Browsing by Author "Silva, Domingos J. Lopes da"
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- Modelação e inferência estatística : aplicações à educação física escolarPublication . Silva, Domingos J. Lopes da; Oliveira, AmílcarAlguns dos mais importantes avanços da ciência deram-se com a modelação e a inferência estatística. Com o resultado de uma amostra, e tendo por base a formulação da relação entre uma ou mais variáveis resposta e uma ou mais variáveis preditoras, tornou-se possível a extrapolação do resultado para a população e a partir daí a descrição de uma parte do mundo real. No fenómeno desportivo, na Educação Física (EF) escolar e nas Ciências do Desporto, na maior parte das situações a população é de muito grande dimensão, pelo que o recurso a uma amostra representativa é a única possibilidade. O objectivo deste estudo é realizar uma breve descrição, discussão e aplicação ao domínio da EF de algumas metodologias clássicas, nomeadamente análise de regressão linear simples e múltipla e análise de variância de medidas independentes e medidas repetidas, bem como de algumas metodologias avançadas, tais como a teoria dos valores extremos e raros. Para tal, recorremos a uma amostra aleatória de 231 estudantes do 12º ano de escolaridade, de ambos os sexos (rapazes: n=95; raparigas: n=136), da Escola Secundária/3 de Barcelinhos (Barcelos), no decurso dos anos lectivos 2008-2009 a 2012-2013. Estudo 1: sabendo que a capacidade de deslocar o corpo no espaço está fortemente correlacionada com a massa corporal total, foi nosso intuito criar um modelo de regressão linear simples para rapazes (RPZ) e raparigas (RPG), de modo a estudarmos a capacidade que o índice de massa corporal (IMC) tem em prever a performance na capacidade de resistência cardiorespiratória, operacionalizada pelo teste de corrida de resistência cardiorespiratória de 6 minutos (CR6min). O modelo final ajustado que melhor explica a capacidade de performance na CR6min é … RAPAZES: CR6min=1943,804–20,719xIMC RAPARIGAS: CR6min=1365,119–9,628xIMC Estudo 2: a classificação final na disciplina de EF é o resultado da interacção de diversos factores, especialmente daqueles que estão intimamente relacionados com o repertório motor. Por esta razão, aplicamos a análise de regressão linear múltipla em RPZ e RPG, na expectativa de criarmos um modelo cujas variáveis preditoras são formadas por componentes motoras (flexibilidade, força, força-resistência, resistência cardiorespiratória), avaliadas pelos testes de aptidão física sit-and-reach (SAR), potência horizontal (PH), situp’s (SU) e CR6min, visando predizer a classificação final de EF. O modelo final ajustado que melhor explica a classificação em EF é … RAPAZES: Nota Final EF=9,149+0,003*CR6min+0,043*SAR+0,016*PH RAPARIGAS: Nota Final EF=7,989+0,004*CR6min+0,024*PH Estudo 3: de uma forma geral, os alunos que frequentam o curso de ciências e tecnologias (CCT) têm melhores performances académicas do que os restantes alunos. Associado a este facto está, inevitavelmente, a média mais elevada de ingresso no ensino superior da maior parte dos cursos relacionados com esta área do ensino secundário. Mas os alunos do curso tecnológico de desporto (CTD) são, na sua generalidade, ou desportistas de competição ou praticantes com vivências desportivas regulares embora não orientadas nem formalmente competitivas. Por sua vez, os alunos do curso de ciências sociais e humanas (CCSH), estão mais vocacionados para a área das humanidades, ciências sociais e do comportamento. Normalmente, decidem-se por este curso pela impreparação, ou mesmo aversão, à matemática (MAT). No ensino secundário os alunos do CCSH frequentam a disciplina de Matemática Aplicada às Ciências Sociais. Neste sentido, foi nossa intenção aplicar a one-way ANOVA de medidas independentes de forma a comparar simultaneamente os alunos dos três cursos nas disciplinas de português (PTG) e EF, e os alunos dos CCT e CTD na disciplina de MAT. Algumas interrogações colocam-se: serão, de facto, os alunos do CCT os melhores em MAT? Serão, de facto, os alunos do CTD os melhores em EF? Serão, de facto, os alunos do CCSH os melhores em PTG? Os resultados mostram que na