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Jacquinet, Maria Luísa

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  • Em desagravo do santíssimo sacramento: o "Conventinho Novo": devoção, memória e património religioso
    Publication . Jacquinet, Maria Luísa; Câmara, Maria Alexandra Gago da
    Erigido num período bem pouco afecto à instituição de casas regrais, o Conventinho de Lisboa cedo se veria ameaçado pelas crescentes restrições que decretariam o definhar da existência congreganista. Ao breve e espinhoso percurso deste cenóbio poria termo, não muito tempo transcorrido sobre a sua já tardia fundação, a inexorável extinção das ordens religiosas femininas. Deixando na penumbra o seu passado, o ocaso do mosteiro instituir-se-ia, muito embora, como ponto de partida para a reabilitação do seu valor enquanto lugar de memória, valor a que a vaga de zelo que hoje infunde o olhar sobre o património vem entretanto dar forma. Por detrás dos muros anódinos deste objecto feito vestígio, afloração ténue de um passado disperso e desvanecido, arquitectónica e urbanisticamente inexpressivo, esconde-se um percurso complexo e suculento que, ultrapassando as balizas institucionais do seu nascimento e morte, reflecte, no tempo longo do Antigo Regime, na assunção das Luzes e na transição para o Liberalismo, as vicissitudes do religioso e não menos do político. Decidiria D. Maria Ana, secundogénita de D. José I, instituí-lo como memorial de desagravo ao Santíssimo Sacramento profanado em 1630 ao altar de Santa Engrácia, no tão celebrado desacato daquele templo lisboeta que não apenas abalaria a capital como – disse-se então - a inteira cristandade. A cerca de século e meio daquele momento fundador, o mosteiro parecia guardar-lhe, incólume, a memória que o seu sui generis programa espiritual, espacial, estético e iconográfico tão solicitamente acolhera. De onde a intrigante implantação que lhe conhecemos - no exacto lugar onde haviam sido encontradas as sagradas formas do desacato - ou mesmo a presença, na igreja monástica, de painéis azulejares alusivos ao episódio de 1630. De onde, também, a dimensão da comunidade, significativamente em número de trinta e três, numa alusão directa à idade de Cristo e ao número das hóstias profanadas. À curiosa recuperação de uma vocação que o tempo e a emergência de novos contextos poderiam ter eventualmente aluído, não seria alheia uma dimensão fortemente circunstancial, que envolveria a devoção eucarística e o vínculo à espiritualidade franciscana num programa de apropriação mnemónica onde se jogou a vontade dos monarcas e dos seus mais próximos validos