Dallabrida, Norberto2024-08-132024-08-132024-06Dallabrida, Norberto - As reformas religiosas e o nascimento da escolarização ocidental. "e-LCV" [Em linha]. ISSN 2184-4097. Nº 12 (jan.-junho de 2024), p. 119-1362184-4097http://hdl.handle.net/10400.2/16484As reformas religiosas do século xvi foram as parteiras da primeira modernidade. Em um momento em que, com a expansão ibérica, os continentes se globalizavam, elas provocaram guerras de religião e uma fragmentação profunda no espaço europeu. Essa confessionalização da sociedade fez emergir um cristianismo mais racionalizado, sendo representado por diferentes igrejas protestantes e pelo catolicismo tridentino e, particularmente, pela Companhia de Jesus. Diferenciando-se do cristianismo medieval, luteranos, calvinistas e anglicanos investiram na criação de suas redes de instituições educativas, provocando uma onda inédita de escolarização, que concorria para dar consistência às práticas religiosas de seus fiéis. A Igreja Católica também se armou, criando escolas paroquiais e, sobretudo, uma rede de colégios jesuíticos que se difundiu no espaço europeu católico, no continente asiático e no Novo Mundo. Os estabelecimentos de ensino da Companhia de Jesus foram unificados, em 1599, por meio da instituição da Ratio studiorum — conjunto de regras escolares jesuíticas, que se converteu no currículo fundador da escolarização católica na Idade Moderna. Desta forma, o presente trabalho sustenta que as reformas religiosas construíram o nascimento da escolarização ocidental a partir de diferentes matrizes cristãs — protestantes e católica. Trata-se de um deslocamento histórico — no sentido foucaultiano — que faz emergir a escolarização no mundo ocidental, marcada pela disciplina moderna, que é materializada por dispositivos como o controle do tempo, o esquadrinhamento do espaço, a organização das forças, o clima de concorrência e de premiação discente e a ênfase nos castigos morais. Essa questão é lida em três obras histórico-sociológicas recentes publicadas na Europa e na América Latina, quais sejam: Produção da escola/produção da sociedade: Análise sócio-histórica de alguns momentos decisivos da evolução escolar no Ocidente, do sociólogo André Petitat; Arqueología de la escuela, dos sociólogos Julia Varela e Fernando Álvarez-Uría; e A invenção da sala de aula: Uma genealogia das formas de ensinar, dos historiadores Inés Dussel e Marcelo Caruso. Essa reflexão historiográfica, portanto, examina o surgimento da escolarização ocidental, procurando constatar elementos comuns de análise dos três livros, mas também perceber diferenças, especialmente aquelas vinculadas às fundamentações teóricas e aos recortes sócio-espaciais.The religious reforms of the 16th century served as the midwives of early modernity. At a time when the Iberian expansion was globalizing the continents, these reforms sparked religious wars and deeply fragmented the European landscape. This confessionalization of society led to the emergence of a more rationalized form of Christianity, represented by various Protestant churches and Tridentine Catholicism, particularly exemplified by the Society of Jesus. Diverging from medieval Christianity, Lutherans, Calvinists, and Anglicans invested in creating their own networks of educational institutions, sparking an unprecedented wave of schooling that aimed to solidify the religious practices of their followers. In response, the Catholic Church also equipped itself, establishing parish schools and, notably, a network of Jesuit colleges that spread throughout the Catholic regions of Europe, Asia, and the New World. In 1599, the Society of Jesus unified its educational es-tablishments with the institution of the Ratio Studiorum — a comprehensive set of Jesuit educational rules that became the foundational curriculum for Catholic schooling in the early modern period.This study argues that the religious reforms were instrumental in the birth of Western schooling, emerging from different Christian matrices — both Protestant and Catholic. This represents a historical shift — in the Foucauldian sense — that led to the rise of schooling in the Western world, characterized by modern discipline, manifested through mechanisms such as time control, spatial organization, the arrangement of forces, a climate of competition and student reward, and an emphasis on moral punishments. This issue is examined through three recent historical-sociological works published in Europe and Latin America: Produção da escola/produção da sociedade: Análise sócio-histórica de alguns momentos decisivos da evolução escolar no Ocidente by sociologist André Petitat; Arqueología de la escuelaby sociologists Julia Varela and Fernando Álvarez-Uría; and A invenção da sala de aula: Uma genealogia das formas de ensinar by historians Inés Dussel and Marcelo Caruso. This historio-graphical reflection examines the emergence of Western schooling, aiming to identify common analytical elements across these three books, while also noting differences, particularly those related to theoretical foundations and socio-spatial contexts.porReforma religiosaEscolarizaçãoJesuítaProtestanteReligious reformationSchoolingJesuitProtestantjournal article10.53943/ELCV.0124_119-136