Browsing by Issue Date, starting with "2009-06-05"
Now showing 1 - 1 of 1
Results Per Page
Sort Options
- Da "boca do corpo" aos "olhos da alma": o embodied self no português europeu : uma abordagem cognotivaPublication . Castanho, Arlindo José Nicau; Batoréo, HannaO presente trabalho perfilha a noção, comummente aceite no âmbito das modernas Ciências Cognitivas, de que o embodiment é a condição básica dos nossos sistemas perceptivos e cognitivos. De acordo com o conceito basilar de embodiment, percepção e cognição encontram-se intimamente ligadas, e tal interdependência não pode deixar de reflectir-se nos nossos processos de conceptualização e de expressão linguística. Estes pressupostos fazem prever que o embodiment condicione fortemente as conceptualizações respeitantes ao nosso próprio Eu, à relação entre o Eu e o corpo e à relação entre o corpo e as suas partes e órgãos. Seguindo a escala de relações acabada de apresentar, empreendemos sucessivamente, no âmbito do Português Europeu: a análise das modalidades de referência ao Eu e das conceptualizações que lhes são subjacentes; a análise da conceptualização do corpo, e da relação entre este e as suas partes, através de termos e expressões capazes de ilustrar amplamente tais mecanismos conceptuais. A linguagem encontra-se enraizada no corpo – embodiment “restrito” – e no ambiente físico-social – embodiment “generalizado” –, e é essa dependência da língua, em relação ao organismo e ao ecossistema, que faz com que se não possa falar sem se recorrer sistematicamente a processos de figuração ancorados na realidade material circunstante, tais como as metáforas e as metonímias. Em virtude das conceptualizações metonímica, metafórica e híbrida (porque estes dois processos figurativos se encontram, em muitos casos, intimamente coligados), a referência ao corpo e às partes ou órgãos do corpo demonstra-se, pois, no Português Europeu como nas outras línguas (mas é o Português Europeu que nos interessa prioritariamente), marcadamente polissémica. Procurámos dar conta dessa polissemia generalizada, através da análise de alguns termos básicos da taxonomia somática corrente e de algumas expressões referentes ao corpo e às suas funções perceptivas e cognitivas. Essas análises estearam-se na consulta e comparação sistemática dos verbetes que um grupo seleccionado de dicionários monolingues dedica a tais termos e expressões, bem como nos dados que sobre os mesmos nos fornece o corpus informático de elaboração de textos jornalísticos de que sistematicamente nos servimos. Isso não nos impediu de recorrer oportunamente a outras fontes documentais, sempre que estas nos tenham disponibilizado outros dados igualmente pertinentes, não presentes nas fontes documentais básicas. A análise dos dados linguísticos facultados pelas diversas fontes pautou-se, em linhas muito gerais, pelos seguintes dois princípios, próprios da Linguística Cognitiva: a) a focalização preferencial da análise linguística sobre a componente semântica; b) consequentemente seja a a) seja ao espírito que é próprio da Linguística Cognitiva, o pleno desenvolvimento da análise semântica implica uma genuína aplicação do princípio da Transdisciplinaridade, o que se traduz numa contínua atenção aos constructos propostos pela Neurofisiologia, pela Psicologia Aplicada, pela História da Língua, pela Iconologia, pela Antropologia Cultural, etc. Uma Linguística Cognitiva “fechada em si própria” seria, com efeito, uma contradição: uma abordagem cognitiva dos fenómenos linguísticos que prescinda dos métodos de análise propriamente linguísticos – ou que os trate como acessórios – não é, obviamente, Linguística; e uma Linguística que prescinda dos elementos fornecidos pelas outras Ciências Cognitivas – ou que os trate como meramente acessórios – não pode ser dita Cognitiva. No final do trabalho, esperamos ter amplamente demonstrado: a) a validade dos princípios acabados de enunciar; b) a inevitabilidade do recurso à metáfora e à metonímia, no Português Europeu (ainda que a mesma seja extensiva, muito provavelmente, a todas as línguas; mas só no caso do Português Europeu nos é dado averiguá-lo cabalmente); c) a interpenetração e interdependência dos processos de conceptualização metafórica e metonímica (sendo igualmente válido, neste caso, o parêntese da alínea precedente).