Browsing by Author "Antunes, Roberto Carmo"
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- Futuro aparente e futuro real : o porvir na poética e na retórica de Os LusíadasPublication . Antunes, Roberto Carmo; Padeira, Ana Rita SoveralNa presente dissertação, são expostos os resultados de um trabalho teórico-reflexivo sobre as referências que, na epopéia Os Lusíadas, de Luís de Camões, se apresentam sobre o futuro. Considerou-se como ‘referência ao futuro’ toda menção a fatos, pensamentos ou sentimentos que dizem respeito: a) a momentos posteriores ao em que se encontram as personagens num determinado ponto da narração, mas anteriores ao fim da produção da obra; b) a épocas subsequentes ao fim da produção da obra. Procurou-se compreender a maneira como essas referências participam da constituição de discursos poéticos e retóricos que se inter-relacionam no transcorrer dos dez cantos da epopeia. Tendo em vista que o método acima proposto transcende a análise de fenômenos narrativos, sem ignorá-los, foi necessária a formulação de uma terminologia adaptada à maneira específica como neste trabalho são abordados os fenômenos cronológicos. Foram escolhidos os termos ‘futuro aparente’ e ‘futuro real’ para designar, respectivamente, os dois tipos de referência ao futuro supra elencados. A expressão ‘tempo de autoria’, por sua vez, representa o momento em que o autor de Os Lusíadas considerou definitivamente encerrada a produção da obra. Convencionou-se como tempo de autoria o mesmo ano de publicação da epopeia, 1572. A análise da epopeia heroica camoniana segundo preceitos aristotélicos permite conceber que seu narrador principal desempenha na obra não apenas o papel de poeta, como também o de retor. O mesmo impulso que o leva a contar em versos os feitos de ilustres heróis portugueses impele esse ‘narrador-poeta-retor’ a tentar angariar para si, por meio de discursos laudatórios, o patrocínio de seu rei. Tal atuação do autor textual reflete o contexto histórico e cultural em que se inseria, na época de produção e publicação do poema, o autor empírico Luís de Camões. Foram incluídos entre os casos de futuro aparente: a) referências a conquistas de heróis portugueses no Oriente obtidas posteriormente à viagem de Vasco da Gama; b) expressões de esperanças, temores ou projetos de ação futura por parte das personagens. Ambos os tipos de ocorrência de futuro aparente constituem parte essencial da poética e da retórica de Os Lusíadas. Os feitos no Oriente são uma consequência direta das ações de desbravamento marítimo narradas no poema. Ao mesmo tempo, servem de exemplo para um discurso de louvor das virtudes portuguesas. Os medos, esperanças e projetos são justificados a partir de premissas retóricas, mas também participam da constituição de peripécias e reconhecimentos na trama poética. Foram incluídos entre os casos de futuro real: a) referências ao futuro do narrador; b) referências ao futuro de D. Sebastião, considerado como narratário; c) afirmações de princípios morais, religiosos, etc., cujo valor se admita como eterno; d) louvores às virtudes de reis e heróis, considerados como dignos de prêmio eterno. Esses casos participam também da concretização de intenções poéticas e retóricas. Quanto a narrador e narratário, há um objetivo manifesto do primeiro em persuadir o segundo, mas ambos aparecem como personagens relacionadas às ações do transcurso do poema. Quanto aos princípios e louvores, são utilizados tanto como premissas ou conclusões retóricas, quanto assegurando a verossimilhança poética. Na epopeia camoniana, o discurso retórico e o discurso poético encontram-se subordinados um ao outro. As ações poéticas servem de exemplos para endossar sentenças retóricas, mas estas últimas dependem, para ter existência, de personagens ou narradores-personagens inseridos em uma trama de ações. A análise dos exemplos recolhidos permite observar que as referências ao futuro não apenas participam desse processo, mas são ainda elementos essenciais a ele. Essa constituição peculiar permite considerar Os Lusíadas também como uma expressão literária de projeções sobre o porvir que dizem respeito aos rumos de uma sociedade que se transformava profundamente em direção à modernidade. Os quatro capítulos da presente dissertação podem ser sintetizados da seguinte forma: no capítulo 1, ‘Contributo para o estudo da cronologia em Os Lusíadas’, serão apresentados os conceitos a serem adotados e uma síntese crítica de estudos de natureza semelhante; no capítulo 2, ‘Poética, retórica e o estudo da cronologia em Os Lusíadas’, se fundamentará a ideia de que o narrador exerce função de poeta e de retor, e se dissertará sobre o contexto da publicação da epopeia; nos capítulos 3 e 4, ‘Futuro aparente’ e ‘Futuro real’, serão apresentados, respectivamente, exemplos de futuro aparente e futuro real, que serão analisados segundo a maneira como consolidem intenções poéticas ou retóricas.
- A retórica na ficção: a construção da personagem em diálogos de cinco escritores humanistasPublication . Antunes, Roberto Carmo; Dias, Isabel de Barros; Padeira, Ana Rita SoveralOs diálogos de cinco humanistas portugueses (Ropicapnefma de João de Barros, Diálogos em Roma de Francisco de Holanda, Imagem da Vida Cristã de frei Heitor Pinto, Diálogos de frei Amador Arraiz e o primeiro e o segundo diálogos Do Soldado Prático de Diogo do Couto) são estudados na presente tese de doutoramento sob a perspetiva narrativa, nomeadamente a da construção das personagens. São também analisados os aspetos conversacionais e retóricos, a partir do pressuposto, porém, que estes elementos integram a dimensão ficcional onde transcorre o enredo dialógico. Deste ponto de vista, os interlocutores dos colóquios não se pronunciam como porta-vozes do autor empírico da obra: trata-se de figuras que, por meio de ações discursivas praticadas alternadamente, estão habilitadas a persuadir e a ser persuadidas pelas demais, comportando-se de acordo com a sua personalidade própria. Constatou-se que o procedimento metodológico sucintamernte descrito acima oferece contributos objetivos para questões que, tradicionalmente, vêm sendo levantadas pela crítica a respeito das obras do corpus desta tese. Além disto, como a narração está associada ao delectare, o qual, unido ao docere, constitui o objetivo do diálogo literário, a ênfase nas ações e transformações das personagens pode constituir também a base teórica para definir estratégias de divulgação ampla das obras estudadas, visando um público menos restrito do que o formado por investigadores e estudantes universitários. Os diálogos de Platão e Cícero eram a grande referência estilística, retórica e filosófica para a intelectualidade do Humanismo; os diálogos portugueses, além de revelarem os contrastes ideológicos existentes no reino durante o século XVI, chegaram, no caso dos de frei Heitor Pinto, a ser copiosamente publicados e lidos naquela época. A posição periférica ocupada atualmente pelos textos deste género no cânone literário deve, portanto, ser revista, sendo que compreender o sentido da voz das personagens é o caminho aqui apontado como condição essencial para que tal ocorra.