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- Saberes e práticas de mães angolanas sobre os cuidados ao recém-nascido: contributos para melhorar a intervenção em saúde infantil e promover cuidados de saúde culturalmente competentesPublication . Tavares, Elsy; Ramos, NatáliaO período neonatal é crítico na vida de uma criança, pela sua maior vulnerabilidade e maior risco de morte. Assim, os cuidados realizados ao recém-nascido (RN) revestem-se da maior importância e têm reflexos na sua saúde futura. A cultura, mitos e crenças revelamse num conjunto de saberes tradicionais que muitas vezes prevalecem perante os conhecimentos científicos, levando a práticas de cuidados com consequências negativas para a saúde, como é o caso da onfalite. Em Angola, existe um elevado número de mortes nos recém-nascidos, sendo a septicemia uma das principais causas. Mantendo-se a tendência atual, entre 2017 e 2030, prevê-se que cerca de 60 milhões de crianças morrerão em todo o mundo, sendo metade recém-nascidos (UNIGME, 2017). Estas evidencias motivaram-nos a desenvolver o presente estudo, que teve como objetivo estudar os saberes e práticas de mães angolanas nos cuidados ao recém-nascido, nomeadamente ao coto umbilical. Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, comparativo e transversal que tem por base uma metodologia sobretudo de cariz qualitativa. Optamos por uma amostra não probabilística por conveniência. Solicitamos a participação de informadores qualificados para dar o seu contributo especializado sobre o tema. Utilizamos a triangulação de meios de colheita de dados através da entrevista semiestruturada, observação fílmica, fotográfica, observação direta e registo em grelha de observação. Realizamos o tratamento através de estatística descritiva e de análise de conteúdo. Os principais resultados evidenciam que os saberes e as práticas de mães angolanas nos cuidados ao recém-nascido, nomeadamente ao coto umbilical, derivam da componente empírica transmitida maioritariamente pela família através das gerações, e sobretudo pelas avós do recém-nascido e da componente científica atráves dos profissionais de saúde. O tempo de permanência na cidade de Luanda, das mães naturais de várias províncias de Angola, pode ser indicador da aculturação à cidade e a razão de algumas semelhanças nos seus testemunhos quando comparadas com as mães naturais de Luanda. Contudo, observamos que as mães com experiência migratória revelam alguns comportamentos distintos das mães naturais de Luanda, nomeadamente, ao mencionar com mais frequência o álcool como conhecimento prévio, sendo no entanto, as mães naturais de Luanda que mais o utilizam de forma isolada como prática nos cuidados ao coto umbilical. As práticas nos cuidados ao coto umbilical revelam uma variedade de meios e de produtos tradicionais, traduzindo-se em práticas incorretas e com consequências nocivas para o recém-nascido. Constatamos que existem mães que mesmo referindo conhecer a prática recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), optam por manter os cuidados tradicionais. Perante a elevada influência cultural nos cuidados das mães angolanas recomendamos o investimento na formação de profissionais no âmbito de cuidados de saúde culturalmente competentes, contribuindo para a capacitação das mães e diminuição da morbimortalidade neonatal em Angola.