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- A prática da Arte Xávega e os seus percursos de resistência entre a tradição e a modernidade : estudo de caso na Vila de Sesimbra e no MecoPublication . Gato, Anabela Carvalho Santos Neto; Alves, FátimaEm Portugal há poucos estudos sobre a Arte Xávega que enfatizem a sua multidimensionalidade na compreensão da experiência quotidiana dos pescadores que ainda a praticam e que desenham modos de vida mais ou menos próximos da natureza, onde as percepções e a forma como lidam com os recursos do mar ganham relevo para compreender as relações e interações que estruturam os seus saberes e os seus fazeres e enraízam identidades e percursos de resistência que se afirmam entre a tradição e a modernidade. Neste estudo de caso que desenvolvemos a partir das comunidades piscatórias de Sesimbra Vila e do Meco, a pertinência científica do estudo revela-se desde logo por se tratar de uma Arte de pesca secular que se encontra em risco de desaparecer e, com ela, as comunidades que em seu torno enraízam os seus saberes e a sua cultura. Inspirada no paradigma qualitativo, assente na observação participante e em 17 entrevistas semi-directivas, esta pesquisa centra-se na perspectiva dos sujeitos e nas suas vivências, de modo a conhecer “por dentro” estas comunidades e compreender o papel da Arte Xávega nas suas vidas bem como as racionalidades que sustentam a sua resistência. A diversidade e riqueza das suas narrativas permite identificar lógicas comunitárias (por oposição às lógicas do mercado e do estado) que persistem na prática da Arte Xávega e que não se enquadram nas prerrogativas do capitalismo, da competitividade e inovação, carecendo de uma abordagem holística que conjuge a proteção dos recursos e das comunidades que deles dependem, numa gestão integrada que considere a sua riqueza biológica, a antropização do litoral, a pressão sobre os recursos, os saberes e vivencias locais e as suas raízes históricas e identitárias que marcam a sua sobrevivência em pleno século XXI. Apesar de a arte xávega não configurar uma realidade homogénea nestas duas comunidades, historicamente ela foi entendida como uma pesca artesanal de sustento, uma forma de vida da qual dependiam famílias inteiras, sendo hoje percebida como uma atividade complementar e uma herança que importa preservar. A Arte Xávega, nestas comunidades, não é entendida como uma arte destruidora nem predatória e apesar de conhecerem a sua classificação como “envolvente-arrastante”, distinguem-na claramente do arrasto cuja ação consideram “agressiva, intrusiva e prejudicial”. Reconhecendo tratar-se de uma Arte de Pesca em franco declínio, afirmam o seu valor cultural e a necessidade de reapropriação do seu valor patrimonial e turístico para a manter, o que tem sido apoiado pelo poder local. Este trabalho reforça a necessidade de aprofundar o conhecimento dos modos de vida das comunidades onde ainda se pratica a Arte Xávega, de modo a informar uma política das pescas que atenda ao carácter social e cultural desta atividade e não apenas ao seu valor económico. Esse maior conhecimento permitirá criar condições para a preservação destes modos de vida tradicionais, mais próximos da natureza e das práticas ancestrais enquanto reguladoras dos ecossistemas.