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Authors
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Abstract(s)
Transformar as Instituições do Ensino Superior (IES) pode ser visto como um dos
grandes desafios na transição para um futuro mais sustentável. A estas instituições
tem sido atribuído um papel importante na mudança de paradigma no sentido de
permitir que as gerações atuais e futuras possam viver de modo saudável e em
harmonia com os ecossistemas. Este papel assume múltiplas funções e desafios. As IES são desafiadas a repensarem a sua missão institucional, as suas estruturas e o
funcionamento dos seus cursos, como por exemplo a necessidade dos conteúdos se
abrirem para a inter- e transdisciplinaridade, mas também a repensarem a sua missão
e finalidade educativa. Na perspetiva dos estudantes enquanto futuros líderes e
decisores, estes devem estar habilitados com as competências necessárias para serem
capazes de enfrentar os complexos desafios com que as sociedades de hoje estão
confrontadas. Assim, as IES devem ser convidadas a reformularem os seus currículos
para a literacia da sustentabilidade. Os esforços relacionados com a Educação para a
Sustentabilidade (ES) / Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) são a
prova de um movimento crescente de investigadores e atuação dedicadas à
investigação, à ação e ao debate e prática sobre como envolver as IES nessas
mudanças institucionais e educacionais.
Um número crescente de IES já começaram a responder com estratégias diversas
para a implementação da sustentabilidade e transformação institucional. O conceito
de participação tem sido considerado útil neste contexto enquanto contributo e
reforço da governação institucional e para o discurso da EDS na promoção de uma
cidadania democrática. As abordagens participativas têm ganho crescente atenção
nestes esforços, mas permanecem muitas vezes vagas e não sendo consideradas nos
procedimentos de avaliação da sustentabilidade. Existe uma escassez de estudos sobre
as dimensões da participação no âmbito da implementação da sustentabilidade no
ensino superior, e uma incompreensão desses processos, tanto na prática da
realização de um processo participativo, bem como na avaliação da sustentabilidade.
Para a implementação da sustentabilidade as abordagens participativas podem e
devem ser vistas como cruciais na mudança de paradigma para a sustentabilidade e
contribuir para a integração do conceito de sustentabilidade na cultura universitária.
Mesmo que a participação seja, em parte, considerada nas práticas de avaliação
existentes, ainda não está claro o que medir, e como medir os processos participativos.
Abordagens holísticas são muitas vezes anunciadas, mas os métodos de avaliação
reducionistas são os mais frequentemente seguidos. O foco parece estar colocado no
desempenho e benchmarking, levantando preocupações de que as práticas de
avaliação da sustentabilidade possam atender mais às necessidades de mercado do
que às necessidades da sociedade e da sua transformação. Apesar de em alguns casos
de aplicação, apenas um número reduzido de instituições seguir uma abordagem
integradora da sustentabilidade na sua organização, a designada ‘whole-institution
approach’. Há tendências unilaterais de alguma forma enganadoras de "tornar-se
verde" (greenwashing), impulsionado por necessidades do mercado, pelas vantagens
de marketing, e pelos benefícios económicos, aumentando contudo os riscos do
designado greenwashing.
Partindo deste estado atual dos conhecimentos, foram delineados três objetivos
principais de investigação:
(i) Estudar os conceitos de ES/EDS, da ciência da sustentabilidade e da avaliação da
sustentabilidade, com foco em abordagens participativas dentro de iniciativas
de sustentabilidade em instituições de ensino superior;
(ii) Identificar os fatores críticos de sucesso e possíveis critérios de avaliação para
abordagens participativas na implementação da sustentabilidade do ensino
superior;
(iii) desenvolver um modelo conceptual de suporte à avaliação da qualidade de um
processo participativo em termos de eficácia e potencial de transformação da
comunidade académica, em iniciativas para a sustentabilidade.
Para responder a estes objectivos, foi analisado como as IES envolvem as suas
comunidades nas iniciativas de educação para a sustentabilidade e como essas
iniciativas são avaliadas. Em resposta à necessidade de abordagens mais holísticas,
propõe-se um novo modelo de avaliação, o modelo INDICARE.
O estudo segue um desenho de investigação com métodos mistos utilizando
entrevistas semi-estruturadas, grupos focais, workshops e apontamentos sobre
observações de campo como levantamentos qualitativos; e questionários como
método quantitativo, bem como contínuas revisões de literatura e triangulação de
dados. A pesquisa foi desenvolvida em fases de investigação sequenciais, inspirada no
método Delphi.
