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FIGUEIREDO AMORIM, MARIA CLARA

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  • Aquisição das vogais médias do português na China: os desafios de um desenho experimental
    Publication . Castelo, Adelina; Zhou, Chao; Amorim, Clara
    Vários estudos na literatura têm mostrado que os aprendentes que utilizam poucos contrastes vocálicos na sua língua materna (L1) têm muita dificuldade em dominar um inventário vocálico não-nativo (L2) mais complexo (e.g. L1: espanhol; L2: inglês) (Bundgaard-Nielsen et al., 2011; Sousa et al., 2017). O mesmo problema foi revelado na aquisição das vogais do português por aprendentes chineses tanto em níveis iniciais (Castelo & Freitas, 2019), como em níveis de proficiência linguística mais avançados (Duan, 2021). Particularmente, a distinção entre /e/ e /ɛ/ encontra-se neutralizada nas produções orais em português por falantes nativos de chinês mandarim (CM). De acordo com vários modelos da aquisição fonológica de L2 (Flege, 1995; Escudero & Boersma, 2004; Best & Tyler, 2007), esta dificuldade pode ser atribuída ao facto de as duas vogais de L2 serem percetivelmente assimiladas a uma categoria de L1. Por este motivo, será relevante recorrer a dados percetivos para melhor compreender esta dificuldade dos aprendentes chineses na aquisição do português como L2 (PL2), já que os estudos anteriores se focalizaram na produção de fala em L2. Além disso, considerando que o contraste entre /e/ e /ɛ/ é por vezes representado através da acentuação gráfica na ortografia do português (e.g. Castelo, 2018) e que alguns estudos mostram a influência da ortografia no desenvolvimento da pronúncia numa L2 (Hayes-Harb, 2018), é possível que o uso de pistas ortográficas mitigue a dificuldade dos aprendentes chineses em desenvolver representações lexicais que incluam adequadamente o contraste segmental em causa. Tendo em conta os factos acima apresentados, deu-se início ao projeto de investigação “Aquisição de vogais portuguesas na China – dados percetivos”, que procura responder às seguintes questões acerca das vogais tónicas médias e baixas: (1) As produções desviantes dos falantes nativos de CM aprendentes de PL2 são motivadas por desvios percetivos?; (2) A existência de pistas ortográficas favorece a construção de uma representação fonológica adequada na aquisição de novas palavras?; (3) Há diferenças na perceção dos contrastes de altura em aprendentes com diferentes níveis de proficiência linguística? A construção do desenho experimental deste estudo revelou inúmeros desafios e a sua testagem num estudo-piloto mostrou também aspetos merecedores de reflexão. Assim sendo, o objetivo deste póster consiste em partilhar e fundamentar as opções tomadas no desenho experimental construído e em refletir sobre os seus êxitos e limitações, a partir das propostas da literatura e dos resultados do estudo-piloto. Consequentemente, o póster integrará quatro secções: (1) introdução, com fundamentação do projeto, objetivos e secções do póster; (2) apresentação das questões do desenho experimental, com a fundamentação das opções tomadas; (3) discussão dessas questões com base na literatura e nos resultados do estudo-piloto; (4) considerações finais. Mais concretamente, pretende-se refletir principalmente sobre quatro questões relativas ao desenho experimental desta investigação: os participantes, os estímulos linguísticos, as tarefas e as condições de recolha de dados. Os participantes são falantes nativos de CM, alunos de 1.º ou 3.º ano de licenciaturas na área de PL2 de diferentes instituições de ensino superior do Interior da China. Os estímulos linguísticos são pseudopalavras, paroxítonas e dissilábicas, com sílabas CV, consoantes oclusivas ou fricativas e as vogais-alvo em posição tónica; as variáveis manipuladas são a altura de vogal (média / baixa) e a pista ortográfica sobre a abertura de vogal (presente / ausente). Existem dois conjuntos de estímulos linguísticos: 12 pseudopalavras com vogais-alvo coronais; 6 pseudopalavras com vogais-alvo labiais. Cada estímulo foi produzido por três falantes nativas do português de Lisboa, sendo a produção do contraste em causa validada através da perceção de outras cinco falantes nativas da mesma variedade. A recolha de dados é feita a distância através de uma reunião Zoom: os investigadores dão as orientações e monitorizam, enquanto os participantes realizam as tarefas numa plataforma de e-learning, com o seu dispositivo digital e auscultadores. As tarefas incluem a identificação da vogal tónica nas 12 pseudopalavras com o contraste /e/-/ɛ/ e a aprendizagem dessas pseudopalavras. Cerca de uma semana mais tarde, os participantes realizam uma tarefa de deteção lexical baseada nas pseudopalavras aprendidas, uma tarefa de identificação da vogal nas pseudopalavras com o contraste /o/-/ɔ/ e uma tarefa para verificar a aprendizagem das 12 pseudopalavras iniciais. Os resultados de um estudo-piloto revelaram dificuldades sobretudo ao nível do envolvimento dos participantes e da tarefa de aprendizagem de pseudopalavras, estando a ser equacionadas estratégias para ultrapassar estas limitações.
