resultados, e inspirados na teoria de sistemas, bem como nos princípios da biofilia e das abordagens ecocêntricas, o modelo de avaliação INDICARE aqui proposto centra-se na avaliação da qualidade e no caráter transformador do processo participativo. O modelo fornece um conjunto preliminar de trinta e dois indicadores e práticas, agrupados em três categorias de i) contexto, ii) processo e iii) transformação. Estas categorias seguem uma perspectiva integradora, reconhecendo as interligações e conexões entre o contexto no qual o processo participativo acontece, o desenho do processo e a sua execução, bem como as transformações que podem acontecer durante e a posteriori de uma iniciativa participativa. No seu conjunto visam capturar as características não-lineares de processos participativos. O processo de avaliação em si é considerado como um exercício estimulador e não como uma ferramenta de controlo, e enfatiza a ligação entre a reflexão pessoal e as atividades comunitárias. Os indicadores e práticas sugeridos neste modelo pretendem não só ajudar a avaliar a participação no processo de transição para uma universidade (mais) sustentável, mas também para contribuir positivamente para o debate em curso em torno da sustentabilidade no ensino superior, e para incentivar especialmente novas perspectivas sobre as dimensões de participação. Para que processos participativos se tornem transformadores, o modelo INDICARE sugere a mudança da avaliação orientada para o desempenho no sentido de uma avaliação orientada para o “empoderamento” (empowerment) que ligue o crescimento individual ao coletivo. De acordo com as conclusões deste estudo as IES devem refletir mais profundamente sobre o que pode significar a adoção de uma perspectiva sistémica no âmbito da implementação da sustentabilidade e na procura da contribuição para a justiça sócio-ecológica. É essencial abrir espaços para práticas mais transformadoras para lidar com a complexidade da sustentabilidade. Muitas vezes, ainda se notam percepções reducionistas, expressas em estruturas organizacionais fragmentadas, tornando a inter- e transdisciplinaridade mais difícil. A terminologia em torno de abordagens integradoras organizacionais (whole-institution approach) baseia-se em novas formas de colaboração, contrariamente às atuais estruturas hierárquicas e modelos de gestão mais tradicionais. Entendendo as universidades como laboratórios vivos, estas instituições podem proporcionar excelentes oportunidades para envolver toda a comunidade (interna e externa) num discurso significativo para a sustentabilidade e servindo de exemplo para outro tipo de organizações. Este estudo pretende dinamizar o debate global sobre a sustentabilidade no ensino superior, nomeadamente propondo uma abordagem inovadora e mais holística na avaliação, que visa experienciar a interligação das relações homem-natureza, combinando com exercícios de reflexão, que possam assim responder melhor ao desafio para uma transformação ao nível individual e institucional, sem a qual os princípios da sustentabilidade serão dificilmente postos em prática. Esta investigação abre novos debates e conduzirá certamente a futuros estudos que serão necessário para melhor entender a implementação da sustentabilidade. Futuros estudos podem centrar-se, por exemplo, nos processos de aprendizagem transformadora e aproximações holísticas no seu impacte e potencial para o crescimento pessoal bem como para a transformação institucional, verificando também a eficácia deste tipo de processos. Mais investigação é necessária para entender as motivações nas quais se baseiam os esforços para a sustentabilidade, nomeadamente ao nível institucional, para poder responder melhor aos desafios de transformação e servir o bem comum. Neste âmbito, podem explorar-se novos métodos de colaboração, como a Teoria U ou o Dragon Dreaming, para perceber a sua capacidade de adaptação ao contexto universitário e melhorar processos colaborativos. Em geral, tal investigação poderia incidir sobre as interfaces da ciência-sociedade e sobre o seu potencial para a mudança em direção a um paradigma mais sustentável, colocando a investigação ao serviço dos sistemas sócio-ecológicos.