Como primeiro passo, foi realizada uma revisão da literatura e reflexão crítica sobre
a ciência para a sustentabilidade e a educação para o desenvolvimento sustentável,
como teorias de base e campos emergentes de investigação para uma transição a
universidades (mais) sustentáveis. A seguir, realizou-se uma sistematização das
ferramentas de avaliação de sustentabilidade aplicadas nas IES, para analisar em que
medida a participação da comunidade no campus é efetuada. Esta análise foi utilizada
para preparar entrevistas semi-estruturadas e grupos focais com profissionais da área
da sustentabilidade (n = 51), a trabalharem no ensino superior, de 22 países
diferentes, a fim de identificar os fatores críticos de sucesso e possíveis critérios de
avaliação para abordagens participativas. A análise foi realizada de acordo com a
análise qualitativa de conteúdo e suportada num software de análise de dados
qualitativos, o NVivo 10. Os resultados foram então utilizados para desenvolver o
modelo de avaliação, que foi discutido e ajustado ao longo de seis fases de feedback,
tendo sido apresentada a professores, investigadores, profissionais comunitários e
estudantes de doutoramento (n = 98) durante conferências, workshops e encontros
universitários, em cinco países diferentes.
Os resultados das entrevistas e grupos focais sugerem que o sucesso das
abordagens participativas é dependente das condições estruturais das instituições e
dos indivíduos envolvidas, destacando a importância de aptidões específicas e
competências para os processos participativos. A EDS no ensino superior está
associada à capacitação e “empoderamento” (empowerment), e tem evoluído de uma
abordagem mais restrita da sustentabilidade ambiental para aspetos da
sustentabilidade social. Além disso, os participantes desta investigação deram
evidências empíricas relacionadas, por um lado com algumas das dificuldades
associadas ao envolvimento dos atores-chave, destacando por exemplo, a falta de
recursos, a reduzida credibilidade e a frustração. Por outro lado realçaram aspetos
positivos, como o aumento da aceitação, a confiança, o maior diálogo e o otimismo.
No que diz respeito a possíveis critérios de avaliação, os resultados mostram que os
processos participativos podem ser melhor avaliados a partir de uma perspectiva de
aprendizagem social e aprendizagem organizacional enfatizando critérios não-lineares
para a qualidade do processo em termos de profundidade e significado, bem como
critérios em termos de produção de conhecimento e inovação. As respostas
apontaram também embora implicitamente para a necessidade de considerar a
aprendizagem transformadora no âmbito do double and triple - loop learning, se for de
facto incorporada uma cultura de participação para a sustentabilidade, e sublinham o
impacto forte na governação institucional.
Com base nesses resultados, e inspirados na teoria de sistemas, bem como nos
princípios da biofilia e das abordagens ecocêntricas, o modelo de avaliação INDICARE
aqui proposto centra-se na avaliação da qualidade e no caráter transformador do
processo participativo. O modelo fornece um conjunto preliminar de trinta e dois
indicadores e práticas, agrupados em três categorias de i) contexto, ii) processo e iii)
transformação. Estas categorias seguem uma perspectiva integradora, reconhecendo
as interligações e conexões entre o contexto no qual o processo participativo acontece,
o desenho do processo e a sua execução, bem como as transformações que podem
acontecer durante e a posteriori de uma iniciativa participativa. No seu conjunto visam
capturar as características não-lineares de processos participativos. O processo de
avaliação em si é considerado como um exercício estimulador e não como uma
ferramenta de controlo, e enfatiza a ligação entre a reflexão pessoal e as atividades
comunitárias. Os indicadores e práticas sugeridos neste modelo pretendem não só
ajudar a avaliar a participação no processo de transição para uma universidade (mais)
sustentável, mas também para contribuir positivamente para o debate em curso em
torno da sustentabilidade no ensino superior, e para incentivar especialmente novas
perspectivas sobre as dimensões de participação. Para que processos participativos se
tornem transformadores, o modelo INDICARE sugere a mudança da avaliação
orientada para o desempenho no sentido de uma avaliação orientada para o
“empoderamento” (empowerment) que ligue o crescimento individual ao coletivo.
De acordo com as conclusões deste estudo as IES devem refletir mais
profundamente sobre o que pode significar a adoção de uma perspectiva sistémica no
âmbito da implementação da sustentabilidade e na procura da contribuição para a
justiça sócio-ecológica. É essencial abrir espaços para práticas mais transformadoras
para lidar com a complexidade da sustentabilidade. Muitas vezes, ainda se notam
percepções reducionistas, expressas em estruturas organizacionais fragmentadas,
tornando a inter- e transdisciplinaridade mais difícil. A terminologia em torno de
abordagens integradoras organizacionais (whole-institution approach) baseia-se em
novas formas de colaboração, contrariamente às atuais estruturas hierárquicas e
modelos de gestão mais tradicionais. Entendendo as universidades como laboratórios
vivos, estas instituições podem proporcionar excelentes oportunidades para envolver
toda a comunidade (interna e externa) num discurso significativo para a
sustentabilidade e servindo de exemplo para outro tipo de organizações.
Este estudo pretende dinamizar o debate global sobre a sustentabilidade no ensino
superior, nomeadamente propondo uma abordagem inovadora e mais holística na
avaliação, que visa experienciar a interligação das relações homem-natureza,
combinando com exercícios de reflexão, que possam assim responder melhor ao
desafio para uma transformação ao nível individual e institucional, sem a qual os
princípios da sustentabilidade serão dificilmente postos em prática. Esta investigação
abre novos debates e conduzirá certamente a futuros estudos que serão necessário
para melhor entender a implementação da sustentabilidade. Futuros estudos podem
centrar-se, por exemplo, nos processos de aprendizagem transformadora e
aproximações holísticas no seu impacte e potencial para o crescimento pessoal bem
como para a transformação institucional, verificando também a eficácia deste tipo de
processos. Mais investigação é necessária para entender as motivações nas quais se
baseiam os esforços para a sustentabilidade, nomeadamente ao nível institucional,
para poder responder melhor aos desafios de transformação e servir o bem comum.
