Melo, Daniel2024-10-182024-10-182024-04MELO, Daniel (2024), “A cultura do Estado Novo (1930-1960)”, in Nuno Gonçalo Monteiro e António Costa Pinto (dir.), História cultural contemporânea. Portugal: 1808-2010, Lisboa, Objetiva, p. 165-210, ISBN 978-989-787-540-3.978-989-787-540-3http://hdl.handle.net/10400.2/16651Dos anos 30 aos anos 50 muitas transformações se deram na cultura e na educação portuguesas, tal como no resto do mundo. Mas, estando então o país sujeito a uma das mais longas ditaduras contemporâneas, a mudança foi mais lenta e tiveram mais impacto as tendências autoritárias e conservadoras, bem como o papel do Estado. Com efeito, à I República marcada pela efervescência e pluralismo de intervenções – na afirmação de correntes modernistas, no reforço de experiências de democratização cultural como as universidades e bibliotecas populares, etc. – sucede uma Ditadura Militar, em 1926, cujo programa mínimo foi um nacionalismo de direita, inspirado na fórmula fascista italiana e em correntes autoritárias, integralistas (como o Integralismo Lusitano e a Action Française) e conservadoras (integrismo católico e democracia cristã). Com a constitucionalização desta ditadura em «Estado Novo», novas fontes de inspiração e diálogo emergem: o nazismo, o varguismo brasileiro, o franquismo e um certo modelo desenvolvimentista, controlado desde cima. Esta tensa convergência de influências e interesses será aproveitada por António de Oliveira Salazar para firmar a sua condição de ditador incontestado e inamovível, arbitrando vontades e compondo equilíbrios em prol duma superior política nacional, que de tudo se ocupará, incluindo duma cultura que serve para trabalhar a imagem do regime e duma instrução pública que serve agora a «educação nacional». Se no campo literário a oposição tem ascendente duradouro, já nas artes plásticas e na arquitectura o regime consegue aliciar muitos modernistas, para conciliarem formulações de vanguarda com a exaltação do nacional, do historicista, do tradicional e da sugestão folclórica. Na educação, a escola oficial torna-se um espaço central. Abrindo o foco, as contradições e conflitos internos mais marcantes deste período fizeram-se em torno da relação entre tradição e moderno, entre particular e universal, entre formação para grupos restritos ou para todos, entre quantidade e qualidade, entre autonomia e controle artístico. Este regime fechado – por natureza mais avesso a mudanças – marcará de modo indelével a evolução da cultura e da educação. Desde logo porque a expressão do pensamento e o pluralismo serão fortemente cerceados, com a propaganda, a censura e a repressão políticas, sustentáculos essenciais da «nova ordem». Ainda assim, subsiste algum experimentalismo vanguardista e afirmam-se novas correntes artístico-literárias, como os modernistas da revista Presença (1927-40), os neo-realistas, os surrealistas, todos contrários à ditadura. A estas acrescem tendências existencialistas, mundividências espirituais marcadas pelo catolicismo e/ou pelo neo-romantismo, além de se reforçar a corrente nacionalista.porHistória de PortugalHistória culturalHistória contemporâneaDitaduraHistória dos intelectuaisResistência culturalHistória do livroHistória da ediçãoCensuraRepressão culturalA cultura do Estado Novo (1930-1960)book part