Relações Interculturais
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Browsing Relações Interculturais by advisor "Bäckström, Bárbara"
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- Migração e saúde: estratégias e gestão dos cuidados de saúde e doença dos refugiados em Maratane, Nampula, norte de MoçambiquePublication . Muianga, Baltazar Samuel; Bäckström, BárbaraA presente investigação reflete sobre a problemática das migrações forçadas na sua interface com a saúde e incide, particularmente, sobre a autogestão de saúde e doença que os refugiados acionam por forma a superar as barreiras estruturais no acesso a estes serviços. Esta pesquisa analisou o quotidiano dos refugiados residentes no Centro de Maratane, na província de Nampula, no norte de Moçambique. Para o efeito, seguiu-se uma triangulação teórica, cruzando as abordagens sociológicas das migrações e saúde, articuladas com a sócio-antropologia da saúde/doença. Parte-se da presunção de que em função dos constrangimentos estruturais e socioculturais que condicionam a prestação e acesso aos serviços de saúde para os refugiados, estes servem-se do seu “capital social” para gerir situações de risco de saúde, usando outras soluções terapêuticas diferentes do Sistema Nacional de Saúde. Realça-se ainda que os refugiados recorrem ao seu “capital económico” para aceder os cuidados de saúde, prestados pelo Sistema Nacional de Saúde, seja público ou privado. Em termos metodológicos, a investigação orientou-se pela abordagem qualitativa, considerando uma amostra de 59 participantes que foram selecionados na base de acessibilidade. Os participantes foram refugiados provenientes de países africanos, sobretudo Burundi, República Democrática do Congo, Ruanda e Somália. Para a recolha de dados, usouse as entrevistas semiestruturadas, os grupos focais e a observação direta. Em relação à análise dos dados, foi usada a técnica de análise de conteúdo. Os resultados revelam que os refugiados enfrentam dois níveis de barreiras estruturais no acesso aos cuidados de saúde, nomeadamente as internas e externas. As barreiras internas resumem-se nas fragilidades estruturais inerentes aos serviços de saúde no Centro de Maratane, onde se destaca a falta de um Banco de Sangue, a insuficiência de recursos materiais e de serviços médico-cirúrgico, a falta de medicamentos, a morosidade no atendimento e a ausência de serviços de saúde mental, que são cruciais para a reabilitação psicosocial dos refugiados. As barreiras externas consistem na inacessibilidade geográfica da região, com maior índole para os fatores de ordem económica, a ineficaz inserção comunitária, a fraca integração social e os constrangimentos socioculturais, em particular os problemas linguísticos e de comunicação que condicionam a relação entre os refugiados, o pessoal médico e os intérpretes da Unidade Sanitária local. Devido a estes constrangimentos, os refugiados recorrem a medicina moderna e a outras “medicinas” paralelas caracterizadas por práticas terapêuticas alternativas para a autogestão da sua saúde, destacando-se, por um lado, o recurso a uma pluralidade de sistemas de saúde, designadamente o folclórico, o popular e a automedicação, acionados através das suas interações sociais quotidianas, que incluem ações de autocuidado de “senso comum”, o capital social/ubuntu/ e as redes de solidariedade baseadas nas amizades, na familiaridade e na identidade étnico - cultural.
- Racionalidades leigas e a prevenção da sífilis congênita no BrasilPublication . Silva, Ana Luísa Nepomuceno; Bäckström, Bárbara; Freitas, Marise Reis deA pesquisa proposta parte de dois pressupostos: o primeiro, que as práticas e os comportamentos na área da saúde são uma tríade entre fenômenos biológicos, psicológicos e sociais; o segundo, que as ações para a promoção da saúde são complexas e, apesar de considerarem o conhecimento dos sujeitos como elemento fundamental para a melhoria dessas práticas, reconhecem elementos subjetivos, representações e racionalidades que extrapolam o que o conhecimento puro traduz. O enquadramento teórico foi alicerçado, portanto, em autores do campo das ciências sociais e das ciências da saúde com contribuições nos debates sobre racionalidades leigas, representações sociais e saberes populares e em autores do campo da psicologia e neurociência que dialogam com as teorias sobre subjetividade e representação e atuam na área do comportamento, mais especificamente no comportamento em saúde. Além, claro, das referências fundantes sobre sífilis e sífilis congênita. A partir daí, e considerando o atual cenário da sífilis congênita no Brasil, pretendeu-se identificar e analisar quais são as racionalidades leigas sobre sífilis entre gestantes no país e suas relações com os comportamentos na área da saúde voltados à prevenção da sífilis congênita. A pesquisa, de viés qualitativo, foi composta por uma amostragem constituída de 20 gestantes com perfil social, econômico e cultural diferentes, distribuídas da seguinte forma: (a) 10 gestantes em situação econômica favorável, com fácil acesso aos serviços de saúde, identificadas a partir de grupos temáticos em redes sociais (whatsapp, telegram e instagram) voltados às gestantes; (b) 10 gestantes em situação de pobreza, incluindo gestantes em situação de rua ou com moradia precária, sendo, as gestantes em “situação de pobreza”, aquelas que recebem algum auxílio financeiro ou material de instâncias governamentais ou não. Os dados foram coletados a partir de entrevistas semiestruturadas e analisados a partir do Método da Análise de Conteúdo. Para isso, foram criadas categorias de análise com foco nos saberes, práticas, sentimentos das gestantes e sua relação com os serviços e profissionais da saúde. Os resultados da pesquisa revelaram que independentemente do grupo social ao qual a gestante estava vinculada, suas racionalidades devem ser percebidas de forma individualizada para que possam ser compreendidas, considerando que não identificamos relação direta entre essas racionalidades e elementos objetivos de caracterização. Assim, podemos dizer que os resultados da pesquisa revelaram que para a implementação de políticas para a eliminação de uma doença como a sífilis congênita, é preciso cautela e atenção às individualidades caso queiramos considerar os sujeitos como coparticipantes na implementação dessas políticas.