Neste âmbito, podem explorar-se novos métodos de colaboração, como a Teoria U ou
o Dragon Dreaming, para perceber a sua capacidade de adaptação ao contexto
universitário e melhorar processos colaborativos. Em geral, tal investigação poderia
incidir sobre as interfaces da ciência-sociedade e sobre o seu potencial para a
mudança em direção a um paradigma mais sustentável, colocando a investigação ao
serviço dos sistemas sócio-ecológicos.
Universities have been attributed a key role in contributing to a paradigm change towards sustainability, and an increasing number of higher education institutions (HEIs) have started to respond with diverse strategies for sustainability implementation and institutional transformation. The concept of participation - one requirement for sustainability and part of the Education for Sustainable Development (ESD) discourse - represents an underexplored research field at university level, and a more differentiated understanding of these processes is still missing, both in the practice of conducting a participatory process and in the sustainability assessment. This study analyses how HEIs engage their communities in sustainability related efforts and how these efforts are assessed. In response to the need for more holistic approaches, an assessment model, INDICARE, is proposed that can assist in designing and assessing participatory processes within higher education’s sustainability initiatives. Following a mixed-methods research design, literature reviews and desktop research about sustainability assessment in universities were first used to prepare semi-structured interviews and focus groups with sustainability practitioners (n=51) in order to identify critical success factors and possible assessment criteria for participatory approaches. The analysis was conducted according to qualitative content analysis and supported with qualitative data analysis software NVivo 10. The findings were then used in combination with six feedback loops (diverse sample (n=98)), data triangulation and critical reflection to develop the assessment model. The model is based on indicators and practices, divided into three categories of context, process and transformation. This study shows that participatory processes can be better assessed from a social- and organisational learning perspective, proposing an empowerment-oriented assessment that would link the individual and collective growth with transformation. Perceiving universities as living laboratories, these institutions can provide excellent opportunities for engaging the whole community (internal and external) meaningfully in sustainability. By providing an innovative assessment tool, the study invites HEIs to engage in a broader discourse about the human-nature relationships and the interconnectedness of societal- and ecosystems, exploring ecocentric and biophilic ideas together with transformative learning theories. This study can initiate further research on transformative processes, exploring new collaborative methods that foster trans- and interdisciplinarity and that focus on science-society interfaces, embedding the research in the service of socioecological systems.
Universities have been attributed a key role in contributing to a paradigm change towards sustainability, and an increasing number of higher education institutions (HEIs) have started to respond with diverse strategies for sustainability implementation and institutional transformation. The concept of participation - one requirement for sustainability and part of the Education for Sustainable Development (ESD) discourse - represents an underexplored research field at university level, and a more differentiated understanding of these processes is still missing, both in the practice of conducting a participatory process and in the sustainability assessment. This study analyses how HEIs engage their communities in sustainability related efforts and how these efforts are assessed. In response to the need for more holistic approaches, an assessment model, INDICARE, is proposed that can assist in designing and assessing participatory processes within higher education’s sustainability initiatives. Following a mixed-methods research design, literature reviews and desktop research about sustainability assessment in universities were first used to prepare semi-structured interviews and focus groups with sustainability practitioners (n=51) in order to identify critical success factors and possible assessment criteria for participatory approaches. The analysis was conducted according to qualitative content analysis and supported with qualitative data analysis software NVivo 10. The findings were then used in combination with six feedback loops (diverse sample (n=98)), data triangulation and critical reflection to develop the assessment model. The model is based on indicators and practices, divided into three categories of context, process and transformation. This study shows that participatory processes can be better assessed from a social- and organisational learning perspective, proposing an empowerment-oriented assessment that would link the individual and collective growth with transformation. Perceiving universities as living laboratories, these institutions can provide excellent opportunities for engaging the whole community (internal and external) meaningfully in sustainability. By providing an innovative assessment tool, the study invites HEIs to engage in a broader discourse about the human-nature relationships and the interconnectedness of societal- and ecosystems, exploring ecocentric and biophilic ideas together with transformative learning theories. This study can initiate further research on transformative processes, exploring new collaborative methods that foster trans- and interdisciplinarity and that focus on science-society interfaces, embedding the research in the service of socioecological systems.
Description
Tese de Doutoramento em Sustentabilidade Social e Desenvolvimento apresentada à Universidade Aberta
Keywords
Ensino superior Papel da educação Educação ambiental Desenvolvimento sustentável Participação Cidadania Higher education Participation Sustainability assessment
Pedagogical Context
Citation
Disterheft, Antje - Participatory approaches in higher education's sustainability practices [Em linha] : a mixed-methods study leading to a proposal of a new assessment model. Lisboa : [s.n.], 2015. 309 p.