disciplina de PTG, os alunos do CCT e CCSH têm média significativamente mais elevada do que os alunos do CTD. Na disciplina de EF, os alunos do CTD e do CCT são significativamente melhores do que os alunos do CCSH; ainda nesta disciplina os alunos do CTD são significativamente melhores do que os alunos do CCT. Na disciplina de MAT, os alunos do CCT têm média significativamente mais elevada do que os alunos do CTD. Estudo 4: independentemente do curso de frequência, do género, do tipo ou nível de prática desportiva, os critérios em EF são iguais para todos. Desta forma, através da oneway ANOVA de medidas repetidas estudamos o efeito de um ano lectivo de aulas de EF na evolução do IMC, da aptidão física e da classificação obtida na disciplina. Todos os alunos foram avaliados em 4 momentos: M1 – Setembro (início do ano lectivo), M2 – Dezembro (final do 1º período lectivo), M3 – Abril (final do 2º período lectivo) e M4 – Junho (final do ano lectivo). A disciplina de EF, apenas foi avaliada em 3 momentos (M2, M3 e M4), correspondentes ao final de cada período lectivo. Algumas questões impõem-se: atendendo a que foram realizadas cerca de 66 aulas de EF de 90 minutos cada, será que os indicadores da aptidão física sofrem um incremento à medida que o ano lectivo se aproxima do fim? Será que a classificação final da disciplina de EF melhora com o evoluir do tempo? Quem progrediu mais, os rapazes ou as raparigas? Os resultados mostram que, em termos globais, parece existir um efeito positivo das aulas de EF na melhoria de alguns indicadores da aptidão motora e na classificação obtida na disciplina de EF em alunos do 12º ano de escolaridade, com maior relevância no género feminino. Estudo 5: a resistência cardiorespiratória é a mais importante componente da aptidão física relacionada com a saúde. No quadro da prática desportiva é factor determinante na maior parte das modalidades. A corrida é o meio por excelência mais utilizado no treino e na avaliação da capacidade de resistência cardiorespiratória. Na escola portuguesa dá-se atenção particular ao trabalho de corrida de resistência, em todos os anos de escolaridade, ao longo de todo o ano lectivo. Em média, um aluno do 12º ano de escolaridade, nãodesportista, percorre em 6 minutos de corrida cerca de 1430m se for rapaz e 1130m se for rapariga; se for desportista, percorre cerca de 1615m se for rapaz e 1300m se for rapariga. Ou seja, os não-desportistas obtêm marcas 12-15% abaixo dos desportistas. Não raras vezes, os alunos com excelente aptidão aeróbia são orientados para os clubes, onde poderão, de forma específica, maximizar todo o seu potencial atlético. Contudo, na escola coabitam alunos desportistas e não-desportistas, mas dentro da disciplina de EF os critérios de avaliação são exactamente os mesmos para alunos do mesmo ano de escolaridade e do mesmo sexo. Assim, a teoria dos valores extremos surge como uma ferramenta estatística preciosa na avaliação dos níveis extremos, especialmente dos valores situados na cauda direita. Deste modo, algumas das principais interrogações são: que distância um aluno tem que percorrer para ser considerado extremo, e por conseguinte ser valorizado na sua avaliação em EF? Qual a probabilidade de um aluno do 12º ano de escolaridade ultrapassar esta marca? Para além dos critérios estritamente matemáticos que outros critérios devem ser usados na determinação do valor limiar? Qual o valor mais elevado de distância percorrida em 6 minutos que, nas circunstâncias actuais, um aluno pode alcançar? Os resultados deste estudo mostram que a distribuição generalizada de valores extremos e o método de Gumbel não foram eficazes na modelação dos dados. Recorreu-se à distribuição generalizada de Pareto (dGP) e ao procedimento Peaks Over Threshold (POT). Para os rapazes o valor limiar seleccionado foi de 1725m, para as raparigas de 1350m. O modelo foi ajustado pelo método da máxima verosimilhança. O teste de Kolmogorov-Smirnov confirmou o bom ajuste dos dados. Os rapazes têm uma qualidade aceitável do ajuste pela dGP, ao passo que nas raparigas a qualidade do ajuste não é tão evidente. Foi estimado o valor esperado para o período de retorno a 2, 5, 10, 20 e 50 anos.