  • O que são sons? Competência metafonológica de futuros professores
    Publication . Amorim, Clara; Castelo, Adelina
    A importância do desenvolvimento da consciência linguística e, em particular, da consciência fonológica no processo de aquisição da leitura e escrita tem sido destacada ao longo das últimas décadas (e.o. Freitas et al., 2007). Os documentos orientadores para a Educação Pré-Escolar (EPE) e para o ensino de Português no 1.º Ciclo do Ensino Básico (CEB) refletem os resultados da investigação, incluindo o desenvolvimento da consciência fonológica como um dos conteúdos a trabalhar. Já em 2006, para melhorar o ensino de português no 1.º CEB, foi implementado o Programa Nacional do Ensino do Português, que incluiu formação contínua de professores e correspondentes materiais didáticos, nomeadamente os dedicados à consciência linguística (Duarte, 2008), lexical (Duarte, 2011) e fonológica (Freitas et al., 2007). Apesar de tudo isto, um estudo exploratório (Amorim & Castelo, no prelo) mostra que as práticas educativas, as crenças e a formação profissional continuam distantes do que seria adequado. Resultados semelhantes têm sido relatados noutros países (e.g. Giménez et al., 2022; Jaskolski & Moyle, 2023) e um estudo recente sobre a preparação, em Portugal, dos futuros professores para o ensino da leitura e da escrita conclui, a partir da análise de fichas de unidades curriculares, que componentes essenciais para o ensino destas competências não são abordadas de forma explícita na formação inicial de professores (Leite et al., 2022). O presente trabalho pretende abordar a preparação da próxima geração de profissionais de educação dos níveis iniciais (EPE e 1.º CEB), investigando as competências de consciência fonológica de estudantes da licenciatura em Educação Básica e dos mestrados que habilitam para a docência na EPE e no 1.º CEB. Para isso, colocámos as seguintes questões: (1) Quais são os níveis de desempenho em tarefas de consciência fonológica no início do 1.º ano da licenciatura e de mestrado? (2) Que áreas devem ser reforçadas na formação inicial, de modo a preparar melhor os futuros profissionais para a promoção da consciência fonológica? Participaram neste estudo 98 estudantes (64 de licenciatura e 34 de mestrado), que responderam a um questionário online durante a primeira aula do ano letivo. O instrumento continha 41 questões, oito das quais se destinavam à caracterização dos participantes. As restantes incidiam sobre consciência silábica (e.g. número de sílabas), consciência fonémica (e.g. número de sons), relação fonema-grafema (e.g. som representado por um grafema) e conhecimento fonológico explícito (e.g. explicação de processos fonológicos). Os resultados mostram que os estudantes são influenciados pela ortografia em atividades de consciência silábica e fonémica, sobretudo em palavras cuja ortografia não é transparente (e.g. mais de 90% dos participantes indicam que “têm” é constituída por apenas uma sílaba). Revelam também desconhecimento de regras ortográficas, em especial, a grafia de ditongos nasais, manifestando dificuldades na identificação de ditongos nasais que não sejam assinalados por til (e.g. mais de metade dos participantes considera que “órgão” rima com “órfão”). Estes resultados vão ao encontro do relatado para outras línguas (e.g. Carroll et al., 2012; Jaskolski & Moyle, 2023), apontam para a necessidade de reforçar o ensino da consciência fonológica na formação inicial de professores e permitem identificar tópicos fonológicos específicos a abordar nessa formação.